Efeito Riqueza
O que é efeito riqueza?
O efeito riqueza diz que, dada uma determinada renda e padrão de gastos, as pessoas consomem mais quando o valor do seu patrimônio aumenta.
Isso se deve ao fato delas se sentirem mais ricas. Consequentemente, ficam mais propensas a gastar, adquirindo não só mais produtos, como também selecionando itens mais caros.
Quando comparado com outros fatores que afetam diretamente o consumo, o efeito riqueza tem impacto menor que um corte de impostos, por exemplo. Diferente do efeito renda, mais ligado ao poder de compra de um consumidor, o efeito riqueza age sobre o psicológico das pessoas.
Isso porque, ao contrário do efeito renda, cujo impacto pode ser percebido nas gôndolas do supermercado, no efeito riqueza, o ganho é apenas escritural; ou seja, na cotação daquele determinado ativo. Para que se transforme em riqueza palpável, ele precisa ser vendido.
O que o índice Case-Shiller diz sobre o efeito riqueza?
Karl Case e Robert Shiller tentaram verificar a aderência do efeito riqueza ao mercado imobiliário dos EUA. Com dados do período entre 1982 e 1999, eles constataram uma ligação estreita entre a valorização dos imóveis e o efeito riqueza.
Em 2013, uma nova versão do índice foi feita, usando uma amostra maior (de 1975 a 2012). Os resultados obtidos foram:
- O aumento no valor dos imóveis, como o ocorrido entre 2001 e 2005, aumentaria o consumo doméstico em 4,3%;
- A redução no valor dos imóveis, como o ocorrido entre 2005 e 2009, reduziria o consumo doméstico em 3,5%.
Qual a relação entre o efeito riqueza e a política monetária?
A redução dos juros faz com que as receitas futuras das empresas sejam descontadas a uma taxa menor, tornando as suas ações mais valiosas.
Em 2017, Anna Cieslak e Annette Vissing-Jorgensen apresentaram um estudo mostrando que o comportamento das ações influenciava mais as taxas dos Fed Funds do que os indicadores da economia americana.
De acordo com a metodologia usada pela dupla, 80% do efeito do desempenho do mercado acionário estaria contido nos modelos de crescimento econômico e expectativas de inflação do banco central norte-americano.
Com base nessas evidências, concluíram que o Fed dá mais atenção nas grandes quedas dos índices acionários, pois teme os seus impactos na confiança dos consumidores (por conta do efeito riqueza).
Qual a relação entre o efeito riqueza e a desigualdade?
Citando dados do Bank for International Settlements – BIS (uma espécie de banco central dos bancos centrais), entre o início dos anos 80 e metade da década de 90, os ativos financeiros transacionados ao redor do mundo passaram de US$ 5 trilhões para US$ 35 trilhões.
Isso representou uma taxa de crescimento anual mínima da ordem de 15%. Portanto, acima do crescimento da produção mundial e dos seus respectivos ativos fixos.
Percebe-se então que os preços dos ativos financeiros subiram mais que o valor dos ativos que eles representam. Com isso, famílias com grande patrimônio financeiro passaram a tomar as suas decisões de consumo e investimento com base na expectativa de valorização de seus ativos.
Apesar de serem líquidos o suficiente, transformando-se em dinheiro a qualquer momento, o fato é que o efeito riqueza estimula o endividamento, tanto para o consumo como para a aquisição de novos ativos financeiros, que se valorizam ainda mais.
Quem não os detém consome apenas com base na sua renda (salário), ficando incapacitado de enriquecer na mesma proporção dos demais porque:
- Não consegue tomar crédito;
- Os ativos financeiros ficam cada vez mais caros.
Desde 2008, 1/3 de todo o aumento da riqueza foi gerado pelos novos negócios, principalmente os relacionados à internet, enquanto 2/3 foram resultantes da valorização dos ativos, levando a sociedade a níveis de desigualdade nunca vistos.