Perspectiva de greve dos servidores pode dar o tom ao rumo do mercado nesta terça- feira
Preocupação do mercado é com impacto negativo da concessão de reajuste salarial aos servidores nas contas públicas
Uma possível paralisação dos servidores públicos pode dar o tom ao rumo do mercado financeiro nesta terça-feira, 18. Foi com essa preocupação que os mercados encerraram os negócios na véspera. A Bolsa de Valores, a B3, fechou com queda de 0,52%, em meio à crescente pressão de várias categorias do funcionalismo por reajustes salariais.
A ameaça de greve de servidores vem causando temor aos mercados, por causa de impactos fiscais que podem vir em sua esteira, mas ganhou maior ressonância neste início de semana, quando as bolsas de Nova York não funcionaram e deixaram o mercado doméstico sem referência. Por lá, os futuros operam em forte baixa na volta do feriado.
A paralisação em si não mexe com o humor dos investidores. Causa mal-estar e preocupação nos mercados o impacto negativo que ele pode provocar nas contas públicas. Categorias do funcionalismo têm reivindicado um reajuste salarial que o governo federal propôs apenas aos policiais.
Aos investidores, nessa queda de braço, vêm à memória uma novela em que os capítulos finais podem reprisar os de anteriores em que, em igual circunstância, o Supremo Tribunal Federal (STF), em resposta a uma ação, poderia vir a conceder liminar estendendo reajuste a todos os servidores.
Uma decisão do Supremo à eventual ação movida por uma categoria em favor de todo o funcionalismo resultaria em uma conta adicional de bilhões de reais que faria implodir as contas públicas e levar a pique o equilíbrio fiscal, em um cenário de grande temor com a inflação.
Pressões sobre a inflação também preocupam o mercado
Preocupa também uma inflação que dá sinais de desaceleração, mas tende a permanecer elevada, neste e nos próximos anos, apesar da política monetária dura do Banco Central. Economistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central no último boletim Focus divulgado no dia anterior revisaram de 5,03% para 5,09% a inflação projetada para este ano.
A estimativa está acima da meta inflacionária central de 3,50% e do teto de 5,00% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano. Mais que isso, uma projeção que pode passar por novas revisões para cima à medida que se sucedem os reajustes de combustíveis, um dos principais itens que têm pressionado a inflação.
Nesse cenário, um desarranjo fiscal provocado por um reajuste generalizado de salários de servidores, colocaria mais lenha na fogueira da inflação que a política monetária do Banco Central deixaria de funcionar para manter a estabilidade monetária.
Uma situação em que a economia passaria a ser comandada pelo que os economistas chamam de dominância fiscal, em que o Banco Central deixaria de elevar os juros, que perderia eficiência como instrumento de controle da inflação, com o agravante de inchar ainda mais a dívida pública, pelo impacto que provoca no custo da dívida atrelada à Selic.
Exterior
Nova York: futuros em queda com salto dos Treasuries
Os futuros de ações dos Estados Unidos operam em baixa nesta terça-feira, a exemplo do que se viu em praticamente todas as bolsas asiáticas - com exceção da China - em meio a um salto nos rendimentos do Tesouro, com os investidores se preparando para aumentos nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para conter o avanço da inflação.
O rendimento dos títulos da dívida americana para dois anos passou de 1%, pela primeira vez desde fevereiro de 2020, enquanto os rendimentos de 10 e 30 anos também subiram. Dessa forma, os pedidos para que o Fed aja mais rapidamente para conter as pressões sobre os preços tem sido uma crescente em Wall Street.
A temporada de balanços corporativos segue a todo vapor. O banco Goldman Sachs apresenta seus números do quarto trimestre ao longo do dia. Segundo especialistas, uma questão-chave agora é avaliar se os lucros das empresas serão suficientes para trazer o otimismo de volta, apesar dos custos mais altos, dos desafios da ômicron e do aperto da política monetária em algumas economias importantes.
Futuros/bolsas de Nova York
- S&P 500: - 1,16%
- Dow Jones: 0,86%
- Nasdaq 100: - 1,87% (dados atualizados às 7h48)
Europa: bolsas em queda
Na zona do euro, os principais mercados operam em queda, com a política americana no radar e o avanço da variante ômicron pelo continente. Os investidores também repercutem os dados econômicos da Alemanha nesta terça-feira. Segundo o instituto alemão Zew, o índice de expectativas econômicas do país subiu de 29,9 pontos em dezembro para 51,7 pontos em janeiro.
O resultado deste mês superou as expectativas dos analistas, que previam um avanço do indicador a 32,5 pontos. Por outro lado, o índice de condições atuais medido pelo instituto teve piora no período, ao cair de -7,4 para -10,2 pontos.
Movimentação/principais praças europeias
- Stoxx 600 (Europa): - 0,49%
- FTSE 100 (Londres): - 0,75%
- DAX (Frankfurt): - 1,14%
- CAC 40 (Paris): - 1,08% (dados atualizados às 7h50)
Ásia: bolsas fecham em baixa com EUA
As bolsas asiáticas concluíram o pregão desta terça-feira majoritariamente em baixa, à medida que os investidores voltam a focar sua atenção na perspectiva de aperto monetário nos Estados Unidos. Por outro lado, o Banco do Japão (BoJ) não apenas reafirmou sua política ultra-acomodatícia, como descartou a possibilidade de aumentar juros antes que a inflação convirja para sua meta oficial de 2%.
O Fed vem sugerindo que deverá anunciar sua primeira elevação de juros em março, diante da persistência da inflação alta e à medida que o mercado de trabalho segue se recuperando dos impactos da pandemia de covid-19. / com Júlia Zillig e Agência Estado
Fechamento/principais bolsas asiáticas
- Nikkei (Tóquio): - 0,27% (28.257 pontos)
- Hang Seng (Hong Kong): - 0,43% (24.112 pontos)
- Kospi (Seul): - 0,89% (2.864 pontos)
- Taiex (Taiwan): - 0,79% (3.569 pontos)
- Xangai Composto (Xangai): + 0,80% (3.569 pontos)
- S&P/ASX 200 (Sydnei): -0,11% (7.480 pontos)