Ata do Fed, petróleo e CPI estão no radar do mercado nesta 4ª feira
A atenção do mercado financeiro estará dividida nesta quarta-feira, 19, entre dois eventos, um internacional e outro doméstico. O principal foco, no exterior, é a divulgação…
A atenção do mercado financeiro estará dividida nesta quarta-feira, 19, entre dois eventos, um internacional e outro doméstico. O principal foco, no exterior, é a divulgação - às 16h, horário de Brasília - da ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
O interesse pelo documento aumentou após a arrancada da inflação americana em abril, o que levou o mercado financeiro a temer uma elevação dos juros, uma possibilidade que poderia vir sinalizada na ata que o Fed divulga hoje.
Outro dado que será conhecido hoje nos EUA e pode dar melhor ideia do ritmo da economia americana é o referente ao estoque de petróleo bruto. A expectativa de especialistas é que venha em linha com a retomada da economia americana pós-abertura.
Quer dizer, se o nível de estoque vier mais baixo que o esperado seria indicação de ritmo mais forte da atividade e possível pressão sobre a inflação, o que poderia reforçar a perspectiva de que os juros subam em prazo mais curto nos EUA.
CPI da Covid: depoimento de Pazuello
No cenário doméstico, a CPI da Covid, que vinha recebendo uma atenção apenas marginal do mercado financeiro, na forma de monitoramento, tem um dia de forte expectativa com o depoimento do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, perante a comissão do Senado.
O general Pazuello ganhou o direito de permanecer calado às perguntas que criem provas contra si, por decisão do STF, mas está obrigado a responder a outras que se refiram às demais pessoas envolvidas na ação ou omissão de combate ao coronavírus, inclusive ao presidente Bolsonaro. Declarações que possam complicar a situação do presidente tendem a elevar a temperatura no cenário político e mexer com o mercado.
Na véspera, a oitiva do ex-chanceler Ernesto Araújo terminou após sete horas de depoimento à comissão da Covid no Senado.
Apesar da defesa das ações do governo federal durante a pandemia da covid-19, o testemunho do ex-ministro das Relações Exteriores foi marcado pelo apontamento, repetidas vezes, de que as ações do Itamaraty estiveram vinculadas às orientações do Ministério da Saúde.
Entre os pontos levantados por Araújo e que devem servir de base para os questionamentos a Pazuello está a letargia do governo brasileiro em conseguir acesso a insumos para conter a grave crise sanitária registrada em Manaus (AM) no início deste ano.
Araújo também descartou que durante sua gestão no ministério tenha havido dificuldades nas negociações com a China em razão de qualquer hostilidade dirigida ao país oriental.
O ex-ministro das Relações Exteriores também negou que os atrasos para importação de insumos ao Brasil vindos da China aconteçam por razões políticas. No início do mês, o presidente Jair Bolsonaro insinuou que o coronavírus tenha surgido como parte de uma "guerra química".
Em seu testemunho, Araújo também afirmou que a Casa Branca procurou "discretamente" as representações brasileiras em Washington (EUA) para a "alocação de doses excedentes" de vacinas contra a covid-19.
O motivo da discrição, segundo Araújo, era para evitar "uma discussão mundial" sobre os países que poderiam receber ou não os imunizantes.
Na próxima quinta-feira, 20, será a vez da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como 'capitã cloroquina', depois no Senado.
Na última terça-feira, seguindo a mesma estratégia de Pazuello, Mayra entrou com um pedido no Supremo Tribunal Federal para ficar em silêncio durante sua participação na CPI.
No entanto, o ministro Ricardo Lewandowski negou o salvo-conduto por ela não ser alvo de investigação relacionada aos fatos apurados na comissão.
MP Eletrobras: proposta na plenária
Outro tema que deve chamar a atenção dos investidores é a Medida Provisória que permite a privatização da Eletrobras. De acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira, a proposta deve ser pautada na sessão plenária desta quarta-feira.
"A Medida Provisória estará na pauta de amanhã, pelo acordo que foi feito com o Senado", afirmou Lira, em resposta a uma reclamação do deputado Danilo Cabral, que disse ainda não ter tido acesso ao relatório. "Não podemos fazer um debate estratégico para o País a toque de caixa", disse Cabral.
O relator da Medida Provisória, deputado Elmar Nascimento, disse que seu parecer não é perfeito e poderá receber aperfeiçoamentos na votação na Câmara e no Senado.
"Não temos a soberba de entender que nosso texto seja perfeito. Claro que pode passar por aperfeiçoamentos durante a votação, com emendas de plenário, e tenho certeza de que o Senado haverá de aprimorar, para depois a Câmara ratificar o que for melhorado no Senado", afirmou.
NY: futuros em baixa
Os contratos futuros negociados em Nova York operam em baixa nesta quarta-feira, com os investidores em compasso de espera com a divulgação da ata da última reunião do Fomc.
O temor é de que a inflação acima da meta de 2% não seja um fato temporário e acabe levando o Fed a modificar sua política monetária, dificultando o cenário para ações que tendem a ter bons ganhos com taxas de juros mais baixas.
Segundo a última pesquisa realizada pelo Bank of America (BofA), a inflação encabeçou a lista dos maiores riscos de cauda, seguida por uma crise no mercado de títulos e bolhas de ativos. Já a covid-19 ficou em quarto lugar.
Na véspera, o Dow Jones encerrou em baixa de 0,78%, aos 34.060,66 pontos, enquanto o S&P 500 caiu 0,85%, aos 4.127,83 pontos, e o Nasdaq recuou 0,56%, aos 13.303,64 pontos, pressionado com ajustes de posição ao final do pregão, depois de ter operado no terreno positivo no começo do dia.
Sobre a possibilidade de reação do Fed à alta da inflação, o chefe de estratégia de mercado da Mediolanum International Funds, Brian O'Reilly, diz que "esse sempre foi o principal risco: os BCs retiraram a tigela de liquidez antes do fim da festa".
A inflação entre 2% e 4% pode ser o "ponto ideal" para as ações, avalia O'Reilly. Ele pondera que a alta de preços não é necessariamente negativa a todos os setores. A recuperação econômica deve continuar beneficiando ações como as de bancos, bem como empresas de viagens e lazer, que são sensíveis à reabertura.
Mas empresas com balanços sólidos e capacidade de aumentar os preços, como as farmacêuticas e fabricantes de produtos domésticos, também devem se sair bem, aponta. Na véspera, após dados mostrarem que as construções de moradias iniciadas nos EUA recuaram bem mais do que o esperado em abril, as ações foram pressionadas.
Bolsas asiáticas fecham em queda
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam majoritariamente em baixa nesta quarta-feira, seguindo o fraco desempenho de Wall Street na véspera, em meio a renovadas preocupações com o avanço mundial da inflação, que pode forçar grandes bancos centrais a retirar medidas de estímulo mais cedo do que se imaginava.
O índice acionário japonês Nikkei caiu 1,28% em Tóquio, aos 28.044,45 pontos, enquanto o Xangai Composto - o principal da China - recuou 0,51%, aos 3.510,96 pontos, e o Taiex registrou leve perda de 0,08% em Taiwan, aos 16.132,66 pontos. Os mercados de Hong Kong e da Coreia do Sul não operaram hoje devido a feriados.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no vermelho, com queda de 1,90% do S&P/ASX 200, aos 6.931,70 pontos, influenciada principalmente por ações de mineradoras e petrolíferas.
No dia anterior, as bolsas de Nova York caíram de forma generalizada pelo segundo pregão consecutivo, refletindo temores de que pressões inflacionárias possam levar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a apertar sua política monetária antes do esperado.
A exceção na região asiática hoje foi o Shenzhen Composto - índice chinês formado por empresas de menor valor de mercado -, que garantiu modesta alta de 0,14%, aos 2.327,46 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado