Saiba por que o mercado gostou das mudanças na Reforma Tributária
Redução do imposto para as empresas em 12,5 pontos porcentuais compensa término de incentivo fiscal nos dividendos
Os efeitos da divulgação do projeto substitutivo da Reforma Tributária, por seu relator, o deputado federal Celso Sabino, foram sentidos de imediato nesta terça-feira no mercado: ajudou o Ibovespa a sair de território negativo e a fechar em alta de 0,45%; provocou uma elevação de quase 1% do IFIX, o índice que mede a evolução dos fundos imobiliários (FII); e contribuiu para retirar gás do dólar, que fechou mais um dia em queda 0,13%.
E basicamente pelas seguintes razões: o relatório reduz mais a carga tributária das empresas do que a proposta original; mantém a isenção dos rendimentos proporcionados pelos empreendimentos dos fundos imobiliários (dividendos); e reequilibra a carga tributária das empresas que não terão mais incentivo fiscal na distribuição de dividendos a seus acionistas.
O analista de Fundos Imobiliários da Ativa Investimentos, Gabriel Teixeira, recebeu bem a decisão de manter isençã sobre os investimentos em FIIs. “Desde que a proposta foi entregue a gente viu a resistência por parte do setor imobiliário, de fundos, e até do pequeno investidor contra essa medida. Afinal, os fundos imobiliários são uma importante ferramenta de captação para o setor imobiliário, que reagiu bem durante a pandemia”.
Ele conta que quando começou a circular a informação de que o ajuste da proposta viria com a isenção para os FIIs, o IFIX respondeu com alta nas negociações desta terça-feira, subindo quase 1%. “Alguns fundos já estão recuperando o patamar de preço perdido. Estamos otimistas com a perspectiva de crescimento para o setor com a continuidade de novos entrantes”.
Para o consultor tributário José Messias Teodoro, essa decisão sobre isenção dos rendimentos dos FIIs “é superpositiva, pois os fundos imobiliários são propulsores da economia, geram emprego e renda ligados diretamente à indústria da construção civil e demais setores da economia”.
Passo importante no andamento da reforma
O consultor, que é especialista em planejamento tributário, reestruturação e reorganização societária, diz que com esses ajustes que foram propostos, agora a reforma tributária pode caminhar para aprovação. "O relator soube onde buscar os cortes no orçamento, ajustando benefícios e incentivando a geração de empregos, o crescimento da economia, aliviando a carga tributária das empresas e dos trabalhadores".
Ele explica ainda que a redução da carga tributária efetiva das pessoas físicas e jurídicas será compensada com o aumento de receitas orçamentárias decorrentes do fim de isenções, auxílios-benefícios, incentivos fiscais e cortes de benefícios de setores específicos na economia.
Os analistas da XP Política acreditam que “a reforma do imposto de renda vence uma etapa importante da tramitação da matéria, que é a de passar para uma fase mais concreta de debates após os primeiros ajustes feitos na proposta do governo”. Segundo eles, “ainda que tenham sobrado pontos a serem aparados no futuro, o movimento parece ter ajudado a superar a resistência imediata que se viu entre deputados ao projeto inicial”.
Outro ponto destacado pelos profissionais da XP é que a apresentação do relatório cumpre também a função de manter a agenda reformista em evidência, uma prioridade para o presidente Arthur Lira neste fim de semestre. Tarefa complicada diante da tramitação da CPI da covid-19 no Senado e atrai os holofotes da mídia.
“Manter a expectativa de uma votação importante como esta significa ter a mobilização dos diversos setores da sociedade em torno de si”, ressaltam eles. “Nem todos os pontos controversos foram superados, é verdade, mas ainda há novas rodadas de negociações para alterar o parecer. As bancadas dos partidos serão ouvidas durante o recesso para que se tente votar o texto em agosto”.
A reforma tributária das empresas
O projeto substitutivo prevê um corte total de 12,5 pontos na alíquota de IR das empresas:
Para as que percebem lucros de até R$ 20 mil por mês, o imposto cai de de 15% para 5%, em 2022 e de 5% para 2,5%, em 2023. Já para as que têm lucros acima de R$ 20 mil por mês, a alíquota passa de 25% para 15% no ano que vem, e de 15% para 12,5% em 2023.
Com essas mudanças, o consultor Teodoro entende que o projeto acaba com as anomalias do projeto original ao reduzir a alíquota do imposto das pessoas jurídicas de 15% para 2,5%, nas empresas tributadas pelo regime de apuração do lucro real, presumido ou arbitrado, e manteve a tributação dos dividendos em 20%.
Na prática, esclarece ele, a nova proposta de reforma tributária quase neutralizou a carga fiscal das pessoas jurídicas que hoje é de 34% e passará a ser de 36,41% com a retirada do incentivo fiscal na distribuição de dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP), que resulta em um aumento de 20% o imposto final sobre as empresas. Ele ainda lembra que a tributação dos dividendos em 20% é calculada após a destinação de 5% do lucro líquido para a conta denominada Reserva Legal.
Essa redução total de imposto sobre as empresas, em 12,5 pontos porcentuais, portanto muito além dos 5 pontos da proposta original, na opinião dos analistas da XP “ajuda a vencer resistências e dá outra bandeira ao lado da ampliação da faixa de isenção do imposto de renda da pessoa física”. E isso cria a expectativa de que as alterações propostas por Sabino, que teve mais de 30 reuniões para ouvir os setores afetados nos últimos dias, sirva para facilitar a aprovação da matéria logo na volta do recesso parlamentar.
Teodoro considera como positivas mais duas decisões: a de retirar a cobrança de imposto sobre dividendos quando o lucro é distribuído entre subsidiárias de uma mesma holding, porque vai evitar a geração de crédito tributário de difícil compensação integral; e também a de permitir a compensação em operações com ações de diferentes modalidades por até três meses, prejuízos compensando os lucros, porque preserva o mecanismo já existente de apuração de lucros e perdas e estimula o mercado de ações ao permitir a compensação trimestral de prejuízos com lucros futuros.