Análise: inflação de 2021 alcançou os dois dígitos e, infelizmente, vai continuar subindo
Avanço do indicador acontecerá mesmo que o Brasil tenha solucionado problemas orçamentários e crises políticas
O Banco Central do Brasil vem reajustado para cima as expectativas do mercado para a inflação desde o que começo do ano. Da primeira semana do ano até hoje, já foram 45 reajustes para o IPCA de 2021, o indicador oficial para a inflação, no relatório Focus.
Divulgado toda a segunda-feira, o Focus é um compilado das projeções dos economistas que atuam no mercado financeiro. Começou o ano com a inflação em 3,34% e subiu até o atual patamar, com o Focus desta segunda-feira, 22, levando a inflação para 10,12%, pela primeira vez em dois dígitos.
Houve uma única semana em todo o ano de 2021 em que o BC não subiu o IPCA. Foi no começo de abril, quando ficou estável em 4,81% ao ano. O levantamento foi realizado por Júlia Zillig, repórter da Mais Retorno.
Na divulgação desta segunda-feira, chama a atenção também a projeção de 2022, praticamente tocando o teto da meta de 5% (a mediana das projeções está em 4,96%).
Por essas e por outras, nesta semana, para além dos Focus, todo os olhos vão se voltar para a divulgação do IPCA-15, a prévia da inflação para novembro, que será apresentada na quinta-feira, 25.
A comunicação pode consolidar apostas mais agressivas para a alta de juros na reunião do Copom de dezembro. Copom este que, no fim da história, vai aumentar a taxa de juros mais uma vez, mas infelizmente não conseguirá controlar o repique do IPCA.
E a má notícia de hoje é esta: a inflação vai continuar subindo nas próximas semanas e também no ano que vem. E isso acontecerá mesmo que o Brasil, como num passe de mágica, retire do caminho todas as suas cascas da banana, representadas por bombas orçamentárias e crises políticas que afetam o equilíbrio monetário e fiscal, minando a confiança dos investidores.
Internacional
O problema da inflação não é somente brasileiro, é também mundial. Os preços pelo mundo somente deverão arrefecer lá por meados do ano que vem, quando, a exemplo do que vem acontecendo nas economias emergentes, os bancos centrais dos países ricos começarem a subir os juros.
Tome como exemplo o Reino Unido. A inflação ao consumidor divulgada na semana passada cresceu 4,2% na comparação com o ano anterior, o patamar mais alto desde novembro de 2011 - há 10 anos!
Nos Estados Unidos, o índice de preços atingiu seu nível mais alto em 31 anos, em outubro, com a alta de 6,2% nos preços dos bens e serviços em relação ao mesmo período do ano passado.
Os consumidores norte-americanos estão pagando mais caro pelos itens de supermercado, gasolina e presentes de fim de ano. Mas, turbinados por pacotes econômicos, que inundam a economia de lá com muito dinheiro, muitos continuam vivendo e gastando como se nada estivesse acontecendo.
Os motivos para a inflação mundial passam pela forte desorganização das cadeias produtivas, após dois anos de pandemia.
A indústria sofre com a escassez de semicondutores, componente hoje chave para a produção de eletroeletrônicos e automóveis. Há também um gargalo no transporte internacional, com os fretes custando até 13 vezes mais que no pré-pandemia. E a falta de mão de obra, pressionando salários e custos de operação.