Renda Fixa

Mesmo com Selic em 10,75%, rendimento da poupança segue em 0,5% em fevereiro; o que acontece?

Número de dias úteis menor em fevereiro provocou queda da remuneração

Data de publicação:14/02/2022 às 01:13 - Atualizado 2 anos atrás
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Embora a taxa Selic, que baliza o rendimento das aplicações em renda fixa, já esteja em 10,75% ao ano, o rendimento da poupança segue baixo este mês: de 1º a 10 de fevereiro está em 0,5% de juros ao mês ou 6,17% ao ano.

É verdade que depois que a Selic ultrapassou a marca de 8,5% ao ano, a remuneração da poupança foi unificada e passou a ser uma só para todas as contas, antigas e novas, composta de 0,5% de juros a cada mês mais a variação da Taxa Referencial (TR).

Poupança consegue pagar rendimento acima da inflação em janeiro, mas em fevereiro houve redução - Foto: Reprodução

A TR que, por sua vez, ficou hibernando em zero por quatro anos, com os juros mais baixos, passou a se movimentar assim que a Selic foi elevada a 9,25% em dezembro de 2021.

E de fato ela recheou um pouco mais a rentabilidade da poupança desde então, chegando a uma variação de 0,14% nos dias 24 e 25 de janeiro. Isso resultou em um retorno final da poupança de 0,64% ao mês, ou 7,95% ao ano, para as poupanças com vencimento nesses dias. Vale ressaltar que as contas de todos os dias ao longo de janeiro conseguiram proporcionar um rendimento acima da inflação de 0,54%.

Só que desde o início de fevereiro até a última sexta-feira (10), a variação da TR passou a ser zero novamente, pelos dados que constam no site do Banco Central. Questionado, o BC explicou que é pelo número de dias úteis em fevereiro, tradicionalmente menor, e também pelo feriado do carnaval.

Com 18 dias úteis, quando a maioria dos meses conta com 21 dias úteis podendo chegar até 23, fevereiro costuma gerar bases menores para o cálculo da Taxa Básica Financeira (TBF) de onde é extraída a TR. Além disso, há um efeito mais acentuado de um redutor que aplicado sobre a TBF para se chegar à TR.

Embora tecnicamente o cálculo seja esse mesmo, segundo o professor de matemática financeira, José Dutra Vieira Sobrinho, há incoerências com os critérios de cálculo, segundo ele.

“Em 2018, 2019, 2020 e 2021, nos meses de fevereiro, quando a Selic estava abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança não sofreu influência do número menor de dias. Esse fato é apenas mais um detalhe dessa regulamentação sem pé nem cabeça”.

Difícil explicar rendimento menor na poupança

E, além disso, como colocar todas essas variáveis para um simples investidor? Questiona ele. Não parece lógico que as demais aplicações de renda fixa acompanhem e são beneficiadas pela alta da Selic, enquanto a poupança não.

O professor esclarece que essas fórmulas mais complexas para se chegar à TR foram criadas para evitar que o rendimento da poupança ultrapassasse o dos fundos e papeis de renda fixa. Foi a maneira encontrada para diminuir o desempenho da poupança, adotando-se ainda uma remuneração diferenciada para cada dia do mês.

Ele argumenta, no entanto, que só no Brasil existem esses critérios de rendimento por dias úteis. Para demonstrar que isso não faz sentido ela transporta o conceito para outras áreas, como salário ou aluguel, que serão sempre os mesmos, todos os meses, independentemente do número de dias úteis do período.

Conhecedor profundo do tema, Dutra é um ferrenho defensor da simplificação do cálculo do rendimento da poupança. Para ele a poupança poderia continuar remunerando à base de 70% da Selic, o restante já corresponderia à TR, sem cálculos diários, redutores, inclusão da TBF.

Se houvesse essa simplificação, pelo atual nível da Selic, a remuneração da poupança seria de 7,53% ao ano, ou 0,61% ao mês. Já a TR seria de 1,32% ao ano, ou 0,11% ao mês. Uma medida dessas traria mais transparência e facilidades na compreensão do cálculo do rendimento. Afinal, a poupança é ainda a porta de entrada para muitos investidores.

Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o volume financeiro aplicado na poupança em dezembro de 2021 era de R$ 991 bilhões, o que equivale a 35,4% do total de patrimônio líquido dos brasileiros, de R$ 2,779 trilhões. Já nos fundos de investimentos, o total aplicado estava em R$ 638 milhões, ou 23% do volume total, no fim de 2021.

Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.