Bolsa tem dificuldade de reagir e cai 12% em junho, de mãos dadas com Vale e Petrobras; dólar sobe 11%; entenda as razões
Temor de recessão global, alta dos juros e queda das commodities compõem o pano de fundo
Apenas para zerar as perdas desta semana, a Bolsa de Valores teria de apresentar uma alta de 1,75% no pregão desta sexta-feira. Não se trata de uma tarefa simples para um mercado combalido após altas expressivas de juros, aqui e nos Estados Unidos, no último dia 15, e que de lá para cá não conseguiu mais se recompor.
Em junho, o Ibovespa perdeu a sustentação dos 100 mil pontos, fechou nesta quinta-feira aos 98.080, nível mais baixo desde novembro de 2020. Registra uma queda de 12% no mês, devolveu todo o ganho apresentado nos primeiros meses do ano e conta agora com desvalorizaçao de 6,45% em 2022. Na contramão, o dólar apresenta de 10,78% no mês
A B3 tem andado na mesma toada de incertezas que rondam as bolsas internacionais sobre a capacidade dos juros altos em frear a inflação global, que é persistente, ou, ao mesmo tempo, de gerar uma recessão nas principais economias.
Os recados dos bancos centrais têm sido de que os juros vão permanecer em níveis elevados e que a prioridade é segurar os preços em detrimento do crescimento econômico. Isso assombra os mercado de ações.
Além disso, as commodities começaram a ensaiar um movimento de queda diante de provável encolhimento da economia mundial. Esse é o principal pano de fundo que vem dando o compasso para as bolsas nesses últimos dias.
Risco fiscal e Petrobras ajudam a afundar a bolsa
No cenário doméstico, como se não bastasse, a situação se complica em torno do risco fiscal. Ora pelo corte de impostos sobre os combustíveis, o que poderia mostrar números da inflação mais baixos nesses meses que antecedem as eleições, mas estaria armando uma bomba fiscal a ser detonada já no próximo ano, ora pelos auxílios que estão sendo avaliados para os caminhoneiros, atingidos em cheio pelo diesel mais caro.
Não à toa, a Petrobras tem sido alvo frequente de críticas do presidente e de políticos, além de ameaças para mudanças na Lei das Estatais, de modo a criar brechas para alteração em sua política de preços, que segue a paridade internacional.
As ações da petroleira iniciaram o ano custando R$ 28,54. Mesmo com instabilidade no comando da empresa e troca de presidente, duas só este ano e quatro no governo Bolsonato, e risco constante de ingerência política, os papeis foram favorecidos pela valorização do petróleo internacional.
Há um mês, em 23 de maio, as PETR4 bateram o preço de R$ 36,20 e fecharam a R$ 26,49 o pregão desta quinta-feira. Derreteram 26,82% no período. Até porque nesses últimos dias não tem havido mais a sustentação dos preços internacionais do petróleo, que passaram a cair também diante da perspectiva de recessão.
As ações de outra gigante da B3 com forte influência no Ibovespa, da Vale, têm apanhado com a queda do minério de ferro no mercado internacional e a falta de consistência nos sinais de retomada da economia chinesa. Desde o fim de maio, a queda é de 16%.
A queda da renda variável e a alta do dólar
A seguir o gráfico feito a partir do 'Comparador de Ativos' da Mais Retorno com o comportamento dos ativos em um mês, desde o dia 23 de maio: enquanto o Ibovespa, Petrobras e Vale desenham a queda em sintonia, o dólar faz um movimento inverso e sobe.
Dólar sobe
A moeda americana vem se valorizando com a alta dos juros americanos e as cotações domésticas acompanham o movimento.
Embora apresentam uma alta de 10,78% em junho, no ano, o dólar ainda não recuperou os níveis do final de 2021, quando a cotação estava em R$ 5,57, e apresenta queda de 5,92% no ano.
A atratividade dos papeis da dívida americana têm atraído os recursos que estavam nos mercados emergentes, especialmente em ações. A saída desses recursos pressiona para cima os preços da moeda.