Selic pode subir com piora fiscal? É hora, ou não, de aplicar nos fundos DI?
Investimentos atrelados à taxa permanecem atraentes, com ganho real acima de 6%
Existem riscos de investir em ativos indexados à taxa básica de juros, a Selic, como os fundos DI e o Tesouro Selic, após o término do ciclo de elevação dos juros e perspectiva de piora fiscal no novo governo? Especialistas afirmam que os investimentos que seguem o juro básico permanecem atraentes porque a trajetória de alta dos juros chegou ao fim com a Selic no pico do movimento de escalada, em 13,75% ao ano.
Já o risco do investimento, cujo debate se acirra com a PEC da Transição em cena, é classificado pelos analistas como dos mais baixos do mercado. O risco de um calote, de não pagamento do resgate, é mínimo, porque o emissor do título, portanto o devedor, é o Tesouro Nacional.
Em relação a novos ajustes da Selic, a possibilidade existe diante da perspectiva de descontrole fiscal nas contas públicas que pressione a inflação. É esperado que o Banco Central venha usar novamente a política monetária para conter a alta dos preços, um expediente, no entanto, que tem seus limites, uma vez que juros além dos atuais níveis pode arrebentar a economia.
Juro real acima de 6%
Essa taxa, que remunera as aplicações indexadas à Selic, é bastante superior à inflação estimada para 2022 e 2023. Economistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central para o boletim Focus estimam uma inflação de 5,88%, para este ano, e de 5,01%, para 2023.
Comparada com essas projeções, a Selic prevista pelo Focus, de 13,75% para o fim deste ano e de 11,50% para o término de 2023, embute encorpado juro real – de 7,43%, em 2022, e de 6,18%, em 2023.
É um ganho positivo, acima do IPCA, que será incorporado ao capital, com aumento de poder de compra, fora a parcela de correção monetária. O juro real se reflete no desempenho dos fundos DI, a seguir o ranking dos 10 mais rentáveis em 2022.
O campeão do ano, o Riza Lotus Plus Advisory FIC FI RF Referenciado DI CP, entrega aos cotistas em 2022 um rendimento de 13,10% - quase emparelhado com a Selic de 13,75%.
Atratividade vai além do rendimento robusto
O apelo das aplicações indexadas à Selic vai além da elevada rentabilidade, nominal e real. A atratividade de fundos DI e do Tesouro Selic se estende também à liquidez e à segurança.
Quem investe nesses ativos pode fazer resgate a qualquer hora, com rendimento – observando que a tributação é regressiva, por alíquotas mais altas para períodos mais curtos de aplicação.
Para os especialistas, ativos atrelados à Selic, como os fundos DI e o Tesouro Selic, reúnem em torno deles as três regras de ouro de um investimento: atraente rentabilidade, elevada liquidez e baixo risco.
Desarranjo fiscal pode pressionar a Selic?
Analistas de mercado comentam que as incertezas com a política fiscal do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva poderiam pressionar a inflação e os juros. O temor é que o novo governo gaste mais do que as regras de política fiscal – de um modelo ainda a ser definido – permitem.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, declarou semana passada que, “se a convergência (entre as políticas fiscal e monetária) que planejamos não estiver acontecendo, precisamos agir”.
Alexandre Espirito Santo, economista da Órama, acredita que seria prematura, por enquanto, uma alta da Selic em dezembro - o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 6 e 7 de dezembro, pela última vez no ano, para decidir o rumo da Selic.
“É preciso informações mais concretas sobre a tal PEC da Transição e a equipe da Economia, especialmente o ministro que irá conduzir a política do novo governo”, analisa. “A nova regra fiscal é importantíssima como sinalizadora de expectativas”, diz o economista da Órama.
“O BC vai atuar à medida que perceber que todo esse ajuste fiscal vai ter algum impacto na inflação”, avalia Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. “O que acho é que neste momento não vai tomar nenhuma medida precipitada, vai aguardar toda essa negociação das medidas no Congresso.”
Alexandre Espírito Santo diz acreditar que, mesmo no melhor cenário, o BC terá dificuldades em reduzir as taxas, como o mercado imaginava até há algumas semanas. “Nossa visão preliminar é que o BC só deverá reduzir a Selic, desde que tudo evolua a contento, em uma das duas últimas reuniões de 2023 – a penúltima está marcada para os dias 31 de outubro e 1º de novembro e a última, nos dias 12 e 13 de dezembro de 2023.
Onde aproveitar essa Selic
O investidor pode buscar remuneração atrelada à Selic basicamente em duas aplicações: fundo DI com portfólio alocado em Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) e Tesouro Selic.
“A LFT ou o Tesouro Selic (duas nomenclaturas para o mesmo título) é um papel de baixa volatilidade que tem como atrativo acompanhar a Selic”, comenta Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.
Quanto mais a Selic sobe, maior fica a rentabilidade desse título, avalia. “Então, pensando em investimento no curto prazo que se beneficia de eventual alta da Selic, as LFTs ou o Tesouro Selic são as melhores opções.”
Como dito acima, com a Selic no pico, as LFTs têm turbinado a rentabilidade de fundos DI que alocam os recursos nesses títulos.
O gráfico mostra também a boa performance dos fundos DI do ranking em 12 meses, na comparação com o benchmark dessa classe de ativos, o CDI, versão de juro privado da Selic. Todos os dez fundos da lista entregam um rendimento – que varia de 14,10% a 12,03% - acima do CDI de 11,49% acumulado no período. E também do IPCA de 6,47%.
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