Mercado: temor com variante Delta segue na agenda desta 3ª feira
Receio é de que novas ondas da pandemia dificultem movimento de retomada da economia global
O cenário internacional deve continuar dando o tom ao mercado financeiro nesta terça-feira, 20. O foco principal é a variante Delta da covid-19, cuja rápida disseminação aumentou os casos da doença em todo o mundo e reforçou a preocupação entre investidores.
O temor é que a nova onda do coronavírus, sob a variante delta, aborte a retomada da economia, cuja expectativa vinha alimentado o otimismo dos investidores, especialmente na Bolsa de Valores.
Novos fechamentos da economia, com a possível adoção de lockdowns, passaram a fazer parte de um cenário que aparentemente havia ficado para trás, após a pior fase da pandemia, e agora ressurge para a preocupação dos mercados.
O sentimento de temor com o recrudescimento da pandemia levou os investidores às costumeiras reações que ocorrem em um momento de insegurança, o de aversão ao risco.
As incertezas com o que pode acontecer com a economia encorajaram a busca por segurança para o capital, com a venda de ações e busca por proteção no mercado de dólar.
O desempenho das ações depende fundamentalmente da performance das empresas, que, por sua vez, têm seus resultados vinculados ao andamento da economia.
Se a atividade estiver empacada, os balanços das companhias, que produzirão e venderão menos, não agradarão aos acionistas. Em um momento de alta dos juros, os investidores poderão até trocar a renda variável pelos títulos de renda fixa.
Em um primeiro momento, no entanto, investidores estão procurando proteção no mercado de dólar, cuja cotação foi a R$ 5,25, com valorização de 2,64%, a maior em um só dia em dez meses.
Dólar é visto como refúgio pelo mercado
Para especialistas, o refúgio no dólar ofereceria dupla proteção para o investidor. Contra as incertezas econômicas causadas pela proliferação da variante delta e eventual alta dos juros ou mudança na política de estímulos monetários nos Estados Unidos.
Uma perspectiva de elevação dos juros ou a retirada gradual dos estímulos monetários, com a redução de compra de títulos pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano), tende a valorizar o dólar em todo o mercado global.
As preocupações com os efeitos do alastramento da pandemia sobre a economia derrubaram também os preços das commodities, que têm forte influência na carteira do Ibovespa, o principal índice da B3.
Além desse movimento geral de queda das commodities, a Petrobrás foi afetada ainda pela decisão da Opep+ de aumentar a produção de petróleo, o que deve ampliar a oferta e baixar o preço internacional do petróleo.
Wall Street em alta
Nos Estados Unidos, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em alta, com os investidores voltando sua atenção para os lucros corporativos da temporada de balanços, enquanto reavaliam as perspectivas para o crescimento global.
Na véspera, o principal conselheiro do Reino Unido, Sir Patrick Wallace, fez uma declaração dizendo que "houve um aumento em 60% dos casos de pessoas que tiveram sido vacinadas com duas doses pela variante Delta, o que foi corrigido posteriormente por ele, e ajudou a acalmar um pouco os ânimos dos investidores.
No JP Morgan View, os analistas destacaram que “a Variante Delta não representa um risco para os mercados”. Por outro lado, na visão do analista da Oanda, Edward Moya, a "aversão ao risco está firmemente estabelecida à medida que a propagação da variante delta está desencadeando um voo para a segurança conforme as preocupações econômicas globais se intensificam".
Os investidores globais estão ficando ansiosos e vendendo ações, que estavam em um cenário propício para recuos depois das altas consecutivos que levou os índices a renovarem recordes, avalia o analista. "É difícil manter ativos de risco no curto prazo, agora que ultrapassamos o pico de tudo" afirma sobre recuperação econômica e estímulos fiscais.
"As ações caíram ainda mais após relatos de que os EUA e aliados estão culpando indivíduos ligados ao governo chinês pelo hack do Microsoft Exchange", aponta Moya, sugerindo que a lista de problemas entre as duas maiores economias do mundo continua a crescer e provavelmente sugere que não veremos águas calmas tão cedo.
CPI da Covid: operador da propina
No cenário interno, apesar de estar com as oitivas temporariamente suspensas por conta do recesso, os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid no Senado continuam no radar do mercado.
Na véspera, o presidente da CPI, senador Omar Aziz, declarou ter certeza de que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, era o “grande operador” de um suposto esquema mensal de propina na Pasta.
Segundo Aziz, o esquema começou em 2018, durante a gestão do deputado e atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, no Ministério da Saúde, e continuou a partir de 2019, já com Dias nomeado.
Naquele ano, Barros extinguiu a Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), responsável pela distribuição de vacinas e de outros insumos pelo governo federal, e a substituiu pela VTC Operadora Logística Ltda.
De acordo com matéria publicada pelo portal UOL, testemunhas relataram a senadores que a "operadora logística" contratada durante a gestão Barros seria um meio para desviar recursos do Ministério.
O esquema também beneficiaria Dias, que foi nomeado para trabalhar na pasta em 2019, e, de acordo com as denúncias, se encontrava "constantemente" com a CEO da empresa VTCLog, Andreia Lima Marinho.
Em entrevista ao portal UOL, Aziz disse que Dias "controlava todo o Ministério da Saúde" e que a CPI tem "fortes indícios" que apontam para a atuação do ex-diretor de Logística. "Vamos continuar investigando para que a gente possa, em cima dos fatos que nós temos, chegar aos nomes".
Apesar das provas que a comissão já acumula, Aziz sustenta que é preciso ter responsabilidade de "apontar o dedo": "Temos de ter responsabilidade e não expor pessoas sem ter certeza".
Segundo o senador, "Dias mentiu muito na CPI", por isso teve a prisão decretada. "Ele era um grande operador na Saúde, em muitos contratos assinados nos últimos anos enquanto esteve ali", disse Aziz.
No final de semana, o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues, anunciou que está prevista para acontecer entre os dias 26 e 29 de julho uma reunião virtual entre integrantes da CPI e juristas, a fim de embasar o relatório final da comissão. O responsável pela emissão do parecer definitivo é o senador Renan Calheiros.
Bolsas asiáticas fecham em baixa
As bolsas da Ásia voltaram a fechar majoritariamente em queda nesta terça-feira, na esteira das perdas registrados no mercado acionário de Nova York na véspera.
Na China continental, o índice Xangai Composto caiu 0,1%, aos 3.536,79 pontos, mas o menos abrangente Shenzhen Composto subiu 0,2%, aos 2.456,75 pontos.
Em Pequim, o Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) manteve na noite do dia anterior as taxas de juros de referência para empréstimos de curto e longo prazos, conhecidas como LPRs.
A maioria dos analistas esperava a manutenção das taxas de juros, mas alguns como os do Barclays não descartavam um corte. Em meio à desaceleração do crescimento chinês, o PBoC anunciou há duas semanas uma redução do compulsório bancário. Agora, os economistas esperam mais medidas de estímulo.
Em outras partes da Ásia, o Hang Seng recuou 0,8% em Hong Kong, aos 27.259,25 pontos, e o Kospi teve baixa de 0,3% em Seul, aos 3.232,70 pontos.
"Os mercados na Ásia viram outra sessão negativa, à medida que os investidores avaliam a possibilidade de vermos mais fraqueza na retomada global", diz o analista-chefe de mercado da CMC Markets, Michael Hewson.
O Nikkei, por sua vez, caiu 1,0% no Japão, aos 27.388,16 pontos. As perdas foram lideradas por ações dos setores de energia e imobiliário. Por lá, há expectativa pela Olimpíada de Tóquio, que começa nesta semana.
No entanto, os organizadores do evento já confirmaram que pelo menos três atletas testaram positivo para a covid-19. / com Júlia Zillig e Agência Estado