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Viés de Autoconveniência

Autor:Equipe Mais Retorno
Data de publicação:18/11/2019 às 07:06 - Atualizado 4 anos atrás
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O que é o viés de autoconveniência?

Viés de autoconveniência é o nome dado a um tipo de viés cognitivo - isto é, um fenômeno mental caracterizado por falhas no nosso raciocínio lógico - que atinge a todos os seres humanos, em menor ou maior grau. Por definição, pode-se dizer que o viés de autoconveniência é uma forma de distorcer a realidade de modo a manter a nossa autoestima elevada ou autoimagem favorável.

Para visualizar, se lembre da última vez em que você se apaixonou. Comumente, ao nos depararmos com um defeito da pessoa alvo da nossa afeição (como o quarto mais bagunçado que você já viu em toda a sua vida, por exemplo, digno de uma participação em Acumuladores Compulsivos), distorcemos a realidade.

Ele(a) não é um enorme bagunceiro, que provavelmente vai destruir a sua casa se um dia vocês se casarem. Para você, "ele(a) está em uma fase difícil da vida. Na correria do dia a dia, não tem tempo para se organizar perfeitamente. Até porque quem não tem a sua própria baguncinha no quarto, não é mesmo?".

Você mente para ele(a), para os outros e, principalmente, para si mesmo. Você se convence, com argumentos como os mostrados acima, que essa mentira é uma verdade (oi, paralogismo!).

No caso do viés de autoconveniência, algo muito semelhante acontece. A única diferença é que o alvo da sua "mentirinha" não é mais o "crush" da vez, mas sim você mesmo. Sempre que o mundo real te confronta com um acontecimento que ameace a sua autoestima, há a possibilidade de que se faça uso desse viés para aliviar o desconforto.

Como o viés de autoconveniência funciona? Como ele afeta as suas finanças?

O viés de autoconveniência se baseia, sobretudo, na transferência de responsabilidade. Se alguém faz algo que desafia as suas próprias crenças, conhecimentos e demais cognições, está enfrentando a chamada dissonância cognitiva. E, acredite, poucas coisas são mais abominadas pelo seu cérebro do que ela.

Para evitá-la, é preciso construir uma história que traga coerência entre as suas atitudes e as suas cognições - que não necessariamente precisa ser verdadeira: basta fazer sentido e aliviar o sofrimento da dissonância.

Lembrando do exemplo do seu "apaixonamento", a realidade dizia que "ele(a) é um baita porco" e as suas crenças diziam "eu nunca poderia conviver com alguém tão bagunceiro".

Por outro lado, você estava apaixonado(a) e zero disposto(a) a se afastar, logo para não enfrentar o choque entre a crença e a decisão tomada, você criou a sua própria história de porque ele(a) não era um porco. "É só uma fase difícil", né?!

Se tratando de si mesmo, o viés de autoconveniência pode aparecer quando:

  • Você se atrasa e coloca a culpa no trânsito, na chuva, no motorista etc.
  • Você vai mal em uma prova e coloca a culpa na matéria "que é chata", no professor "que explica mal", no tempo para estudar "que era curto" etc.
  • Você gasta mais do que tem e coloca a culpa na promoção de "blusinhas" da loja, no seu chefe "que te paga uma mixaria", na péssima situação econômica do país, etc.

Percebe o que quisemos dizer com transferência de responsabilidade?

Não é a pessoa que é descompromissada, preguiçosa ou gastadora. Assumir isso não é agradável para ninguém, concorda? Logo, é melhor transferir a responsabilidade para um agente externo, porque isso não afeta a autoestima.

Isso é muito perigoso em todas as áreas da vida, porque quem não é responsável pelo problema, também não é responsável pela solução.

Nas finanças pessoais, contudo, esse viés é ainda mais prejudicial. Ele é a causa para muitas pessoas se endividarem e não repensarem sequer os seus hábitos - "afinal, não é culpa minha". Ou continuarem cometendo os mesmos erros quando se trata de péssimas aplicações financeiras.

Em nome de uma falsa autoestima (baseada em mentiras), continuamente se perde a chance de aprender e tomar decisões melhores. Daí para cair em outros vieses e problemas ainda maiores é um pulo.

E rapidamente aquele quarto bagunçado do começo do artigo vai parecer um quarto de hotel, quando comparado à bagunça sem fim que o sujeito fez (e continua fazendo) com o próprio dinheiro.

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