Mercado segue cauteloso com indefinições sobre o Auxílio Brasil
Sem saber qual será fonte de financiamento para reajuste e benefício maior, investidores não devem baixar a guarda
O mercado financeiro tenta recuperar-se do tranco da última segunda-feira,18, sem baixar a guarda. E a expectativa é que continue na defensiva nesta quinta, 21, diante das persistentes incertezas sobre a fonte de financiamento do novo programa social, o Auxílio Brasil.
O substituto do Bolsa Família terá reajuste de 20% em novembro e o governo reiterou que o valor pode chegar a R$ 400, como benefício temporário, até dezembro de 2022.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, tentou esboçar reação, até para compensar parte da forte perda de 3,28% do dia anterior, mas não teve forças. Fechou o pregão com valorização residual de 0,10%, em 110.786,43 pontos.
O dólar recuou 0,59%, para R$ 5,56, refletindo um cenário externo mais favorável, de menos aversão a risco, e também pressionado por novas intervenções do Banco Central, com oferta de contratos de swap cambial.
Os investidores continuam ressabiados e preocupados com a possibilidade de que as despesas adicionais com o novo programa social do governo venham a estourar o teto de gastos definido em lei, já que, por enquanto, não se sabe de onde sairão os recursos que bancarão o programa.
Desrespeito à regra do teto de gastos traz temor ao mercado
O ministro Paulo Guedes, da Economia, afirmou na véspera que o governo avalia se o valor maior do benefício social será pago fora do teto, o que exigiria autorização do Congresso para um gasto em torno de R$ 30 bilhões que seriam contabilizados fora das regras do teto, ou uma mudança na lei que flexibilize a própria regra de teto de gastos.
Como a incerteza com a questão fiscal é a pedra de toque que move as decisões no mercado financeiro no momento, especialistas afirmam que investidores e gestores agirão com cautela redobrada e na retranca enquanto não houver uma solução sobre o imbróglio fiscal.
O respeito à regra do teto de gastos é considerado a âncora da política fiscal e da responsabilidade fiscal. O que o mercado teme é que o desrespeito ao teto aumente a dívida pública e, por tabela, o déficit público, que o governo terá de financiar com juros mais altos.
Em um cenário de desarranjo fiscal, afirmam especialistas, os investidores que financiam a dívida passarão a exigir prêmio, vale dizer, juros maiores.
Taxas de juro mais elevadas inibem o crescimento e podem abortar a retomada de atividade em 2022, cujas previsões de PIB vêm passando por seguidas revisões para baixo nas estimativas de economistas.
Inflação alta, juros elevados e baixo crescimento para o próximo ano formam um cenário que já visita o radar dos investidores e aumenta o pessimismo do mercado financeiro, que vê o risco sobre a atividade econômica crescer à medida que avançam as propostas consideradas populistas do governo.