O que aconteceu com o Chess Alpha, um fundo multimercado que caiu 51% e teve o pior desempenho em 2021?
A estratégia foi equivocada nas alocações de recursos da carteira, diz analista
O Chess Alpha FIC FIM, fundo com 1.298 cotistas e patrimônio de R$ 23,747 milhões, foi o multimercado com o pior desempenho em 2021. Dos 219 fundos que tiveram performance negativa no ano passado, dentre o total de 823 pesquisados pela Mais Retorno, foi o último da lista do ranking, ao entregar uma rentabilidade negativa de 50,95%.
Afinal, o que aconteceu com esse fundo que, apesar dos percalços no desempenho, exibe captação positiva de R$ 23 mil no ano passado? Erro de gestão, barbeiragem de estratégia?
O fundo Chess Alpha tem como objetivo investir em diversas classes de ativos nos mercados de renda fixa, renda variável, cambial, derivativos e cotas de fundos de investimento, negociados nos mercados doméstico e internacional. A lâmina do fundo indica que 99% dos recursos são investidos em cotas de outros fundos de investimento.
Alexandre Binde, especialista da SVN, diz que a análise de estratégia e dos ativos do fundo aponta para uma estratégia equivocada nas alocações de recursos da carteira do Chess Alpha ao longo de 2021. “Praticamente tudo o que aconteceu no mercado seguiu em direção contrária à das apostas dos analistas que basearam as alocações desse fundo.”
O especialista afirma que, no início de 2021, a equipe do Chess Alpha trabalhava com a perspectiva de inflação sob controle no médio prazo e, apoiada nesse cenário, investiu os recursos dos cotistas basicamente em quatro ativos: ações de empresas de varejo, papeis de bancos, de empresas que atuam sob concessão de serviço público, como saneamento básico e distribuição de energia, e em dólar, na posição vendida, apostando na desvalorização da moeda americana perante o real.
A trajetória desses ativos ao longo do ano, no entanto, sofreu acidente de percurso e colidiu com as expectativas que ancoraram a estratégia do fundo. As empresas do setor de consumo de varejo, sobretudo as que souberam tirar proveito do e-commerce em 2020, foram mal das pernas no ano passado, com a segunda onda da pandemia, e sofrem até hoje.
A inflação saiu de controle e levou o Banco Central a iniciar o ciclo de elevação da Selic, que do nível histórico de baixa de 2,00% ao ano, em março, terminou 2021 em 9,25%, com viés ainda de alta em 2022.
O setor financeiro também foi atropelado pela reversão de cenário mais otimista desenhado para o ano, a partir da perspectiva de uma retomada mais forte de atividade.
Inflação e juros em alta, incertezas com as idas e vindas do coronavírus, preocupações com o furo do teto de gastos e o equilíbrio das contas, além de dúvidas com a política monetária nos Estados Unidos, turvaram o ambiente econômico. As apostas no setor de infraestrutura, com o avanço acelerado do programa de investimentos com as concessões e privatizações, também foram frustradas.
Binde, especialista da SVN, avalia que esse cenário de inflação sob descontrole, puxada principalmente pela persistente alta do dólar, elevação dos juros e forte volatilidade do varejo “andou totalmente contra a estratégia da equipe e prejudicou a performance do Chess Alpha”. Apesar do malogro em 2021, a intenção do gestor, segundo o especialista, seria pela manutenção da estratégia este ano.
Fundos multimercado acenam com ganho maior, mas com mais risco
Os fundos multimercado oferecem a possibilidade de rendimento mais atraente, embora com mais risco. O Chess Alpha desapontou o cotista em 2021, mas outros produtos dessa classe fizeram bonito no ano passado. Dos 10 fundos que tiveram maior volume de captação, quatro renderam mais de 30%, um acima de 20% e outro acima de 10%.
Volatilidade e risco fazem parte desses fundos, alertam especialistas, em que o gestor tem opções diversificadas para a alocação de recursos, tanto na renda fica como na variável: juros, ações, moeda. O ganho para o cotista poderá vir como resultado de aposta tanto na alta como na baixa desses ativos. A questão é acertar a mão, a direção dos mercados.