Gigantes de tecnologia registram lucro acima das estimativas nos EUA, mas podem desacelerar
As big techs americanas estão surpreendendo o mercado, mas o fim das medidas restritivas pode desacelerar o crescimento nos próximos balanços
Nesta temporada de balanços coorporativos, com as empresas apresentando seus resultados referentes ao segundo trimestre de 2021, o mercado tem se surpreendido com o desempenho das big techs americanas. As gigantes da tecnologia Apple, Google, Microsoft, Amazon, Facebook e Twitter já divulgaram seus números e o lucro de todas elas veio acima das estimativas do mercado.
Há cautela entre os especialistas, no entanto, para falar sobre as projeções para os próximos balanços trimestrais, considerando mudanças pela contenção da pandemia com uma possível volta do trabalho aos escritórios e fim das medidas restritivas de mobilidade.
Principais destaques entre as big techs
Uma das principais integrantes do mercado de telefones celulares, a Apple registrou um lucro líquido de R$ 21,74 bilhões, 28% acima dos cerca de R$ 17 bilhões esperados pelos analistas. O lucro por ação gerado foi de US$ 1,30. Enquanto isso, a receita da empresa veio 10,32% maior do que as estimativas, que ficaram em US$ 81,41 bilhões.
A companhia informou que seu resultado foi impulsionado por todos os seus segmentos. Entretanto, a venda de iPhones se destacou, crescendo mais de 50% em relação ao mesmo trimestre de 2020. O CEO da big tech afirmou que a crise global de semicondutores teve um impacto menor que o projetado para a Apple, afetando apenas a fabricação de iPads e Macs.
Outra gigante que surpreendeu o mercado foi a Google. Com um faturamento de R$ 50,95 bilhões, 11% acima dos US$ 46,08 bilhões estimados, a empresa se beneficiou de um aumento acentuado de 69% das receitas advindas dos anúncios digitais. A retomada do varejo também contribuiu, com companhias ligadas especialmente ao turismo, entretenimento e serviços financeiros buscando espaços para anunciar na plataforma.
Já em relação ao lucro líquido, a Google registrou um número 7,16% maior do que as projeções: US$ 16,78 bilhões, gerando lucro por ação de US$ 23,80.
Por fim, a "ovelha negra das redes sociais" (em termos de monetização), a Twitter, também superou as estimativas. No segundo trimestre de 2021, a empresa conseguiu reverter o prejuízo de US$ 1,378 bilhão do mesmo período do ano passado, registrando um lucro líquido de US$ 66 milhões e uma receita de US$ 1,19 bilhão. O lucro por ação, que era esperado em US$ 0,07 por analistas ouvidos pelo FactSet, ficou em US$ 0,08.
Em relação ao número de usuários ativos diários monetizáveis, a rede social registrou 206 milhões, crescimento de 11% comparado ao trimestre anterior. No mesmo trimestre de 2020, esse número era de 186 milhões.
Empresas que não impressionaram
Embora Microsoft, Amazon e Facebook também tenham registrado lucro acima das expectativas, os números revelados pelas empresas não impressionaram o mercado tanto quanto as outras big techs.
A criadora do Windows teve um desempenho positivo, com uma receita de US$ 46,15 bilhões, valor 4,26% maior do que o que era esperado. O lucro por ação foi de US$ 2,13, advindo de um lucro líquido US$ 16,46 bilhões.
De acordo com relatório da XP Investimentos, "o maior catalisador de crescimento da companhia segue sendo o seu serviços de nuvem, o Azure, que cresceu 51% ano contra ano, seguido por aplicativos de produtividade e negócios e computação pessoal, com crescimentos de 25% e 9%, respectivamente."
A Microsoft já adiantou, no entanto, uma depreciação de US$ 2,7 bilhões no ano fiscal de 2022, "devido a uma alteração de estimativas contábeis para a depreciação de servidores e equipamentos de rede", explica a XP.
Ao mesmo tempo, a Amazon, empresa de Jeff Bezos, mesmo tendo registrado um lucro líquido acima das expectativas, de US$ 7,78 bilhões, teve uma receita 2% abaixo do esperado. A companhia acumulou pouco mais de US$ 113 bilhões em vendas líquidas no segundo trimestre. Enquanto isso, a previsão apontava para receita de US$ 115,4 bilhões.
Já o Facebook, gigante das redes sociais, viu suas ações despencando 3,45% no período pós-mercado de Nova York nesta quarta-feira, 28, ainda que tenha superado as estimativas dos analistas. A receita da empresa foi de US$ 29,08 bilhões, 4,38% acima dos US$ 27,86 projetados pelo mercado, e o lucro líquido de US$ 10,39 bilhões ante os US$ 10,21 esperados pelos especialistas.
O descontentamento dos investidores pode ser explicado em parte por uma quebra de expectativas de um resultado mais relevante do Facebook, tendo em vista o desempenho do Twitter no trimestre. Além disso, a empresa informou que espera uma desaceleração no crescimento nos próximos meses.
Os próximos trimestres das big techs
Além do Facebook e com exceção do Google e do Twitter, todas as outras gigantes da tecnologia sinalizaram que esperam uma desaceleração a partir dos próximos trimestres.
A Apple informou que a redução pode ser motivada pela própria desaceleração do segmento, além de problemas na cadeia de suprimentos e variações menos favoráveis no câmbio.
A Microsoft, por sua vez, além de já haver adiantado a depreciação no ano fiscal de 2022, também tem em conta o fim das medidas restritivas. Segundo a empresa, a economia de US$ 1,2 bilhão em despesas operacionais alcançada com a pandemia não deve ser uma realidade no próximo ano.
A Amazon também falou sobre as suas estimativas para o desempenho do terceiro trimestre. A varejista prevê receita operacional entre US$ 2,5 bilhões e US$ 6,0 bilhões, abaixo dos US$ 6,2 bilhões do mesmo período de 2020.
Vírgilio Lage, da Valor Investimentos, explica que a retomada econômica e a volta às atividades presenciais pode reduzir a demanda pelo setor de tecnologia. Em contrapartida, o interesse do consumidor, que antes precisava dos serviços e produtos das big techs para viver durante a pandemia, deve se voltar ao varejo físico. Essa situação se confirma, inclusive, pelo aumento do interesse de empresas varejistas de ter seus anúncios no Google.
"Para esse período que passou, a avaliação é bem positiva. Entretanto, para os próximos meses e semestres, a gente tem uma cautela em relação a verificar se esses balanços serão iguais ou se terá uma redução no lucro dessas empresas", finaliza Lage.