Viés da Emoção Desbotada
O que é o Viés da Emoção Desbotada?
Viés da Emoção Desbotada (ou, Fading Affect Bias, conforme o termo original em Inglês) é o nome dado a um tipo específico de viés cognitivo. Caracterizado como intimamente ligado à memória humana, o Viés da Emoção Desbotada indica a tendência que temos de evitar e esquecer mais facilmente as lembranças de eventos negativos, quando comparados aos positivos.
Já podemos ouvir o seu protesto. "Que história é essa? Aquela coleguinha estúpida da segunda série me chamou de feia e eu nunca mais esqueci"; "Eu vivi o término mais humilhante do mundo e até hoje lembro de todos os detalhes"; "Eu me recordo de cada palavra, ponto e vírgula que o meu chefe disse quando me demitiu".
Calma lá, que o Viés da Emoção Desbotada não é regra universal, ilimitada e intransponível, que diz que nós teremos uma amnésia generalizada quanto a tudo nos faz/fez sofrer. Se assim fosse, continuaríamos enfiando o dedo no espinho, atravessando a rua sem prestar atenção nos carros e comendo alimentos estragados - isto é, repetindo o mesmo erro uma e outra vez, até que a natureza cumprisse o seu papel e ceifaria a nossa existência.
A dor e o desconforto são mecanismos importantes de sobrevivência. Logo, o Viés da Emoção Desbotada não poderia simplesmente extingui-los, o que se trataria, na verdade, de uma patologia para lá de arriscada e desafiadora.
Como o Viés da Emoção Desbotada funciona?
Parte do funcionamento deste viés já está descrito no nome dado a ele. Isso porque é exatamente isso que ocorre com a emoção negativa (dor, raiva, tristeza, preocupação) atrelada ao evento em questão: um desbotamento.
Assim, conforme o tempo passa, mais fraca ela se torna. Enquanto isso, as emoções positivas (alegria, amor, satisfação) são superestimuladas, ao ponto de se tornarem desproporcionalmente dominantes.
É o caso, por exemplo, mais comum entre pessoas que terminaram um relacionamento amoroso recentemente. Tudo o que ela consegue lembrar, nesse momento, é de todos dias incríveis que o casal passou junto: onde foram, o que comeram, aquela piadinha interna que compartilharam. As lembranças ruins continuam existindo, mas aparecem como "a gente até brigava, mas ele(a) me fazia rir tanto".
Com o tempo, não tem jeito: a constante repetição dos momentos bons, frente à amenização dos ruins, cria uma visão distorcida do passado.
Essa dinâmica é repetida também em outros vieses, como o viés da retrospectiva e o viés de resultado, de modo que as decisões tomadas no presente passam a se amparar em percepções enviesados - e, portanto, equivocadas.
Como o Viés da Emoção Desbotada afeta a sua vida financeira?
Poucos expressam mais a ação do Viés da Emoção Desbotada do que uma pessoa falida e/ou endividada.
A começar por empreendedores, que por falta de planejamento e gestão foram obrigados a fechar o seu negócio. Não raro, eles se lembram de "como era bom ter a minha própria empresa", "eu me sentia tão feliz", "os meus funcionários eram tão bacanas" etc. Exatamente como o(a) namorado(a) abandonado(a) faz.
O grande problema aqui é que, movido por essa romantização do passado, ele se jogue de cabeça em um novo empreendimento. Isto é, sem a lembrança do estresse, da frustração e do fracasso para segurarem os seus pés no chão dessa vez.
O mesmo fazem pessoas que, diante das suas dívidas, decidem parar de gastar compulsivamente. De repente a vida perde a cor e as lembranças das compras, tão revitalizantes e alegres, não as abandona. Aquele mesmo estresse, frustração e fracasso olhando a fatura de crédito? Se perguntarem, elas não sabem nem do que se trata.
Aliás, se o viés de limitação lhes soprar no ouvido, é capaz que entrem em uma loja apenas para dar uma olhadinha ("eu não vou comprar nada, juro. Só estou levando o cartão na bolsa para o caso de uma emergência"). E como o(a) ex embuste, a fatura acaba voltando para lembrar que o passado… Bom, talvez ele não era tão cor-de-rosa assim.