Viés do Ator-Observador
O que é o Viés do Ator-Observador?
O viés do ator-observador (ou attribution effect) é a tendência que todas as pessoas possuem de julgar diferentemente a diferença entre a maneira como fatores internos e externos motivam o comportamento dos demais e de si mesmo.
Se você já leu o nosso artigo sobre Viés de Incentivos Extrínsecos, deve estar se perguntando se esses conceitos não representam o mesmíssimo conceito.
E a resposta é: não.
Enquanto o viés de incentivos extrínsecos se debruça sobre a suscetibilidade daqueles que convivem conosco a estímulos externos (como os bônus no trabalho), considerando-os mais importantes do que os estímulos internos (como o prazer de aprender), a base de comparação do viés do ator-observador é um tanto diferente.
Segundo ele, a razão dos nossos resultados negativos está mais comumente nos fatores externos. Ou pelo menos é isso que dizemos. Nos atrasamos porque o trânsito dessa cidade está cada dia pior, somos infiéis porque os nossos parceiros não nos dão a atenção e o carinho devido, não terminamos aquele projeto porque estávamos muito cansados…
Esses, é claro, são apenas alguns exemplos de como a causa do nosso comportamento está fora, no nosso contexto, e pouco têm a ver com nosso caráter.
No entanto, a coisa muda de figura quando analisamos os resultados negativos dos outros. Ele se atrasou porque é um baita de um desorganizado. Ela traiu porque é desleal e desonesta. Eles não terminaram o projeto porque são irresponsáveis, desleixados e incompetentes. A culpa no julgamento da outra pessoa, como podemos perceber, está totalmente associada com a sua personalidade.
Mesmo que estejamos falando de uma situação exatamente igual (como o atraso após ficar preso no engarrafamento), essa tendência se mantém. Ou seja, levamos o “dois pesos, duas medidas” a cabo, mesmo que de forma inconsciente.
Isso porque temos ótimos argumentos de como a demora do Cláudio do TI é bem do feitio dele, enquanto “a minha é pontual, sabe? Eu odeio me atrasar”. O que não quer dizer que o nosso raciocínio lógico esteja correto - do contrário, nem se trataria de um viés, certo?
Como surge o Viés de Ator-Observador?
Antes de nos aprofundarmos ainda mais no viés de ator-observador, é preciso delimitar o que um viés significa. Isso porque é esse fenômeno que explica o porquê de fazermos a distinção que notamos no tópico anterior.
Por definição, um viés é toda falha no processamento mental da realidade que nos cerca. Ou seja, não é no mundo que nos cerca que mora o problema, mas na maneira como o interpretamos.
Todo viés pressupõe um equívoco de ordem lógica: por esse motivo, aplicá-lo parece o certo a fazer e tem até mesmo um fundo de racionalidade (dando origem aos chamados paralogismos).
No caso do viés de ator-observador, parece lógico que o comportamento do outro derive do seu caráter. Especialmente se não os conhecemos bem e já temos uma opinião negativa sobre essa pessoa.
Prova disso é que pesquisas indicam uma redução no efeito desse viés quando julgamos nossos amigos e entes queridos. Por que? Bom, para o nosso cérebro é difícil aceitar incoerências entre o que pensamos, falamos e vivenciamos.
Se gostamos de uma pessoa, vê-la cometendo um ato danoso fere a nossa coerência (“como eu posso gostar de uma pessoa “ruim”?”, o cérebro se pergunta). A saída encontrada então é transferir parte da culpa para o contexto ao invés de concentrá-la no sujeito.
Com isso, justificativas como “ele esqueceu o nosso compromisso, mas é porque está sobrecarregado com o trabalho” são mais aceitáveis do que “ele é um péssimo amigo”.
Da mesma forma fazemos conosco. Se cometemos um ato danoso, logo encontramos razões situacionais que não abalem nossa crença de que somos pessoas boas, inteligentes, comprometidas etc. E lá vem o trânsito, o chefe, o clima e todo o arsenal de fatores externos para nos socorrer.
Os “estranhos”, por assim dizer, infelizmente não contam com esse mesmo benefício. Pelo contrário, se já não gostamos deles, cada momento é uma oportunidade de confirmarmos o quanto eles são mesmo horríveis, insuportáveis, grosseiros etc. Isso, é claro, tem ligação direta com o viés de confirmação.
Como podemos imaginar, a principal forma do viés de ator-observador causar prejuízos a você é diminuindo o seu senso crítico e capacidade de autorresponsabilização.
Quando essa consciência dos outros e de nós mesmos é afetada, podemos nos tornar absolutamente suscetíveis às situações do mercado. Afinal, não foi você o preguiçoso que preferiu investir tudo em um produto financeiro sem estudá-lo antes: é o sistema financeiro que está em crise.
Quer saber como identificar o viés de ator-observador? Bem, é mais fácil do que imagina. Apenas pense nos seus últimos três fracassos, na vida pessoal ou profissional, e liste todos os fatores que influenciaram o resultado (por ordem de impacto). Em seguida, faça o mesmo com os seus sucessos.
Conte quantos “fatores de fracasso” ou “fatores de sucesso” você citou antes de incluir o seu caráter (inteligência, displicência, arrogância etc.) na lista. Se houve muita diferença entre o tempo de inclusão na primeira e na segunda lista, acredite: há um pensamento enviesado para se perseguir aqui.