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Temporada de balanços do 2T22 chega ao fim: o que os resultados dos principais setores indicam

Empresas vivenciaram um cenário desafiador, com aumento da pressão nos custos por conta da alta da inflação

Data de publicação:17/08/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A temporada de balanços corporativos referentes ao segundo trimestre de 2022 termina praticamente nesta quarta-feira, 17. De acordo com os especialistas entrevistados pela Mais Retorno, foi uma leva de resultados fortes, de forma geral, melhor do que nos três meses anteriores.

Para a XP, em relatório assinado por Fernando Ferreira, estrategista chefe e head de research, Jennie Li,estrategista de ações, e Rebecca Nossig, analista de estratégia de ações, mais de 70% das companhias reportaram lucros operacionais acima do esperado e quase 30% superaram as expectativas em receitas.

Fachada de prédio da Petrobras | Foto: Arquivo

No ambiente macro, o período foi marcado pelo aumento da preocupação com uma possível recessão global, principalmente nos Estados Unidos.

“Globalmente, os temores de uma recessão econômica continuaram a aumentar e o mercado rapidamente mudou sua narrativa, ficando mais preocupado com os riscos de uma recessão do que efetivamente com a inflação”, destacam os estrategistas da XP.

Como resultado do aumento desse temor, o Índice Ibovespa caiu 17,9% durante o segundo trimestre do ano. O S&P 500 ficou logo atrás da B3, com baixa de 16,5%.

Cenário desafiador

Segundo a análise dos estrategistas da XP, os resultados do Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) superaram em 73% as estimativas e somente 14% ficaram abaixo do projetado.

“Os resultados que foram abaixo das nossas estimativas (14%) foram significativamente inferiores do que no último trimestre, de 29%”.

No entanto, em relação à receita líquida, a XP destaca que os resultados que vieram acima das estimativas da casa caíram 13% neste trimestre, contabilizando a terceira queda consecutiva – de 40% no primeiro trimestre, para 27% nos três meses seguintes.

“Esses resultados continuam refletindo fatores que marcaram o primeiro semestre: inflação crescente, levando os BCs a apertar suas políticas monetárias, refletindo em desaceleração e crescentes temores de uma recessão econômica”.

XP, em relatório

Confira a avaliação dos balanços trimestrais por setor

Foto: Reprodução

Bancos: resultados impulsionados pelo crédito

Um dos setores de destaque da temporada foi o de bancos, com lucros, em sua grande maioria, bem acima do previsto. Os quatro grandes bancos brasileiros – Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – juntos registraram um lucro líquido de R$ 26,6 bilhões. O valor representa uma elevação de 20,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

João Daronco, analista da Suno Research, aponta que o mesmo não foi observado com os bancos digitais, que são empresas de crescimento. "Eles estão vivendo momentos desafiadores com a alta de juros".

Segundo o especialista Daniel Carraretto, os gigantes foram beneficiados pelo reaquecimento da economia, a inflação mais controlada e com a taxa de desemprego em queda, o que impulsionou o avanço das carteiras de crédito.

Henrique Tavares, analista CNPI da DVinvest, aponta que o mercado esperava o crescimento do crédito, mas também do seu custo, por conta do aumento da inadimplência e degradação da renda das famílias.

Com a elevação da Selic – que saiu de 2% no ano passado para 13,75% ao ano em 2022 – a margem financeira com os clientes dos bancos foi beneficiada e trouxe contribuições importantes para os resultados dos gigantes.

“Vemos o resultado do Itaú no segundo trimestre como positivo, principalmente devido a uma margem financeira mais forte do que o esperado, o que levou o lucro líquido a atingir R$ 7,6 bilhões e superou nossa estimativa para o trimestre”, aponta a XP.

No caso do Bradesco, Carraretto destaca a participação do segmento de seguros nos números do banco obtidos no segundo trimestre, o que compensou a margem financeira com clientes.

Um dos pontos enfatizados pelo especialista é a possibilidade do aumento da inadimplência nos próximos meses, o que, por enquanto, tanto na visão dele quanto da XP, “segue controlada, em um nível ainda saudável” em ambas as instituições financeiras.

Outra grande surpresa do período foi o Banco do Brasil, que apresentou um lucro líquido de R$ 7,8 bilhões. O resultado fez com que as ações da empresa (BBAS3) disparassem nos últimos dias na Bolsa – subiu quase 10% em apenas cinco dias.

“As ações do Banco do Brasil estavam sendo negociadas com preço bem abaixo. Mesmo com a alta dos preços, ainda seguem abaixo do valor patrimonial, com um valuation de 0,81%”.

Daniel Carraretto
Foto: Jorge Manriquez

Commodities

Siderúrgicas e mineradores: custos pressionados

Nas commodities, os comportamentos das empresas seguiram distintos. As siderúrgicas e mineradoras tiveram seus resultados em linha com o esperado, porém, a pressão do aumento dos custos impactou em alguns resultados, como é o caso da Vale, cujo lucro líquido recuou 17,7% no trimestre.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, afirma que o aumento nas vendas de metais como pelotas e níquel ajudou a amortecer a queda na produção do minério de ferro, que sofreu com a redução da demanda por conta do desaquecimento da economia chinesa.

“A Vale é uma empresa muito cíclica, que é dependente da movimentação do preço do minério de ferro no mercado internacional. Mesmo com as vendas em alta, não conseguiu obter um lucro crescente”.

Rodrigo Moliterno, da Veedha

No entanto, a empresa trouxe boas notícias para os investidores que miram e investem na empresa com foco em proventos. Sua distribuição de dividendos se mantém em ritmo elevado, com o anúncio de mais um pagamento na ordem de R$ 3,57 por ação.

“É uma empresa que tem uma forte geração de caixa e baixa alavancagem. Sua dívida vem diminuindo cada vez mais”, ressalta Carraretto.

O mercado mirou com atenção os resultados da Gerdau, cujo lucro líquido ajustado atingiu R$ 4,3 bilhões, alta de 28% na comparação anual e, segundo a companhia, bateu um recorde histórico para o período.

De acordo com Moliterno, os resultados foram impactados principalmente pelas margens operacionais dos negócios da companhia nos Estados Unidos, que vieram bastante fortes.

Soma-se a isso ainda o fato de a empresa ter conseguido repassar a alta do preço do minério de ferro para o aço, de acordo com Tavares, da DVinvest.

Foto: Envato

Petroleiras: preço do petróleo impulsionou os resultados

Ao contrário das siderúrgicas, com resultados mais neutros, as petroleiras trouxeram boas notícias ao mercado. Tanto a valorização do dólar quanto o preço do petróleo em alta impactaram positivamente nos lucros dessas companhias.

A Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 54,33 bilhões, 26,8% acima do registrado na base de comparação anual e 17% acima do consenso do mercado. Segundo os estrategistas da XP, o resultado superior foi puxado por uma margem Ebtida melhor do que esperado.

Carraretto aponta que a Petrobras vem se destacando no mercado pelo fato de ter reestruturado sua gestão, obtendo um nível de endividamento menor e com um esforço de fazer desinvestimentos em áreas que não fazem parte do core business da empresa. “O fato de a petroleira apresentar uma certa linearidade nos resultados também é positivo”.

Além disso, a empresa segue entregando fortes dividendos para os acionistas ao longo do ano. “Os dividendos têm proporcionado um bom retorno total sobre as ações aos investidores, apesar do ruído político, que mantém os preços das ações (e múltiplos) deprimidos”, ressalta a XP.

Outra companhia que também mostrou números expressivos no trimestre foi a PetroRio, com um lucro duas vezes maior no segundo trimestre se comparado ao mesmo período de 2021.

“A PetroRio vem crescendo, comprando novos campos, o que vai resultar em ainda mais crescimento para a companhia, com o fortalecimento do caixa e redução do nível de endividamento”, ressalta Carraretto. Nos últimos 12 meses, as ações PRIO3 subiram mais de 50%.

Foto: Magazine Luiza/Divulgação

Varejo: tentando buscar a rota do crescimento de volta

Um dos setores mais penalizados nos últimos meses, o varejo começou a mostrar leves sinais de busca de recuperação com os resultados do segundo trimestre – em alguns segmentos, ainda abaixo do previsto.

"O cenário macroeconômico que serve de pano de fundo para o varejo é difícil, com a combinação de inflação elevada e taxa de juros alta. A primeira impacta nos custos e a segunda no consumo. Esperávamos resultados piores".

João Daronco, da Suno

O varejo alimentar seguiu mantendo um nível equilibrado de lucros, com destaque para o atacarejo. Um dos exemplos nesse sentido é o Assaí, com alta de mais de 30% em sua receita líquida e alta de 20% no lucro líquido na comparação anual.

“A Receita Líquida cresceu 33% ao ano, puxada por um forte crescimento de vendas mesmas Lojas (+15% ao ano) por conta de um maior fluxo, alavancado pela recuperação do canal B2B (bares, restaurantes, transformadores), e crescimento de volumes, enquanto o plano de expansão da companhia continua a todo vapor (+33 aberturas nos últimos 12 meses)”.

XP, em relatório

Já as farmácias foram beneficiadas pela aceleração de seu crescimento, puxada pela demanda em alta por medicamentos e pelo reajuste de preços feito em abril.

Carraretto destaca a rede Raia Drogasil, que teve um lucro líquido quase 40% maior no segundo trimestre deste ano se comparado ao mesmo período de 2021.

“A alta nas vendas pelos canais digitais da Raia Drogasil começa a ganhar tração e deve impulsionar um novo crescimento para a rede”, ressalta Carraretto.

Outro setor que continuou mostrando recuperação – com ênfase no varejo de alta renda – foi o de shopping center. O lucro líquido da Multiplan quase dobrou em relação ao ano anterior, atingindo R$ 172,6 milhões no trimestre, salto de 84% em relação à mesma base anual.

No e-commerce, as varejistas não tiveram muito o que comemorar. O Magazine Luiza registrou um prejuízo líquido de R$ 135 milhões no segundo trimestre do ano, revertendo um lucro líquido de R$ 95,5 milhões obtido no mesmo trimestre de 2021.

A Americanas seguiu na mesma esteira, com prejuízo líquido de R$ 98 milhões. E a Via reportou queda de 88% no lucro líquido operacional, contabilizando R$ 16 milhões.

Para o terceiro trimestre, o cenário de resultados mais fracos deve continuar, pois, de acordo com Daronco, o grande problema não são as novas altas da Selic, mas sim até quando ela vai ficar nesse patamar elevado.

"Grande parte dessas empresas estão alavancadas, com dívidas atreladas à inflação ou ao CDI, o que acaba impactando no aumento das despesas financeiras".

Elétricas sentiram uma forte pressão nos custos - Foto: Reprodução

Utilities: pressão sobre os custos

Em utilities, o mercado enfatizou os resultados abaixo do previsto das empresas de saneamento, como foi o caso da Sanepar e da Sabesp.

De acordo com Moliterno, os números mais fracos de ambas as empresas podem ser explicados por um descasamento entre o aumento de custos, devido à inflação e a postergação de parte do reajuste tarifário pelo regulador.

Nas elétricas, por outro lado, grande parte dos resultados vieram em linha com o esperado, porém, as companhias do setor, apesar de terem uma receita previsível, estão bastante alavancadas, o que impacta no resultado financeiro.

Alves, da DVinvest aponta que os resultados da Taesa vieram em linha, porém decepcionaram um pouco. "A queda na receita da empresa é resultado da dificuldade maior de repassar custos - pressionados pela inflação - para as tarifas.".

A Eletrobras reportou queda de 45% em seu lucro líquido, no entanto conseguiu manter sua receita líquida em crescimento, somando R$ 7,43%, alta de 19%.

Alves aponta que companhia vive um momento positivo, com mudança de gestão, o que deve se refletir lá na frente, com ganho de escala de margem financeira.

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