O que é o CDS e Risco País? Como isso afeta meus investimentos?
Risco. Que palavrinha chata e tão presente no universo das finanças. Na verdade, o risco é inerente ao processo de investimentos e é bom que assim…
Risco. Que palavrinha chata e tão presente no universo das finanças.
Na verdade, o risco é inerente ao processo de investimentos e é bom que assim seja.
Se não tivesse nenhum risco, não teríamos que ser remunerados por investir.
Mas o risco é perigoso. Uma coisa é emprestar dez reais para o seu cunhado desempregado. O risco é grande, mas administrável.
Outra coisa é uma dívida trilionária, como a dos países.
É isso que vamos abordar no texto de hoje. O risco soberano, ou simplesmente, risco país.
Por isso, continue lendo para saber mais sobre:
O que é risco País
Mensuração do risco Soberano: CDS e EMBII
Como afeta meus investimentos
O que é Risco País
O risco país, ou risco soberano como chamei no início do texto, trata-se do maior risco macroeconômico existente, pois trata-se do risco que um país inteiro está incorrendo.
Todos os países têm dívida. Uns mais outros menos.
O ponto é que o governo gastou mais do que arrecadou e precisou se financiar através de títulos.
Essa dívida, obviamente precisa ser paga ou no limite, “rolada para frente”.
Os países podem, então, (i) amortizar uma parcela dessa dívida; (ii) pagar somente os juros dessa dívida ou (iii) não conseguir pagar a integralidade dos juros e precisar se financiar ainda mais.
O risco país está relacionado à capacidade de pagamento que o país tem de sua dívida e como ele irá pagar.
Países com boa capacidade de pagamento de sua dívida têm um risco de calote menor.
Por outro lado, países com dificuldades possuem grande risco de dar calote. Foi o que aconteceu com o nosso país na década de 80.
Não conseguimos pagar nossa dívida e tivemos que reescalonar ela, recorrendo ao FMI.
Mas isso não é uma peculiaridade nossa. Vários outros países emergentes passaram pelo mesmo como México, Argentina, Rússia.
O fato é que a capacidade de pagamento da dívida está ligada ao aspecto fiscal do país. É por isso que esse assunto vem ganhando bastante importância no Brasil.
Para isso ficar mais claro, antes preciso ainda apresentar um conceito.
Existem dois tipos de déficit fiscal: o primário e o nominal.
O primeiro pode ser entendido como uma empresa: quanto se arrecada e quanto se gasta. Caso se gaste mais do que se arrecada, tem-se déficit primário e vice-versa.
O déficit nominal, por outro lado, já inclui além do déficit primário, outro elemento: os juros que são pagos pela dívida.
É por isso que o déficit nominal é sempre maior que o déficit primário. No Brasil hoje eles são 1,25% e 7,45% do PIB. A dívida bruta do Brasil está em 77,3% do PIB (ou incríveis 5,2 trilhões de reais!).
Portanto, é importante gerar superávit primário para conseguir, além de pagar os juros, amortizar a dívida. É só assim que o país consegue se estabilizar a dívida.
Assim, de forma direta, quanto mais saudável for a situação fiscal do país, menor será seu risco soberano.
Mensuração do risco soberano: CDS e Embi+
Ok, já entendi como o risco de um país aumenta ou diminui. Mas será que existe algo “palpável” para medir esse risco?
Sim, existe. E as formas mais utilizadas são através do CDS e do EMBI+
O CDS – Credit Default Swap – é o mais conhecido desses instrumentos. Traduzindo do inglês, fica mais ou menos um “swap de crédito contra um calote”.
Então, de forma simples, o CDS é uma forma de seguro que remunera o detentor desse título quando o país dá calote. O detentor do CDS está buscando proteção contra o calote da dívida do país.
Por exemplo, se um investidor compra proteção contra um evento de crédito para US$100 milhões em ativos soberanos brasileiros por 5 anos (CDS 5Y do Brasil), com prêmio anual de 200 pontos-base, fará pagamentos periódicos de US$2 milhões ao vendedor da proteção.
Isso quer dizer que quanto maior o risco de um país dar calote, mais caro as pessoas aceitam pagar por um seguro contra esse risco. Por isso podemos dizer que quanto maior o preço do CDS, maior o risco país.
Ou seja, quanto maior o nível do CDS, maior a probabilidade de o país dar calote e, consequentemente, maior o risco-país.
Já o EMBI+ - Emerging Markets Bond Index Plus – é calculado pelo banco de investimentos JP Morgan e também é muito utilizado no mercado financeiro.
O EMBI+ opera de maneira um pouco diferente. Trata-se da diferença entre os prêmios pagos pelos títulos brasileiros em relação aos títulos americanos, tidos como os mais seguros do mundo.
Por serem os mais seguros do mundo, os títulos americanos sempre pagarão um prêmio de risco menor.
A lógica é que cada 100 pontos do EMBI+ representam o pagamento de 1% de juros dos títulos brasileiros a mais que os títulos dos Estados Unidos.
Por exemplo, imagine que os títulos americanos tenham uma taxa de 3% e os títulos brasileiros de mesmo prazo oferecem uma taxa de 6%. O Risco-País ou Risco-Brasil será de 300 pontos ou de 3% (6% – 3%).
As empresas de classificação de risco utilizam o CDS como uma das medidas para dar o rating do país.
Como afeta meus investimentos
Ora, você entendeu que o risco soberano é o risco do país.
Como disse, é o risco mais importante no contexto macroeconômico, pois indica a capacidade de solvência de um país inteiro.
Se a própria união não for confiável em honrar seus compromissos, toda a economia desse país não inspirará confiança. Mesmo empresas sólidas serão olhadas com desconfiança pelos investidores.
Isso afeta tudo!
Os preços dos títulos irão despencar, o dólar aumentará de forma sistemática, bolsa irá cair, enfim, uma crise de confiança tremenda.
Só um ponto em relação aos títulos de renda fixa: caso você tenha um rendimento de, digamos, 8% a.a. prefixado, isso não muda. Você será remunerado até o vencimento (se o país não der calote). Ou seja, você só será afetado se vender o seu título antes do vencimento, além obviamente de quando decidir comprar novos títulos.
Mas lembre-se que os preços dos títulos se alteram todos os dias e podem ocorrer oportunidades de especulação com eles.
De forma geral, o risco país é um conceito importante, que pode afetar todos outros ativos de uma economia.
Se o risco país se eleva, os ativos (Bolsa, câmbio e juros) tendem a ter uma deterioração forte. Caso o risco país caia, esses ativos terão uma boa performance.
Ambos os casos podem ser uma oportunidade ou um problema dependendo de como você estiver posicionado sua carteira de investimentos.
Conclusão
O risco país é um indicador macroeconômico da maior importância!
Ele afeta a economia como um todo e, consequentemente os ativos e seus investimentos também.
A métrica fiscal, tão comentada hoje em dia, é uma boa forma de indicador do risco do país. Quanto melhor a situação fiscal do país, menor tende ser seu risco.
Também existem métricas para mensuração desse risco. São elas o CDS e o EMBI+. Elas indicam muita coisa, inclusive o rating do país.
Mas e aí, ainda ficou com alguma dúvida sobre esse assunto? Comente abaixo o que achou desse texto!
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