Mercado Financeiro

Bolsa reduz a queda, após fala de Biden, e fecha com recuo de 0,37%; dólar sobe 2,02%

Saída de investidor estrangeiro de países emergentes pressionou o dólar e juros futuros

Data de publicação:24/02/2022 às 06:39 - Atualizado 3 anos atrás
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A Bolsa de Valores fechou em queda e o dólar em alta em dia que a Rússia invadiu e atacou a Ucrânia. O Ibovespa caiu 0,37% aos 111.591 no encerramento dos negócios, mas na mínima do dia, chegou a apresentar um recuo superior a 2,5%, ficando abaixo dos 110 mil pontos. Já o dólar, que ficou cotado a R$ 5,11, com alta de 2,02% no fim do dia, durante as negociações subiu foi negociado aos R$ 5,14. A maior alta da moeda nos últimos cinco meses, comenta Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos, mas nada perto das máximas de R$ 5,70 alcançadas anteriormente.

Essa reação era mesmo esperada diante do impacto das notícias de início de uma guerra entre os dois países e preocupações com os desdobramentos dela. No entanto, especialistas apostam que o mercado brasileiro poderá ser beneficiado por ser um importante hedge aos investidores contra a alta das commodities.

Como foi o dia da Bolsa

A cada nova informação do avanço das tropas russas sobre a capital Kiev, ou sobre a cidade de Chernobyl, conseguindo o controle sobre as usinas nucleares, os principais índices globais desabavam. A bolsa de Moscou fechou com queda de 33%. E o Índice Bovespa seguia o mesmo trajeto.

A queda do mercado de ações foi suavizada no meio da tarde com o pronunciamento do presidente americano, Joe Biden. Ele afirmou que não enviará tropas para defender a Ucrânia, mas o fará se qualquer país participante da Otan, daquela região, for invadido. Anunciou também novas sanções econômicas à Rússia, que consistem na ampliação de bloqueio de concessão de financiamento a mais quatro bancos russos e proibição de operações em moedas ocidentais.

Antônio Carlos Pedrolin, especialista em Renda Variável da Blue3 ressalta que o comportamento imediato dos mercados em todo o mundo foi de aversão ao risco pelos investidores, com quedas das bolsas internacionais, ao mesmo tempo em que as principais commodities operavam em alta. Especialmente o petróleo, que superou a marca de 100 dólares no mercado internacional.

A exemplo dos dias anteriores, esse movimento poderia ter beneficiado as ações de Petrobras, mas Pedrolin explica que nesta quinta-feira o fator macro, o do conflito internacional, superou o fator micro, o específico da empresa. As ações da petroleira, PETR4, fecharam em queda de 2,81%, principalmente pela perspectiva de pressões inflacionárias no curto prazo.

Nem mesmo os resultados satisfatórios divulgados na véspera conseguiram dar suporte ao papel, resslta Pedrolin. Petrobras apresentou um lucro de R$ 106,7 bilhões, com vendas acima das expectativas, e anunciou o pagamento de R$ 101 bi em dividendos. "O mercado recebeu com bons olhos esses números, mas o movimento macro se sobrepõe a qualquer movimento micro relativos à empresa", diz o especialista da Blue3.

Brasil beneficiado

Thomás Giubert, economista e sócio da Golden Investimentos, considera natural a queda da bolsa brasileira num primeiro momento, com os investidores reduzindo suas posições em risco. Em um segundo momento, no entanto, ele considera que o mercado brasileiro será beneficiado, por ser uma opção interessante para alocação de capital externo, entre os países emergentes. É um país de commodities, que exporta muito e, por isso, oferece hedge aos investidores.

Esse setor tende a ser beneficiado na bolsa. Ao mesmo tempo, a alta dessas commodities tende a alimentar e pressionar ainda mais a inflação, atingindo e penalizamdo setores de consumo, as companhias de varejo.

Carla Argenta, da CM Capital, destacou que a saída d o capital estrangeiro saindo de países emergentes, de maior risco, para países mais desenvolvidos e seguros pressionou o dólar e os juros futuros nos negócios desta quinta-feira. As taxas de juros abriram em toda a curva, tanto nos contratos de prazo mais curto, como os de prazo mais longo.

No entanto, ela ressalta que o Brasil se torna uma opção atrativa ao investidor estrangeiro. A leitura é que o Banco Central vai continuar subindo os juros para combater a inflação, ao mesmo tempo que o País sinaliza que tem cacife para pagar o aumento de sua dívida, ao apresentar recordes na arrecadação. Isso poderá representar a continuidade de entrada de recursos estrangeiros no curto prazo, o que pode sustentar a Bolsa e deprimir o dólar.

Em relação às consequências econômicas em nível mundial, em decorrência da guerra, Carla lembra que a Rússia é um grande exportador de commodities, é o maior exportador de petróleo do mundo. Em 2020, respondeu por mais de 11% do petróleo fornecido ao planeta. Portanto, qualquer redução de oferta em decorrência dos conflitos, tende a pressionar os preços da commodity ainda mais para cima.

Em relação à Ucrânia, que é o 4º maior exportador de milho do mundo, o conflito poderá provocar uma redução de produção e oferta do milho, que é usado também para fins energéticos.

Essa perspectiva de acirramento do conflito, de alta da inflação mundial, queda no crescimento econômico, por redução na oferta dessas commodities levou a uma queda generalizada das bolsas internacionais. Mas após a fala de Biden, os mercado se recuperaram e ainda fecharam no azul

Em Nova York, a Dow Jones subiu 0,28%, a S&P 500, 1,50%, e a Nasdaq, 3,34%

Nesses próximos dias, Lelis acredita que as tensões no Leste Europeu devem continuar provocando volatilidade nos mercados, especialmente com a represália dos demais países em relação à Rússia. Isso tende a aumentar o medo e a percepção de risco, quando investidores tendem a migrar para ações de empresas de valor, menos alavancadas e menos endividadas, ao mesmo tempo que pode pressionar as cotações do dólar para cima.

Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.