O que é Inflação? Proteja-se dela investindo!
“Combater a inflação congelando preços equivale a tentar curar a febre destruindo termômetros.” Essa frase é do economista Mário Henrique Simonsen (que na verdade é engenheiro…
“Combater a inflação congelando preços equivale a tentar curar a febre destruindo termômetros.”
Essa frase é do economista Mário Henrique Simonsen (que na verdade é engenheiro mas que considero o maior economista que o Brasil já teve).
A frase trata de um problema que infelizmente nós brasileiros conhecemos a fundo. Passamos vários anos com o problema da hiperinflação no Brasil, em que as pessoas eram obrigadas a correr ao supermercado e fazer compras logo que recebiam o salário.
Mas o que um fenômeno relacionado aos preços dos produtos nos supermercados tem a ver com investimentos? O que preciso entender para ganhar mais ou menos dinheiro no mercado financeiro? O que se faz para combater a inflação? Como ela é medida?
São essas perguntas que vamos responder nesse texto para que a inflação, tão presente na vida dos brasileiros, não te deixe mais pobre.
- O que é inflação
- Como ela é medida
- Quais os principais índices
- Como ela afeta meus investimentos
- Rendimento Nominal x Rendimento Real
- Como me proteger da inflação
O que é inflação
A definição que todo economista tem na língua é: aumento geral do nível de preços. Formalmente é a perda de valor da sua moeda.
Mas o que isso quer dizer? Na prática, ocorre inflação quando o preço de todos bens (ou uma parcela representativa do consumo) aumenta. Ou seja, não basta apenas o preço, por exemplo, da gasolina (e como está alto esse preço!) aumentar para que ocorra inflação.
O exemplo é bem representativo do nosso caso atual. Em 2017, a gasolina subiu 10,32% e mesmo assim tivemos a taxa de inflação mais baixa desde 1998.
Por isso a inflação implica em perda de valor da moeda, afinal a mesma quantidade de dinheiro compra menos produtos quando ela ocorre.
O livro Investidor Especialista (que você pode ter acesso gratuitamente aqui no Mais Retorno), traz um exemplo prático muito bom desse efeito!
Você consegue lembrar o quanto você poderia comprar com R$ 100,00 em 2000? Apenas para refrescar sua memória, dê uma olhada no folheto de promoções do supermercado extra do ano 2000:
Até dói no coração saber que uma latinha de Brahma custava apenas R$ 0,57. Hoje a mesma latinha de Brahma de 350ml custa em torno de R$ 3,00.
Sim, você poderia comprar 5 latinhas com os mesmos R$ 3,00 em 2000!
Dessa forma fica fácil perceber como seu dinheiro perde valor no tempo. Mas como o impacto desse fenômeno é medido?
Como a inflação é medida
Como introduzi no exemplo da gasolina, não basta que o preço de um único produto aumente. Afinal, ninguém vive só de gasolina e nem gasta toda a sua renda consumindo combustível.
A maioria das famílias divide o consumo de sua renda em diversas áreas como alimentação, moradia, vestuário, saúde, dentre outras categorias.
Por isso, a inflação é mensurada em função de todos os preços de uma “cesta” que representa o padrão do consumidor (entenda-se consumidor médio já que temos diferentes gostos de consumo).
Dessa forma, atribui-se pesos para os diferentes produtos de acordo com quanto esse consumidor médio gasta de sua renda naquele produto.
Depois dessa ponderação, é só ver quanto o preço de cada item subiu ou caiu de um período para outro. Ou seja, se a gasolina subiu mais de 10%, mas o de outros itens subiu menos ou até mesmo reduziu seu valor, então na média final o valor será mais baixo.
O gráfico abaixo preparado pelo pessoal do Terraço Econômico mostra perfeitamente esse efeito ocorrido no IPCA de 2017:
Portanto a inflação de um período será a soma dessas variações multiplicada pelo peso de cada produto que vai variar de acordo com a metodologia de cada índice. Em resumo, uma média (ponderada) das variações de preço.
Sabendo agora o que ela é e como é calculada, cabe a próxima pergunta: como acompanhar a inflação ao longo do tempo?
Quais os principais índices de inflação
Como dito acima, a inflação é calculada com base em um consumidor representativo.
Logo, como posso escolher o consumidor representativo que eu desejar (com base em meu orçamento e padrão de consumo), existem diversas maneiras de calcularmos inflação.
E é por esse motivo que temos os mais variados índices que medem o mesmo fenômeno e resultam em números diferentes.
Por isso separei aqui os principais e mais importantes índices de inflação que você deve conhecer no Brasil:
(i) Vamos começar pelo oficial e mais importante, o IPCA. O IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) é calculado pelo IBGE, instituição de estatísticas oficial do Brasil e é aquele que o jornal divulga como sendo a inflação do país.
O consumidor mediano para o IPCA são as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, residentes de áreas urbanas. É feita uma coleta entre o começo e o termino do mês e verifica-se a variação de preços nesse período em relação ao período anterior. Maiores detalhes você encontra no site do próprio IBGE.
O IBGE faz uma revisão da cesta de produtos que compõem o IPCA periodicamente. A última foi feita em 2010.
(ii) Outro índice importante é o IGP-M. Este índice é calculado pela FGV e é bem mais antigo que o IPCA, na verdade. Calculado desde os anos 1940.
O IGP-M é composto de outros três índices: 60% do IPA (índice de preços no atacado) que leva em conta os preços para empresas. 30% de IPC (índice de preços ao consumidor) que, como o nome diz, leva em conta preços ao consumidor final e 10% de INCC (índice de preços a construção civil) que tem como alvo os custos das obras.
Como tem em sua composição os preços das obras, o IGP-M é comumente usado para reajustes de contratos de aluguel. Por isso, você já pode ter ouvido “a inflação de aluguel variou x%”.
(iii) Outro indicador importante é o IPC-Fipe, calculado pela Fipe, mede apenas os preços da cidade de São Paulo. O consumidor representativo são as famílias de 1 a 40 salários mínimos.
Além desse indicadores citados, ainda temos outros menos importantes. Muitas vezes são índices mais específicos, que buscam mensurar uma atividade especifica, como o IPP (índice de preços ao produtor), o SINAPI (custos da construção civil), o FIPE-ZAP (índice de preços dos alugueis), o IPC-3 (índice ao consumidor da terceira idade, entre outros.
Em geral, você só precisará se preocupar de verdade com o IPCA e o IGP-M. São esses indicadores que terão maior representatividade do seu poder de compra a longo prazo.
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Ok! Agora o primordial, qual a relação disso tudo com o meu dinheiro?
Como a inflação afeta meus investimentos
Após essa imersão em inflação dos últimos tópicos, necessária para termos propriedade sobre o assunto, agora vamos finalmente para a parte mais interessante: como vai afetar meus rendimentos.
Se eu te falar que consegui um rendimento que remunera a 10% ao ano (lembrando que a taxa básica de juros da economia atual é 6,75% ao ano) você ficaria satisfeito?
Parece um rendimento atrativo, porém a resposta correta é “depende” (economista adora ficar em cima do muro, eu sei).
Mas depende do que, oras?
Depende da inflação do período. Caso o aumento dos preços tenha sido de 20%, na verdade, você perdeu dinheiro com essa aplicação. Explico melhor:
Com o rendimento que ofereci para você optar, seu ganho seria de R$100,00 caso investisse R$ 1.000,00 ao longo de um ano. Porém como a inflação hipotética foi de 20% nesse mesmo período, os R$ 1.100,00 acumulados no final comprariam menos produtos que os R$ 1.000,00 iniciais!
Trazendo nosso exemplo hipotético para a prática, digamos que um notebook custe R$ 1.000,00 no começo do ano. Você sorridente conseguiu aquele rendimento de 10% ao ano e decidiu postergar a compra do notebook para o ano seguinte.
O ano passa e você resgata seus R$1.000,00 feliz da vida achando que vai comprar o seu notebook e ainda pegará aqueles R$ 100,00 extras para gastar no que bem desejar.
Ao chegar a loja, você se surpreende ao ver que o preço desse notebook agora é de R$ 1.200,00 (o preço anterior mais a inflação do período).
Mesmo aqueles R$ 100,00 extras que seu investimento rendeu não serão suficientes para comprar o notebook depois de um ano de espera.
Rendimento Nominal x Rendimento Real
É justamente esse o efeito perverso da inflação e por isso todo investidor deve estar sempre atento a ela!
Daí surgem dois conceitos importantes: rendimento nominal x rendimento real.
O rendimento nominal diz apenas quanto se ganhou na aplicação. Pura e simplesmente. São aqueles 10% do exemplo acima, que produziram os R$ 100,00 ao longo de um ano.
O rendimento real, por outro lado, desconta a inflação desse ganho e é nele que estamos sempre interessados.
Para conseguirmos encontrar essa rentabilidade real, o cálculo é bem, simples:
Dessa forma, se um investimento inicial de R$ 100,00 se transformou em R$ 110,00 (10% de rendimento nominal), com uma inflação de 6% no período do investimento, dizemos então que esse investimento teve uma Rentabilidade Real de 3,77%.
Veja como ficaria esse cálculo na prática de acordo com a fórmula acima:
Traduzindo para o português, isso quer dizer simplesmente que depois do seu investimento, você poderá comprar 3,77% produtos a mais do que antes.
Se nesse exemplo a inflação fosse maior que o rendimento normal, então o valor final do rendimento real seria negativo.
Ou seja, você estaria literalmente perdendo dinheiro depois do investimento.
É por isso que precisamos sempre avaliar nossos investimentos pela ótica da rentabilidade real e nunca apenas pela nominal, uma vez que é a primeira que vai nos garantir um enriquecimento verdadeiro no longo prazo.
Agora vem o verdadeiro pulo do gato: como garantir que seus investimentos tenham sempre ganhos reais positivos?
Como me proteger da inflação
O mercado financeiro é de suma importância para você se proteger da inflação e ele oferece diversos mecanismos com esse objetivo.
Lembra do folheto de preços lá do começo do texto? Agora imagine que você tivesse deixado aqueles R$ 100,00 dos anos 2000 debaixo do colchão até hoje.
O resultado é que 18 anos depois, em vez de comprar 175 latinhas de Brahma e bancar um churrascão pra turma toda, agora você mal conseguiria completar 3 fardinhos de cerveja.
Você precisa, portanto, de uma valorização de pelo menos a inflação do período só para manter o valor do seu dinheiro no tempo.
Assim, você deverá sempre buscar as aplicações que se igualarem ou preferencialmente superem a inflação.
Estamos em um período de baixíssima inflação nos últimos meses, porém o patamar “normal” para o Brasil é de cerca de 5,5-6% de inflação ao ano. Dessa forma precisamos de taxas de juros pelo menos maiores que esse valor para nos protegermos da inflação.
Um instrumento que oferece, com certeza, rendimento real positivo são os Títulos Públicos chamados Tesouro IPCA (também conhecidos como NTN-B).
O legal desse título é que ele oferece um rendimento fixo acima do IPCA. Atualmente é possível encontrar títulos pagando cerca de 5% ao ano + IPCA para investimentos de longo prazo.
Portanto com esse tipo de aplicação financeira, independente da inflação do período, você teria 5% de ganho real garantidos.
Apesar da NTN-B ser o investimento mais conhecido por já ser diretamente atrelada ao IPCA, existem diversos outros investimentos que oferecem uma rentabilidade real como alguns CDBs e LCs, LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e Debêntures.
Isso sem falar de outros investimentos menos óbvios mas que costumam carregar uma grande correlação com a inflação protegendo os investidores indiretamente como os Fundos Imobiliários (que pagam aluguéis reajustados pelo IPCA ou IGP-M), Fundos de Inflação (que tem justamente essa função) e até mesmo o mercado de ações (afinal de contas as empresas possuem ativos e sua própria produção de bens e serviços que costumam ser corrigidos pela inflação de tempos em tempos).
Como visto, alternativas não faltam para fazer um investimento de qualidade e focado no crescimento do seu patrimônio financeiro no longo prazo.
Conclusão
O que precisamos extrair desse texto é simples e direto: jamais olhe apenas a rentabilidade nominal e preocupe-se sempre com a inflação.
Lembre-se de sempre avaliar seus investimentos pela ótica do rendimento real. Uma taxa de retorno exorbitante não vale muita coisa caso o nível de preços geral da economia seja ainda maior.
Diversas aplicações já fornecem juros reais (citei apenas algumas), ao aplicar em renda fixa. Começar por estes investimentos é uma boa ideia!
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