Renda Fixa

O que é CRI e CRA (Certificado de Recebíveis) – Vale ou não a pena investir?

No mês passado o Banco Central baixou mais uma vez a taxa básica de juros e agora a taxa Selic se encontra no patamar mais baixo…

Data de publicação:12/04/2018 às 09:14 - Atualizado 4 anos atrás
Compartilhe:

No mês passado o Banco Central baixou mais uma vez a taxa básica de juros e agora a taxa Selic se encontra no patamar mais baixo da história.

Esse ambiente, apesar de bom para economia como um todo, implica que devemos buscar outras formas de investimento mais sofisticadas e rentáveis, muito além da poupança e outros investimentos tradicionais dos grandes bancos.

Conhecer a maior quantidade de alternativas de investimentos é primordial, portanto.

Por isso hoje resolvemos falar sobre títulos que são alternativas viáveis nesse momento: os chamados Certificados de Recebíveis, tanto o Imobiliário quanto o de Agronegócio.

Ou para os mais íntimos, simplesmente CRI e CRA.

Portanto, continue lendo para saber mais sobre:

  1. O que é CRI e CRA
  2. Riscos
  3. Vantagens
  4. Desvantagens
  5. Como investir

O que é CRI e CRA

Para entender ainda mais sobre esta temática produzimos uma série contando tudo para você, para acompanhar é só clicar aqui abaixo:

Para simplificar, falarei de ambos títulos em conjunto pois a operacionalização, isto é, como se forma o crédito, riscos e tributação são semelhantes. Eles diferem apenas da natureza do lastro.

Em outras palavras, o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) tem relação com o financiamento de imóveis em geral, enquanto que Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é voltado ao desenvolvimento do mercado rural.

Esses títulos são securitizações de um recebível, um direito a receber.

Imagino que devo ter falado “grego” para você agora. Então vamos dar um passo atrás e entender melhor o que é securitização: o processo de “securitizar” é transformar algum rendimento que se dará no futuro em rendimento no presente.

Pronto, entrou um terceiro fator (a securitizadora) que complica mais um pouco o entendimento.

Portanto para descomplicar, acompanhe o seguinte exemplo:

Imagine que uma construtora “ABC” tenha vendido 80 apartamentos na planta de um novo prédio para diferentes famílias. E suponha também que todos esses apartamentos foram financiados em 120 meses (10 anos) por R$ 300.000,00 por cada apartamento, já considerando todos os custos, inclusive dos juros do parcelamento.

Agora a construtora tem um grande problema na mão: ela precisa desse dinheiro hoje para começar a executar a construção desse prédio, mas só vai receber pequenas parcelas mensais que mal pagam a mão-de-obra, quanto mais matéria prima e outros custos.

Portanto, para a construtora em si, não faz sentido receber esse dinheiro em parcelas, mesmo que receba uma taxa de juros para isso. Construir imóveis é seu negócio, não ganhar juros.

As construtoras precisam receber esse dinheiro à vista para realizar sua atividade imobiliária. Por outro lado, para outras pessoas que tenham dinheiro sobrando para investir a longo prazo, receber o parcelamento pode fazer todo o sentido se a taxa de juros que remunerar seu dinheiro for interessante. Então o que a construtora “ABC” do nosso exemplo poderia fazer nesse caso?

Uma alternativa viável seria simplesmente passar esse investimento para um (ou vários) desses investidores, exatamente como se estivesse vendendo um título no mercado secundário. O “título”, no caso, seria o contrato de financiamento assinado por cada comprador dos apartamentos.

Dessa forma, a construtora “ABC” receberia o valor à vista com algum desconto, como por exemplo, R$ 250.000,00 por apartamento, e o investidor receberia os R$ 300.000,00 parcelados ao longo dos 10 anos. Ou seja, nessa negociação a construtora conseguiria o dinheiro para realizar suas atividades e o investidor teria ganhos com seu dinheiro ao longo do tempo.

Só faltou um detalhe nessa negociação toda. Como o negócio da construtora “ABC” não é mercado financeiro, você concorda que ela teria dificuldades em reunir 80 investidores com esse valor disponível?

É justamente por isso que entra o prestador de serviços conhecido como Securitizadora. São as securitizadoras que têm como papel ser o intermediário que irá unir a necessidade da construtora “ABC” e quaisquer outras ao dos investidores.

E não apenas isso!

As securitizadoras também pegam todos os 80 contratos dos financiamentos e os coloca dentro de uma única embalagem mais simples e organizada para, então, entregar prontinha na porta de cada investidor.

Essa “embalagem” no mercado financeiro seria o título, ou mais precisamente no nosso exemplo, um CRI.

A “porta” do investidor seria simplesmente a prateleira de opções de investimentos disponibilizada pelo seu banco ou corretora.

Como disse, o que difere o CRI do CRA é apenas a natureza do crédito.

Portanto é só imaginar que para um CRA não fosse a “venda de apartamentos para viabilizar uma construção”, mas a venda de boi gordo para viabilizar sua produção.

Riscos do CRI e CRA

Como você pôde ver, o CRI e CRA se assemelham a um FIDC. Assim como no FIDC, para o CRI e CRA a principal fonte de risco é o calote dos recebíveis, ou seja, o risco de crédito.

Como trata-se, em geral, de um financiamento longo (mais de 10 anos muitas vezes), muita coisa pode acontecer nesse intervalo de tempo.

Por mais que a inadimplência no financiamento imobiliário seja relativamente baixa, um evento de não pagamento compromete todo fluxo de pagamentos do investimento.

É sempre bom ficar ligado.

Um fato que minimiza o risco é que em financiamentos imobiliário, o próprio imóveis é dado como garantia. Mas nem todo CRI tem essa forma de proteção.

Em geral, nos investimentos, olhamos para quem está nos vendendo o título para assim verificar a confiabilidade que ele passa.

No caso, a securitizadora é quem vende os títulos, mas aqui devemos mesmo olhar para a fonte de recursos (compradores de imóveis, grandes empresas produtoras de alimentos, etc.).

De qualquer forma, existem ratings em CRI e CRA que te ajudam bastante nessa árdua tarefa de analisar tudo sozinho.

Sabendo dos riscos, passemos ao que sobressai nesses investimentos.

Vantagens do CRI e CRA

A primeira e mais direta vantagem é a rentabilidade atrativa que o CRI e o CRA proporcionam.

Existem variadas formas de contabilizar a rentabilidade desses investimentos, mas em geral, são muito atrativos, girando em torno de 6-7% de ganho real, atualmente.

Os CRI e CRA podem ter a rentabilidade calculada como: pós-fixada (geralmente indexada a um % do CDI), híbrida (como CDI + adicional de juros fixo ou Índices de preços) ou Taxa Prefixada.

A segunda vantagem, que também irá influenciar na primeira, é o benefício tributário. Afinal, esses são investimentos isentos de imposto de renda para pessoa física e nem mesmo o IOF incide sobre eles.

Ambas vantagens irão na direção de retorno elevado que esses títulos proporcionam.

Como sempre, não deixamos as desvantagens de fora. Vamos à elas.

Desvantagens do CRI e CRA

CRA e, em especial CRI, estão ligados a securitizações de grandes financiamentos (imobiliários chegam a durar 20-30 anos).
Sendo assim, uma desvantagem desse investimento é o tempo. São aplicações de longuíssimo prazo e que podem, de certa forma, “engessar” suas finanças.

A segunda desvantagem desses investimentos é a baixa liquidez. Lembre-se que liquidez está relacionada à facilidade de se desfazer do investimento (transformá-lo em dinheiro).

O mercado secundário de CRI e CRA ainda está engatinhando, então nem sempre possui muitos investidores atuando nele.

O mercado brasileiro também se acostumou a ter sempre uma proteção extra que diminui os riscos: o FGC, fundo que assegura até R$ 250 mil de seus investimentos.

Entretanto, não há cobertura do FGC para CRI e CRA.

Com o amadurecimento desse mercado, algumas desvantagens tendem a diminuir, como a baixa liquidez. Enquanto isso não ocorre, esteja sempre atento a elas.

Também se lembre sempre de diversificar seus investimentos, aplicando uma pequena parcela do seu capital em diferentes CRI e CRA e nunca concentrando seu dinheiro em poucos deles.

Como Investir em CRI e CRA

Agora que já conhece os riscos, vantagens e desvantagens do CRI e CRA, vamos verificar como investir nesses títulos.

Como CRI e CRA implicam uma terceira parte não relacionada à natureza do crédito na estruturação, seu entendimento é um pouco mais complicado do que outros investimentos. Além disso, um risco de inadimplência é sempre um risco alto, difícil de diversificar.

Dessa forma, CRI e CRA, em geral, são aplicações para investidores qualificados. Isso não é uma regra, mas geralmente é assim que funciona.

O jeito mais fácil de investir é através de uma corretora ou banco, apesar de que você também poder ir diretamente à securitizadora para comprar o título (o que é pouco recomendável por conta da complexidade disso).

Uma securitizadora conhecida no mercado é a BFRE, especialistas em CRI e CRA.

O recomendável é ter sempre cautela e analisar todas as opções antes de investir.

Conclusão

No momento de juros baixos que vivemos, devemos sempre olhar para todos investimentos disponíveis no mercado e o CRI e o CRA são boas opções nesse sentido.

Não se iluda pelos altos retornos desses títulos, nem desanime com as desvantagens. Tenha sempre como opção de mais uma cesta para colocar seus ovos.

Caso você tenha gostado desta opção de investimento, saiba que este aqui é só um trecho adaptado retirado do nosso Livro aqui do Mais Retorno. Garanta já o seu exemplar, é totalmente gratuito: Investidor Especialista. 

E se ficou com alguma dúvida adicional ou quer contribuir mais com o assunto, comente abaixo!

Compartilhe esse conteúdo com mais investidores que você deseja ajudar a conquistar Mais Retorno investindo de forma inteligente em CRI e CRA.

Sobre o autor
Vinicius AlvesEconomista, atuou no departamento econômico de empresas de sell side no mercado financeiro. Já foi Top-5 de projeção de inflação de curto prazo do BC.
Mais sobre