Vale a pena comprar dólar ou euro, agora que há paridade entre as duas moedas?
Com taxas de juros em alta nos Estados Unidos, moeda americana pode se valorizar ainda mais frente o euro
Após a divulgação da inflação americana em junho - que veio acima das expectativas do mercado e chegou a 9,1% no acumulado em 12 meses, o maior nível desde 1981 - o euro chegou à paridade com o dólar pela primeira vez em 20 anos. A taxa de câmbio entre as duas divisas permaneceu praticamente estável e, apesar de uma leve alta, no fechamento do pregão desta segunda-feira, 18, um euro equivalia a US$ 1,01.
Após um intenso processo de desvalorização frente outras divisas, o dólar chegou à equivalência com o euro. Em relação ao real, a moeda comum da União Europeia já recuou 8,27% em 2022, com base na cotação do último pregão. A queda ante a moeda americana é ainda mais expressiva, de mais de 80% no acumulado do ano até aqui. Neste contexto, vale mais a pena investir em euro ou em dólar?
Cotação do euro em queda e dólar subindo
De acordo com Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio, independentemente do prazo, é importante todo investidor ter uma parte do seu patrimônio alocado em outras moedas, sobretudo nas mais seguras do mercado. Assim, embora o euro tenha apresentado uma forte baixa nos primeiros meses do ano, é necessário ter cautela quanto ao futuro da moeda.
O especialista ressalta que o dólar americano "ainda é a moeda mais segura do mundo e é para onde os investidores fogem em momentos de estresse global". Em um cenário repleto de incertezas, então, a tendência é que a moeda dos Estados Unidos continue ganhando força frente outras divisas - protegendo o patrimônio de quem investe em dólar -, o que pode se estender para o euro.
No mercado financeiro e no cotidiano, é comum que as pessoas aproveitem os momentos de baixas para comprar uma moeda por preços mais baixos. O que vem acontecendo com o euro recentemente, mas os analistas pontuam que a parcimônia é amiga neste momento, principalmente para quem vai investir ou comprar em grandes quantidades, já que a moeda pode cair ainda mais.
Taxas de juros devem impactar cotações
Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, explica que, do ponto de vista técnico, há um "valor represado" para o euro. Ou seja, há espaço para que a moeda da União Europeia passe por um período de valorização. Em contrapartida, a situação macroeconômica do bloco, com inflação elevada e atividade comprometida sobretudo pela guerra da Rússia na Ucrânia, pode impedir que a moeda se recupere.
Para Steiman, não há como cravar se o euro vai permanecer nessa curva de desvalorização, assim como também é incerta uma possível trajetória de alta. O especialista aponta que "para entendermos melhor os movimentos das moedas (euro e dólar), temos que acompanhar as decisões monetárias globais, bem como os níveis de inflação e atividade".
Na próxima quinta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) deve elevar pela primeira vez desde 2011 suas taxas de juros, o que pode levar a uma migração do capital global para a União Europeia, já que, com juros mais altos, os rendimentos dos títulos públicos e outros ativos da renda fixa também passam a entregar resultados maiores.
No entanto, na semana que vem, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) também realizará sua reunião de política monetária e, para a ocasião, o mercado já precifica uma alta de pelo menos 0,75 ponto percentual para as taxas de juros dos Estados Unidos, levando-as para um patamar entre 2,25% e 2,50% ao ano.
Lima explica que o Fed iniciou seu processo de altas no juros muito antes do que o BCE deve iniciar, beneficiando a divisa americana frente à europeia. As projeções apontam, ainda, que o aperto monetário nos Estados Unidos deve elevar os juros a um nível próximo a 4%, enquanto na União Europeia o patamar máximo deve chegar a 1,5% ao ano, destaca o especialista. O BCE, porém, enfrenta um problema de desaceleração econômica no bloco mais iminente, com a guerra no leste europeu, o que pode limitar sua atuação com os juros.
“Em um cenário de inflação global, com apertos monetários mundo afora e grande aversão a risco, é natural que ocorra uma corrida pela moeda mais segura, que é o dólar. Os EUA já começaram a subir juros, mas a Europa ainda não, o que prejudica o desempenho do euro. A inflação é global, mas a questão europeia é complicada devido à grande dependência energética da Rússia.”
Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio
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