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Economia

Entenda o novo contexto e como investir no mundo pós-pandemia

Uma edição recente da revista inglesa The Economist destacou, como reportagem de capa, a nova ordem na economia global, frente a um mundo pós-pandemia. Tão importante…

Data de publicação:06/08/2020 às 09:00 -
Atualizado 3 anos atrás
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Uma edição recente da revista inglesa The Economist destacou, como reportagem de capa, a nova ordem na economia global, frente a um mundo pós-pandemia.

Tão importante quanto o movimento que enterrou o Keynesianismo na década de 70 e aquele que concedeu a independência aos bancos centrais 20 anos depois, a pandemia trouxe consigo novos desafios à gestão de recursos, começando pela maior participação do Estado na economia e no mercado financeiro de um modo geral.

Admirável mundo novo

A partir de agora em um mundo pós-pandemia, as economias de vários países funcionarão em função de quatro fatores:

Endividamento público

O primeiro deles é o endividamento público em grandes proporções. Algo em torno de 17% do PIB (pouco mais de US$ 4 trilhões) é o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que as principais economias do mundo gastarão entre os mais diversos pacotes de estímulo.

Impressão de dinheiro

Os bancos centrais, por sua vez, criaram um valor equivalente em reservas (o que se chama de “impressão de dinheiro”) para comprar títulos do governo, o que mostra que são eles que estão efetivamente financiando esses gastos. O resultado disso é que os juros podem ficar em níveis bastante baixos, mesmo quando os governos se endividam bastante.

Compra de títulos privados

Com as mesmas reservas recém-criadas, esses bancos centrais também assumiram um papel que antes cabia aos gestores de fundos.

Explicando melhor: ao longo da crise, o Fed (banco central norte-americano) passou a comprar títulos emitidos por empresas do porte da Apple, de forma que tanto o Tesouro como a autoridade monetária terminaram abocanhando nada menos do que 11% de toda a dívida corporativa dos EUA.

Nesse exato momento de pandemia, outros países estão fazendo o mesmo.

Baixa inflação

Uma inflação persistentemente baixa exclui qualquer possibilidade de aumento das taxas de juros o que, consequentemente, elimina maiores preocupações com a relação dívida/PIB. Por conta disso, a emissão de dívida se torna relativamente barata, independentemente de quanto dessa dívida já esteja circulando no mercado.

Novo contexto

Mesmo que se encontre a cura para a doença até o ano que vem, é fato que outros elementos já se manifestavam muito antes da pandemia chegar.

Haja vista os baixos índices de inflação e taxa de juros que dominavam o cenário internacional em anos anteriores, medidas consideradas como emergenciais, como o alto endividamento público e a impressão de dinheiro por bancos centrais, podem se tornar políticas públicas permanentes.

Isso não é de todo ruim pois o endividamento barato traz algumas vantagens para o Estado como, por exemplo, impulsionar a infraestrutura para atacar outros problemas que estão batendo à porta, como a mudança climática.

Por outro lado, essa nova função dos bancos centrais muda a dinâmica dos mercados. Se antes eles eram os emprestadores de última instância dos bancos, agora eles assumem o papel de formadores de mercado ao comprarem diretamente ativos negociados no mercado de capitais.

Como resultado, se tornaram vulneráveis a grupos de interesse, dado que possuem discricionaridade sobre os ativos que podem adquirir. Ao decidirem quais títulos colocam na certeira, excluem papéis de outras empresas.

Sem juros

Esse processo mina a própria independência das autoridades monetárias, que antes contavam praticamente com uma única ferramenta da política monetária (a calibragem dos juros básicos da economia) para induzir ou retirar estímulos, obedecendo à natureza dos ciclos econômicos.

Sem margem para tal recurso hoje, dado que as taxas estão bem próximas de “zero”, os banqueiros centrais agora se limitarão à gestão de uma enorme quantidade de dívida para os seus respectivos governos. Isso faz uma diferença brutal para o investidor comum.

Diante de tudo o que foi exposto, seria ingênuo imaginar que alguém pode investir sozinho no meio de uma mudança que muitos gestores de fundos identificam como ocorrendo uma vez a cada geração.

Dada a complexidade dos novos tempos, principalmente em cenários mundiais frente À uma pandemia, nada melhor do que um olhar profissional.

Bridgewater Associates

A Bridgewater Associates de Ray Dalio, com US$ 138 bilhões em ativos sob gestão, bate na tecla da diversificação.

Um grupo entre 10 e 15 ativos de qualidade, não correlacionados e distribuídos entre países, moedas e tipos (classes) de ativos seria o ideal, jogando definitivamente por terra o mito do “melhor investimento”. Trata-se de uma estratégia exige bastante em termos de recursos.

De acordo com o gestor, a carteira para momentos de crise teria:

  • Uma parte em ouro: pela sua liquidez e como proteção contra a perda de valor do dólar no mercado internacional, em função dos motivos citados anteriormente;
  • O restante em ações: multinacionais com negócios já consolidados e cujas ações são transacionadas nas principais praças financeiras do mundo.

Isso evitaria as situações em que os valores investidos ficam retidos, à exemplo do controle de capitais adotado por muitos países emergentes quando enfrentam dificuldades financeiras.

Citando uma analogia feita pelo próprio Ray, nesses casos, os países simplesmente “fecham a porta” e desvalorizam as suas moedas, trazendo perdas a todos os investidores. Portanto, é fundamental estar alocado em outros mercados, evitando assim a concentração no mercado doméstico.

Em linhas gerais, uma boa gestão de recursos passa pela observação dos fluxos de capitais e de seus respectivos impactos nos preços dos ativos, definindo a composição de uma carteira ótima em função de 2 perguntas:

  • Seu investimento pode ser transferido para outro lugar? Isso obviamente elimina os imóveis;
  • O ativo em questão se sai bem em qualquer cenário ou apenas nos anos de crescimento?

Apesar de bastante esclarecedor, isso ainda pode não ser suficiente.

Oaktree Capital Management

O investidor Howard Marks é outro nome de peso no setor, com mais de US$ 100 bilhões em ativos sob gestão. Do seu ponto de vista, por mais que os mercados ao redor do mundo tenham se valorizado, ainda não se resolveu o principal problema, dado que não existe uma cura para o vírus.

Portanto, ainda paira uma grande incerteza no ar. Isso traz riscos para os países emergentes que, nos últimos 15 anos, se alavancaram em dólar de forma relativamente fácil. Com a menor atividade global e menos receitas de exportação, eles podem enfrentar dificuldades para honrar os seus compromissos externos.

Marks vai além. Mesmo em economias saudáveis, o que determina a atratividade de um investimento não é se a expectativa para um determinado negócio é boa, mas se ele está sendo precificado a um valor menor do que deveria ser.

Dito de outra forma, uma empresa pode ter problemas operacionais mas, ao mesmo tempo,  contar com ativos valiosos, o que traz à mente a diferença entre preço e valor. Não por acaso, a Oaktree ganhou muito dinheiro comprando empresas problemáticas.

A verdade é que, apesar da alta recente, as bolsas de valores mundo afora apresentam uma certa assimetria. Não possuem muito fôlego para subir, mas podem cair de forma significativa se não houver uma vacina em breve ou se a recuperação econômica levar mais tempo que o esperado.

Isso mostra a importância do sangue frio, algo difícil de se fazer quando o pequeno investidor toma para si a tarefa de aplicar o seu próprio dinheiro. Como ocorre na grande maioria das vezes, ele comprará na alta para inevitavelmente vender na baixa.

Conclusão

Ao se olhar para o passado, percebe-se que o mundo sofreu alterações importantes: a década de 30 combateu depressões, a década de 70 lidou com a estagflação e a década de 90 poupou os bancos centrais de abusos políticos.

No pós-pandemia, quatro fatores se mostram como predominantes: um endividamento público em grandes proporções, baixas taxas de juros, uma maior participação dos bancos centrais no mercado de capitais e baixa inflação.

Nesse cenário, obter retorno se tornou mais complexo, visto que o simples mecanismo da calibragem da taxa de juros deixou de definir os preços dos ativos.

A melhor estratégia é diversificar. Porém, ela não é para qualquer um, dado que exige uma carteira com algo em torno de 10 a 15 ativos distribuídos por diferentes países, moedas e classes de ativos. Por conta disso, vale mais a pena entregar os recursos para gestores que podem gerar resultados diferenciados no futuro.

Ter ciência daquilo que não se sabe é o que introduz o conceito de risco no mundo dos investimentos. Portanto, nos momentos de grande incerteza, deve-se adotar a cautela. Ao contrário do que todo mundo imagina, não existe um algoritmo mágico que automaticamente leve à riqueza.

Isso é o que faz o processo de investir ser tão desafiador, dado que a “mágica” depende da avaliação de cada um na hora de decidir o que comprar ou vender:

“A riqueza não é destruída, apenas deslocada.”

Ray Dalio

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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