Projeções de produção da Vale decepcionam investidores e ações caem, mas perspectivas no longo prazo são boas
Números operacionais da mineradora no segundo trimestre frustram investidores
Na noite desta terça-feira, 19, a Vale divulgou seus números de produção e vendas referentes ao segundo trimestre. Os resultados vieram em linha com as expectativas do mercado, mas decepcionaram os investidores por conta de uma baixa nas projeções de produção de minério de ferro pela companhia para 2022, que caíram de 335 milhões de toneladas para algo entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas.
Além das projeções baixistas, a produção da mineradora registrou uma queda de 1,2% na comparação anual e as vendas recuaram 2,3%. Segundo especialistas, boa parte dessa redução pode ser explicada pela situação macroeconômica da China, que passa por um período de crise em seu setor imobiliário, sofre com lockdowns e tem perspectivas de baixo crescimento neste ano.
Com os números operacionais da Vale, as ações da empresa vivem um dia de desvalorização acentuada na Bolsa de Valores brasileiras, a B3. Às 13h15, os papéis da companhia registravam recuo de 2,37%, mas no período da manhã, chegaram a uma queda de 3,33%.
Os dados operacionais da Vale
Embora na comparação anual a mineradora tenha apresentado queda na produção de minério de ferro, em relação ao primeiro trimestre de 2021, a produção teve um salto de 17%. Em análise, a Guide Investimentos pontua que o que impulsionou esse aumento nos números de um trimestre para o outro foi o "sólido desempenho dos Sistemas Sudeste e Sul no período seco".
Bruno Lima, Caio Grener e Leonardo Correa, analistas do BTG Pactual, destacam, em relatório, que os principais empecilhos para uma melhora na capacidade produtiva da Vale continuem sendo "os mesmos velhos culpados": o desempenho de produção inferior na unidade de Carajás, licenciamento, umidade, manutenção mais pesada, além da venda do Sistema Centro-Oeste.
"O copo meio vazio é que o desconto para os pares australianos deve se expandir, com a menor confiança na estabilidade/execução operacional. O copo meio cheio é que esses contratempos operacionais pressionarão o mercado de minério de ferro, que pode precisar de algum suporte e deve recebê-lo (a estratégia de valor sobre volume também pode estar em jogo)."
Analistas do BTG Pactual
Impactos da China
Não só pelas dificuldades operacionais a produção e as vendas de minério da Vale caíram e tiveram suas projeções reduzidas, mas também por conta das perspectivas macroeconômica para a China. De acordo com Josias de Matos, analista de equities da Toro Investimentos, "o cenário no curto prazo para os setores de mineração e siderurgia é, no mínimo, desafiador".
O analista explica que a economia chinesa, grande motor do crescimento mundial nas últimas duas décadas, apresenta sinais importantes de desaceleração. A meta de crescimento para o país em 2022 é a menor em 25 anos: 5,5%. No entanto, o mercado espera que o governo enfrente uma série de dificuldades para conseguir esta elevação no Produto Interno Bruto (PIB) chinês.
Com uma política de tolerância zero contra a covid-19, desde o começo do ano diversas cidades da China vêm enfrentando medidas rígidas de isolamento social, o que tem impactado diretamente a atividade econômica do país.
Crise no setor imobiliário chinês
Além da situação com a pandemia, problemas no setor imobiliário chinês também impactam a Vale, já que este é um setor que responde por 30% de todo o PIB do país asiático e há anos e o principal demandante por minério de ferro e outras commodities metálicas no mundo.
Matos explica que várias incorporadoras da China enfrentam sérios problemas de liquidez, consequência dos altos níveis de alavancagem em que essas empresas operam e, simultaneamente, "dados de alta frequência como utilização de cimento e vendas de tratores, mostram que a situação ainda está longe de acabar, e uma continuação do processo de desaceleração do setor e da economia chinesa como um todo ainda é esperada".
Nesta semana, como forma de tentar aliviar a pressão sobre o setor imobiliário, o governo chinês pediu aos bancos nacionais que elevem os financiamentos para este segmento, como forma de atenuar a crise de pagamentos de hipotecas vivida pelo país.
"Neste sentido, temos observado uma queda relevante nos preços do minério de ferro, que já devolveu toda a alta do ano e passa a cair em relação a 2021. A performance de VALE3, tem acompanhado esse sentimento pessimista com relação à commodity e já cai mais de 13% no ano. Não é atoa que a própria Vale reduziu suas projeções em relação à sua produção este ano."
Josias de Matos, analista de equities da Toro Investimentos
Perspectivas para as ações da Vale
Para os analistas do BTG Pactual, apesar do ritmo mais lento esperado para o crescimento da economia chinesa, a tese de investimentos com exposição à Vale e ao minério de ferro segue interessante. Eles explicam que esta é uma commodity que está mais de 70% exposta à China. Assim, à medida que a economia do país "voltar aos trilhos" por meio de estímulos de seu banco central, a tendência é que a demanda pela commodity cresça, beneficiando o setor e, consequentemente, a Vale.
"Apesar dos contratempos operacionais, acreditamos que a administração (da Vale) continua altamente disciplinada em sua estratégia de alocação de capital", afirmam os especialistas, que apontam ainda que a maior parte da agenda da companhia deve ser orientada para os retornos para os acionistas, com projeção de um dividend yield de 15% para 2022. Por esse motivo, o BTG mantem recomendação de compra para o ativo.
O analista da Toro afirma que, no curto prazo o cenário macroeconômico é o principal obstáculo na formação dos preços internacionais do minério de ferro e na performance das ações da Vale, uma dinâmica que deve permanecer por algum tempo.
"No médio e longo prazo, no entanto, enxergamos a Vale como uma das principais oportunidades da Bolsa brasileira, dadas as suas características e vantagens de produção, além de sua operação robusta e diversificada geograficamente. Com uma normalização do cenário macroeconômico mundial, tanto com relação à expectativa de crescimento chinês, como em relação à uma possível recessão nos Estados Unidos e Europa, sua cotação deverá retornar ao racional da tese e às variáveis microeconômicas que beneficiam a Vale."
Josias de Matos, analista de equities da Toro Investimentos
Desempenho das ações da Vale e outras empresas do setor de siderurgia e mineração
Variação em um mês | Variação em 2022 | Variação em 12 meses | |
Vale (VALE3) | -10,98% | -13,83% | -40,65% |
CSN (CSNA3) | -14,72% | -41,33% | -67,74% |
CSN Mineração (CMIN3) | -20,28% | -50,92% | -61,85% |
Gerdau (GGBR4) | +1,03% | -13,28% | -20,22% |
Usiminas (USIM5) | -1,55% | -40,75% | -53,85% |
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