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Até onde Magalu poderá se beneficiar da recuperação judicial das Lojas Americanas?

Magazine Luiza seria a herdeira de fatia maior de Americanas, mas juros elevados podem estragar a festa

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Data de publicação:20/01/2023 às 08:00 - Atualizado um ano atrás
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Até que ponto a Magazine Luiza (MGLU3) poderá beneficiar-se da crise das Lojas Americanas? Colocada em suspeição e sob pressão de todos os lados, depois que o ex-presidente da empresa, Sergio Rial, anunciou bilionárias inconsistências fiscais, a varejista entrou com pedido de recuperação judicial nesta quinta-feira, 19, e abre espaço para uma disputa mais acirrada de sites concorrentes.

Para alguns especialistas, seria prematuro avaliar o impacto final do episódio Americanas sobre as demais concorrentes do varejo. Outros afirmam que três ou quatro gigantes do setor podem ser beneficiados com o baque financeiro da varejista, dos quais a Magalu estaria mais credenciada a herdar fatia maior de mercado deixado pela Americanas.

Para João Daronco, analista da Suno Research, “neste primeiro momento, diria que tem um concorrente a menos no mercado”, analisa.

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, afirma que “quando uma empresa que tinha uma pegada de competitividade muito alta, como a Americanas, desfoca ou fica com menos competitividade, as demais empresas do setor, quatro ou cinco no varejo brasileiro, são beneficiadas”, afirma Soares.

O ponto principal, nesse caso, é o market share, aponta.  “Todas as outras empresas do setor varejista devem ter aumento de market share, em detrimento da dimensão do market share das Americanas”, acredita.

A movimentação na Bolsa, observa o analista de ações, já adiantou o componente de vantagem que as demais devem ter sobre a Americanas, com o aumento de market share. E a perspectiva que a Bolsa vem adiantando é uma tendência favorável a Magalu.

Abaixo, no gráfico, está o desempenho de Magalu (+ 37,45%), Lojas Americanas (-80,73) e Ibovespa (+5,50) no período de 1° a 18 de janeiro deste ano. Mas com a queda desta quinta-feira, a desvalorização é ainda maior de Americanas, de 89,64%.

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“Desde a semana passada, quando o rombo contábil da Americanas apareceu, houve uma alta na casa de 35% a 40% de Magalu, a Via também teve alta relevante, ainda que menos expressiva, perto de 15%”, descreve o chefe de análise de ações da Órama. “São empresas que têm muito a ganhar em market share, há espaço importante a ser conquistado.”

Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, diz que todas as empresas do varejo, de forma geral, sofreram com o episódio da Americanas. Mas ele acredita que, em uma disputa pela fatia de mercado deixada por quebra de Americanas, o prato da balança de competitividade tenderia a pender para a Magalu.

“A Magazine Luiza tende a ser, dentre as varejistas, a mais beneficiada, porque é uma empresa que está mais capitalizada, conseguiu focar mais e absorver essa clientela que deixaria de comprar com as Lojas Americanas, com a BW2 de forma geral”, analisa Meira.

O especialista afirma que a Magalu poderá se beneficiar da crise das Americanas, mas seria prematuro adiantar análises sobre os todos os desdobramentos do episódio. 

“A Magalu sempre foi uma empresa bem gerenciada, que saiu na frente em inovação, na relação com os consumidores”, comenta Erik Sala, especialista de investimentos DVinvest. Ele acredita que cada uma das varejistas do ambiente de e-commerce brasileiro, como Mercado Livre, Via, tendem a ganhar também em market share, em função de problemas recentes da Americanas, “mas com a Magalu em vantagem”.

Peso dos juros conta na competitividade

Especialistas avaliam que a conquista de fatia de mercado, no vácuo de Americanas, pode não ser condição suficiente para impulsionar Magalu.

“O varejo é um setor em que várias empresas, como Americanas, Magalu, Via, estão sofrendo com despesas financeiras elevadas em um ambiente de juros altos”, aponta Erik Sala, especialista de Investimentos DVinvest.  “Esse é, de forma geral, o pano de fundo do varejo, no momento.”

Quem tem uma visão mais cautelosa com Magazine Luiza também é João Daronco, analista da Suno Research. “Magalu deve ter um 2023 ainda difícil, não tanto quanto 2022, já que houve arrefecimento da inflação, que tira a pressão  de custos da empresa”, analisa.

A questão é que 2023 vai rodar ainda com taxas de juro bastante elevadas, “que acabam por impactar a demanda pelos produtos da Magalu”.  Outro ponto, destaca o analista, “é a concorrência, que segue no calcanhar da empresa e deve ser monitorada de perto”.

Victor Paganini, analista de investimentos da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, diz que a perspectiva de ampliação da participação de mercado é positiva para a Magazine Luiza, mas deve ser acompanhada com uma visão macroeconômica.

E essa análise, tanto do ponto de vista doméstico quanto externo, não autoriza perspectiva alentadora. Ponto principal é o comportamento dos juros, que impacta diretamente o setor de varejo, afirma Paganini.

O desempenho do segmento, aponta, vai depender das decisões de política monetária, do rumo dos juros, cuja tendência de queda esperada para este ano ainda é uma incerteza, do reaquecimento da economia, dentre outros fatores. Para ficar só nos domésticos.

“Os juros altos continuam depreciando os preços, o valuation dos ativos. É complicado ter uma perspectiva positiva para o setor de varejo este ano”, avalia o analista de investimentos da Quantzed.

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Sobre o autor
Tom Repórter da Mais Retorno