O que Bolsonaro pretendia com as manifestações de 7 de Setembro?
Ruptura democrática, pressão sobre o Congresso ou energizar a base de apoio? Economista faz sua análise
Na esteira dos últimos acontecimentos políticos, o mercado financeiro sofreu no pregão desta quarta-feira, 8, com a Bolsa de Valores derretendo ao patamar dos 113 mil pontos, e o dólar disparando a R$ 5,33.
Em resposta ao discurso do presidente Jair Bolsonaro em meio às manifestações antidemocráticas do 7 de Setembro, representantes dos Poderes e personalidades políticas se pronunciaram, com destaque para Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Falas que, no entanto, não conseguiram apaziguar os ânimos do mercado.
Nesse contexto, analistas tentam entender os objetivos do presidente com as suas falas mais duras, atacando ministros do STF e voltando a abordar pautas como o voto impresso, além de projetar os impactos que esses acontecimentos podem gerar no curto, médio e longo prazo.
Qual era o objetivo das manifestações?
O economista Alexandre Schwartsman considera que, para definir se as manifestações foram um sucesso ou um fracasso, é necessário entender quais eram os objetivos originais dos atos. "A primeira questão é o que o presidente pretendia conseguir incendiar seus apoiadores, principalmente, mas não exclusivamente, contra o STF."
Para o especialista, estes objetivos podem não ser tão claros até mesmo para o Bolsonaro. No entanto, Schwartsman trabalha com algumas hipóteses principais.
Ruptura da ordem democrática
Dentre as alternativas do tom mais duro adotado pelo presidente, a mais ousada seria a tentativa de promover uma grande ruptura da ordem democrática, culminando com a prisão (ou destituição) de alguns dos ministros do STF. Assim, Bolsonaro teria o poder de nomear novos juízes e montar o tribunal alinhado com seu projeto político.
De acordo com o economista, esse seria um objetivo muito improvável desde o início. Entretanto, ele destaca que "desde que alguém esteja muito imerso em sua própria bolha, poderia realmente acreditar que isso (a prisão dos ministros) fosse possível." De qualquer forma, "todos os ministros ainda estão lá (no STF), a ordem democrática permanece em vigor, mesmo que tensa, e a situação geral não é muito diferente da anterior aos eventos", ressalta.
Pressão sobre o Congresso
Ainda que menos ousada, mas audaciosa, outra possível intenção de Bolsonaro com os atos político poderia ser uma demonstração de poder vinda do apoio da população. Ou seja, "a voz das ruas", descreve o especialista, explicando que isso permitiria que o presidente aumentasse a pressão sobre o Congresso, ampliando sua base no Centrão.
Para Schwartsman, apesar do número expressivo de manifestantes nas ruas em São Paulo e Brasília, o apoio popular veio bem abaixo de um patamar capaz de convencer a maior parte dos parlamentares a ficar ao lado do presidente. "Os números de representantes (do Congresso) que se oporiam a qualquer ação contra o Bolsonaro devem ter permanecido praticamente inalterados pelos atos".
Energizar a base de apoiadores
Uma última alternativa para a questão de quais eram os objetivos do presidente com as manifestações pode ser "energizar sua base de apoio e, com isso, cristalizar a percepção de que ele continua sendo a principal opção à um governo de esquerda em 2022, liderado pelo ex-presidente Lula", destaca o economista, comentando que, se esse fosse o caso, a meta provavelmente foi alcançada, "o que não é pouca coisa".
Alexandre Schwartsman considera que, enquanto Bolsonaro for uma alternativa política viável, um impeachment dificilmente será votado e aprovado na Câmara.
Perspectivas
O economista considera que, dado o fraco desempenho econômico esperado para os próximos meses até outubro de 2022, vencer as eleições será uma "batalha difícil" para Bolsonaro.
"A inflação provavelmente não será tão alta como agora, assim como o desemprego. Mas, nós ainda estamos falando sobre taxas de desemprego de dois dígitos no próximo ano, que é improvável de ser puxada fortemente para baixo, uma vez que as perspectivas de crescimento da produção permanecem em torno de 1,5 a 2,0%, ante 5,0 a 5,5% em 2021", afirma o especialista.
Além disso, Schwartsman ressalta que, com os últimos ataques políticos e a tensão institucional, as pautas reformistas devem demorar ainda mais para caminhar. Simultaneamente, há preocupações em torno da questão orçamentária, tendo em vista os precatórios de cerca de R$ 90 bilhões para o próximo ano.
"Contra os ventos contrários da economia, o presidente teria que confiar na manutenção da polarização alta para ter uma chance no segundo turno da eleição, onde ele poderia presumivelmente jogar a mesma carta jogada em 2018. Se este fosse o objetivo, tão estreitamente definidos acima, os eventos claramente ajudaram o presidente a permanecer no jogo", considera o economista.