Nubank terá muitos desafios pela frente, apontam analistas, embora resultado tenha sido positivo em 2021
Aumento da inadimplência, dificuldade de monetizar usuários e valuation excessivo são alguns dos entraves
O Nubank reportou lucro líquido ajustado de US$ 6,6 milhões (cerca de R$ 33 milhões) em 2021, revertendo prejuízo de US$ 26,8 milhões (aproximadamente R$ 135 milhões) em 2020, segundo balanço divulgado ao mercado nesta semana. No entanto, a avaliação do mercado não foi tão positiva.
Analistas apontam algumas fragilidades nos resultados e um prognóstico menos favorável ao banco para os próximos meses.
Considerando somente o quarto trimestre do ano, o banco digital obteve um salto de 224% em sua receita líquida, para US$ 636 milhões, sendo US$ 439 milhões vindo da margem com clientes e US$ 196 milhões com receita de serviços.
A base de clientes do Nubank encerrou o ano passado em 53,9 milhões de clientes, incluindo consumidores e PMEs (pequenas e médias empresas), crescimento de 61,9% ante dezembro de 2020.
"O Nu teve um forte começo como companhia de capital aberto, como ficou claro no nosso desempenho no quarto trimestre. A listagem das ações do Nu nas bolsas e o nosso programa NuSócios também abriram a porta para a inclusão de milhões de brasileiros no mercado de capitais"
David Vélez, acionista fundador e presidente do Nubank, no relatório de resultados.
Resultados bons, porém, com pontos a serem melhorados
Em relatório de análise sobre os resultados do Nubank, Rodrigo Crespi, especialista de mercado da Guide Investimentos, aponta que os números reportados pelo Nubank vieram em linha com o esperado pelo mercado, porém com resultado líquido ainda em campo negativo.
“Ainda que tenha tido um aumento expressivo no número de clientes e marginal redução de custos, o Nubank mostra dificuldade na passagem por cenários econômicos adversos, exprimido pelo aumento da taxa de inadimplência e dos custos financeiros causados pela remuneração de depósitos pessoa física”.
Rodrigo Crespi, especialista da Guide Investimentos
Além disso, segundo Crespi, o crescimento da receita foi ofuscado pelos custos expressivos com despesas financeiras, impulsionado pela alta na taxa de juros do Brasil.
Outro ponto negativo destacado por Crespi foi o aumento de 270% nas despesas do banco com provisão de crédito no trimestre – US$ 200 milhões versus US$ 54 milhões no quarto trimestre de 2020 - impulsionado pelo crescimento rápido da carteira e à metodologia de provisionamento adotada pelo Nubank.
O aumento da inadimplência também pesou no pacote negativo, com um aumento marginal de 10 pontos base, alcançando o nível de 3,5%, “1,5 ponto porcentual abaixo da média da inadimplência dos empréstimos pessoais, porém 1,2% acima da média de inadimplência do Sistema Financeira Nacional”.
“Permanecemos com visão cautelosa quanto a sustentabilidade do modelo de negócios do banco, que acreditamos enfrentará obstáculos maiores frente a mais aumentos da taxa de juros”, conclui Crespi.
Alguns analistas ressaltam ainda outros desafios enfrentados pelo Nubank como a dificuldade de monetização de seus usuários e o valuation excessivo.
Primeiros números apresentados após IPO
Este foi o primeiro resultado financeiro que a fintech divulgou ao mercado desde sua abertura de capital (IPO, na sigla em inglês na Bolsa brasileira e na bolsa de Nova York, em dezembro passado.
Desde sua estreia nas bolsas – sua chegada lá fora foi considerada o terceiro maior IPO da bolsa americana - o Nubank viu suas ações lá fora e seu BDR no Brasil registrarem forte queda de mais de 30%. No dia da divulgação do balanço as ações do banco em Nova York caíram mais de 14%, enquanto seu BDR na Bolsa derreteu 15%.
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