Volta do BNDES? ARX, JGP, Sparta e XP Asset opinam sobre impacto no mercado de crédito privado
Com a possibilidade do retorno de financiamentos em maior volume por parte do BNDES, veja visões gestores da ARX, JGP, Sparta e XP Asset sobre possível impacto em fundos de debêntures incentivadas
Tradicionalmente, a presença forte do BNDES mitiga a capacidade de emissão de debêntures incentivadas, diz relatório recente do Research da XP, com participação das gestoras ARX, JGP, Sparta e XP Asset.
A perspectiva de uma retomada de financiamentos por parte do banco público, pode diminuir o espaço para papéis privados, entende a corretora.
Sobre o impacto da chamada “volta” do BNDES, os analistas do Research da XP entendem que alguns pontos protegem o mercado de renda fixa privado. Entre eles, estão o foco em pequenos e médios empresários por parte do banco estatal e a chamada “diversificação de funding”, com atuação conjunta com mercado de capitais.
Ainda assim, algumas atividades podem ter seu financiamento privado afetado por uma maior presença do BNDES, o que é esperado pela corretora em razão de demonstração de interesse por parte do governo.
"De maneira resumida, entendemos que uma retomada do BNDES pode, sim, afetar o tamanho do mercado de crédito privado voltado à infraestrutura e outras atividades que são foco do banco de
fomento (agropecuária, por exemplo)", entende a XP.
Visão de gestores
Entre as gestoras destacadas no relatório da XP, estão ARX, JGP, Sparta e XP Asset. Todas possuem fundos de debêntures incentivadas e comentaram o possível impacto do retorno de financiamentos em maior volume do BNDES.
Entre os pontos mencionados, estão também a possibilidade de realização de parcerias entre o banco público e o mercado de capitais para obras de maior potencial, como a privatização da CEDAE.
ARX
Para a ARX, que possui fundos distribuídos em estratégias de Renda Fixa, Macro, Crédito Privado, Equity Hedge, Long & Short e Ações Long Only, ainda é díficil entender qual será o escopo do BNDES atualmente.
A gestora lançou, em março de 2019, o fundo ARX Elbrus Advisory com foco em debêntures incentivadas. O fundo tem aplicação mínima de R$500,00, com liquidação e cotização em D+31.
De acordo com a XP, o movimento de deflação gerou resultados mais fracos para debêntures de infraestrutura e esses chamados “desafios da classe em 2022” explicam a performance abaixo do benchmark do fundo.
En relação a um possível fortalecimento do BNDES e o impacto que poderia trazer para o mercado de crédito, a gestora acredita que o mercado de capitais apresenta desenvolvimento suficiente para que empresas possam acessar dívidas mais longas.
Entendem também que é possível que o acesso se dê com custos competitivos.
Para a AXR, isso faria com que não houve mais necessidade “desse papel desenvolvimentista do BNDES”. Contudo, reconhecem que para projetos de maior porte, como a privatização da CEDAE, a atuação conjunta do banco público com o mercado de capitais seria necessária.
“Apesar de reconhecer o risco de uma atuação mais forte do BNDES no financiamento da infraestrutura como foi no passado, o time de gestão vê como improvável. Caso isso aconteça, o resultado seria uma compressão dos spreads de mercado atualmente praticados, o que seria positivo para a performance dos fundos de infraestrutura no curto prazo. No entanto, de acordo com a ARX, a longo prazo seria ruim, pois estaríamos acessando ativos com risco de crédito a prêmios menores”, expõe o relatório sobre a visão da ARX.
JGP
Uma das gestoras mais tradicionais da indústria de fundos brasileira, a JGP lançou em julho de 2021 o fundo JGP Debêntures Incentivadas Juros Reais. O fundo tem como foco uma carteira diversificada de debêntures com rating superior a BBB.
Os ativos, predominantemente indexados ao IPCA, financiam setores de energia elétrica, rodovias, portos e óleo e gás.
“Até o mês de julho de 2023, o fundo tem liberdade para alocar 33% do patrimônio investido em ativos CDI+, possibilitando a alocação em ativos com carrego mais elevado, além de oferecer maior proteção contra abertura das NTN-Bs. Dessa forma, a estratégia tem apresentado maior resiliência se comparado ao índice e demais fundos da classe", expõe o relatório da XP.
Em relação ao BNDES, a JGP acredita ser “improvável a volta da atuação como conhecemos até meados de 2015, diante das prioridades do novo governo”.
Ainda, entendem que não devem acontecer grandes conflitos com mercado de capitais, uma vez que o crédito subsidiado deve ser direcionado para pequenas e médias empresas.
Sobre a atual redução do volume de emissões no mercado primário, a gestora relaciona ao atual ciclo de crédito e não a uma eventual atividade do BNDES.
“Os eventos adversos observados em grandes empresas com elevado rating, somados aos resgates expressivos nos fundos de renda fixa, resultaram na abertura de spreads de praticamente todos os ativos. Dessa forma, o custo excessivo para novas emissões e o ambiente desfavorável para novas ofertas, inibiram a atividade primária", diz a JGP.
Na visão da gestora, há muito espaço para crescimento do mercado de crédito no Brasil, em especial considerando o segmento de Infraestrutura.
De acordo com dados da ABDID, expostos pela gestora, apenas com investimentos correspondentes a 4,3% do PIB ao longo de 10 anos seria possível reduzir o gargalo no desenvolvimento econômico e social do Brasil. Para a JGP, este hiato pode ser reduzido com investimentos tanto públicos quanto privados.
Sparta
A Sparta, fundada em 1993, teve seus movimentos iniciais voltados para fundos multimercados mas, ao longo dos anos, se especializou em seu foco atual: fundos de renda fixa de crédito privado.
Em janeiro de 2021, a Sparta, que hoje conta com R$ 6 bilhões sob gestão, lançou o fundo Sparta Debêntures Incentivadas Inflação. O portfólio é composto por ativos com rating superior a BBB, que investem em grandes projetos de infraestrutura.
Os ativos escolhidos pelo Sparta Debêntures Incentivadas Inflação são, em sua maioria, indexados ao IMA-B 5, o que visa reduzir a volatilidade da estratégia.
Há, também, a possibilidade de acesso à versão do fundo com hedge, através de outro fundo da gestora, o Sparta Debêntures Incentivadas.
Sobre o BNDES, a gestora pondera que, apesar de ser um “player importante”, o banco público não detém mais posição dominante no financiamento de projetos de infraestrutura.
Se, em 2015, o BNDES financiou o volume de R$50 bilhões para infraestrutura enquanto houve R$5 bilhões em emissões de debêntures incentivadas, essa posição se inverteu nos últimos anos.
Nos dados apresentados pela gestora, o banco financiou projetos na ordem de R$25 bilhões anualmente contra o volume de R$45 bilhões em emissões de debêntures incentivadas.
A alteração se deu, principalmente, pela Lei 13.483/2017, que instituiu a TLP e acabou com os subsídios, de acordo com a Sparta.
A visão da gestora é otimista em relação ao aumento de desembolsos do BNDES, uma vez que poderia ajudar mais projetos a serem implantados, em especial se focar em segmentos que passam por maior aversão de investidos, como PPPs com companhias estatais, obras nos setores de saúde e educação, presídios, iluminação pública, entre outros.
Além disso, a Sparta destaca que a atuação do BNDES pode gerar também “externalidades positivas do investimento em infraestrutura”, como empregos, desenvolvimento e inclusão.
A questão poderia ser negativa, para a gestora, se o BNDES optasse por focar em segmentos atualmente presentes já no mercado de capitais, como energias renováveis. Isso poderia ser um “desperdício de recurso públicos”, para a Sparta.
Para que o banco de desenvolvimento fizesse uma excelente atuação, a gestora entende que os “excelentes quadros técnicos do BNDES” devem lançar olhar para segmentos não consolidados, oferecendo ajuda para o processo regulatório e balanço de riscos.
“Não temos visto declarações nem movimentos do BNDES no sentido de aumentar os desembolsos nos segmentos onde compete com o mercado de capitais. Entendemos que a queda recente no mercado primário se deve a outros fatores conjunturais, entre eles o patamar elevado da Selic, aversão a risco generalizada dos investidores e os problemas de crédito de Americanas e Light, os quais acreditamos que logo mais devem passar e o mercado primário voltar a ritmo anterior", afirma a Sparta.
XP Asset
A XP Asset, fundada em 2006, possui R$ 141 bilhões sob gestão e apresenta ativos de renda variável, multimercados, renda fixa e fundos de investimento estruturados/alternativos.
Em 2014, lançou o fundo XP Debêntures Incentivadas, com uma carteira composta por 117 ativos, 90% deles com rating AAA e A-. No portfólio, há maioria (80%) de ativos em setores Elétricos, Concessões Rodoviárias e Saneamento.
Aberto para investidores em geral, o fundo exige aplicação mínima de R$ 5.000,00 e liquidação + cotização de D+30.
Para a gestão da XP Asset, a volta da atuação do BNDES com juros subsidiados “tem um potencial sim de roubar uma parcela de emissões que poderiam ir para o mercado de capitais”.
A visão da gestora é que isso ainda não está acontecendo e que a redução do volume das emissões está ligada à maior aversão ao risco. Alguns motivos para a aversão seriam, para a XP Asset, a troca do governo, recentes eventos de crédito e, consequentemente, custo de captação mais alto para as empresas.
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