Mercado ao vivo: Bolsa cai mais de 1,3% com Petrobras, exterior e dados econômicos locais; dólar sobe
Receio sobre a falta de força na retomada econômica e dados econômicos fracos desanimam os investidores
Após tentar recuperar as perdas da antevéspera, o clima negativo volta a pairar na Bolsa de Valores nesta quarta-feira, 6, puxado pela desvalorização das ações da Petrobras, com forte queda de mais de 2,9%, influenciado pelo clima tenso do mercado internacional e pelos dados econômicos locais, que frustraram as expectativas do mercado.
Às 14h27, o Ibovespa recuava 1,38%, perdendo o patamar dos 109 mil pontos - 108.931. Por mais um dia, o dólar segue no caminho oposto, influenciado pela elevação dos juros dos Treasuries, que chegam a mais de 1,5% - alta de 0,72%, cotado a R$ 5,525.
Durante a manhã, alguns dados econômicos europeus foram divulgados. Isso jogou uma pá de cal na expectativa positiva dos analistas, que apostavam no fato de que os países europeus mostrariam mais vigor nesse movimento.
A Eurostat, agência oficial de estatísticas da União Europeia (UE), informou que as vendas no varejo da zona do euro aumentaram 0,3% em agosto ante julho. Porém, o resultado ficou bem abaixo das estimativas dos especialistas, que previam avanço de 0,8%.
Outro dado que ajudou a reforçar esse sentimento foram as encomendas à indústria na Alemanha, que afundaram 7,7% em agosto, ante a expectativa do mercado de recuo de 2,1%.
Os dados decepcionantes e a explosão dos custos de energia, que afetará os dados dos próximos meses, reforçam a situação desafiadora do continente.
Ainda no cenário internacional, soma-se a isso a junção de fatores que envolvem a economia americana. Por lá, as bolsas em Nova York também caem, com o Dow Jones liderando as baixas - 0,57% - seguido pelo S&P 500, que apontava recuo de 0,37%, e pelo Nasdaq 100, com desvalorização sutil de 0,03%, às 14h31.
Entre eles, o clima de espera sobre os dados do próximo payroll, que serão divulgados na sexta-feira, 8, que devem precificar os passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre a retirada dos estímulos da economia - fato dado como certo a partir de novembro - além da pressão inflacionária por conta da crise energética – que até pouco tempo era algo em pauta somente no Brasil.
Enquanto a crise energética global não for endereçada, os temores de estagflação seguirão penalizando os ativos de risco.
Para esquentar o clima sobre os empregos do país, o relatório ADP de vagas de trabalho no setor privado - considerado uma prévia do payroll - apresentado hoje, apontou a criação de 568 mil vagas de empregos em setembro, número bem acima da expectativa dos analistas, que previam um incremento de 425 mil postos de trabalho.
Por outro lado, a ADP revisou ligeiramente para baixo sua estimativa de geração de empregos em agosto, de 374 mil para 340 mil.
De acordo com analistas do BTG Pactual, se o Fed “errar a mão” no tapering, isso pode causar um colapso na economia americana e ter reflexos no mundo todo.
A preocupação com a desaceleração do crescimento da China integra ainda esse pacote. Segundo os especialistas do banco, o fato do país crescer menos do que 6% já gera temor no mercado, juntamente com a crise do setor imobiliário chinês, puxado pela gigante Evergrande.
Para os analistas, esses catalisadores de risco não têm solução no curtíssimo prazo, o que deve continuar trazendo amargor para as bolsas mundiais.
Dados econômicos no Brasil
Enquanto isso, no mercado interno, os investidores analisam os últimos dados econômicos divulgados durante as primeiras horas do dia.
Um deles foi o Índice Geral de Preços – Demanda Interna (IGP-DI), caiu 0,55% em setembro ante arrefecimento de 0,14% em agosto, segundo dados do Ibre/FGV. O declínio foi menos intenso do que a mediana negativa esperada pelo mercado de 0,65%
Com este resultado, o índice acumula alta de 15,12% no ano e de 23,43% em 12 meses. Segundo André Braz, coordenador dos Índices de Preços da FGV, a queda de 22,11% registrada no preço do minério de ferro influenciou novamente no resultado.
Em seguida, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe os últimos dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), que apontou uma queda de 3,1% nas vendas do varejo restrito em agosto ante julho.
O resultado veio abaixo do piso das estimativas, que transitavam entre variação negativa de 1,4% a crescimento de 2,4%.
Os dados despertam a atenção dos investidores, pois se juntam aos dados da produção industrial do período, também divulgados recentemente pelo IBGE, que apontaram queda de 0,7% e 2,3% no total do trimestre.
A indicação de uma desaceleração econômica coloca os investidores em compasso de espera sobre a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um evento a partir das 10h, no qual ele pode sinalizar novas informações.
Juros futuros
Os juros longos e médios abriram em alta nesta quarta-feira, refletindo a aversão global e incertezas fiscais, mas perderam força em seguida e passaram a rondar a estabilidade.
Às 9h24 desta quarta, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro para janeiro de 2023, o mais negociado, marcava mínima de 9,23%, de 9,26% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 subia para 10,28%, de 10,27%, e o para janeiro de 2027 tinha mínima de 10,66%, de 10,65% no ajuste de terça-feira.
Sobe e desce da Bolsa
Nesta quarta-feira, as petroleiras operam mistas com a leve queda no preço do petróleo e com as empresas no aguardo da reunião da Opep+, que deve definir os rumos do preço da commodity no mundo. Às 14h19, ao contrário da Petrobras, as ações da PetroRio viraram o sinal e avançavam 0,46%.
Ainda em commodities, as siderúrgicas também seguem em baixa, com exceção da Vale, que subia 0,45%, no mesmo horário.
Na esteira de desvalorização de papéis, os grandes bancos apontam desaceleração no pregão. Às 14h20, o IFNC - índice da B3 que integra os gigantes do setor financeiro - registrava forte recuo de 1,64%.
Com a divulgação dos dados de venda do varejo de agosto, as ações das principais empresas do setor operam sem direção única. Às 14h20, enquanto as ações do Magazine Luiza avançavam 1,90%, os papéis da Lojas Americanas e Via caíam 0,85% e 2,55%, respectivamente.
A Gol divulgou que sua demanda por voos subiu 36,8% em setembro sobre o mesmo período do ano anterior, quando o setor aéreo refletia as restrições da pandemia da covid-19. No mesmo período, os papéis da empresa caíam 0,89%.
Após informar ao mercado que irá investir cerca de R$ 150 milhões para a construção de uma nova unidade de geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar, os papéis da Raízen desvalorizavam 1,83% no mesmo horário.
A Rede D'Or anunciou a compra do Hospital Aeroporto de Lauro de Freitas (BA) por R$ 230 milhões, dando continuidade à sua forte estratégia de M&A (fusões e aquisições, em inglês) desde quando fez seu IPO. Às 14h26, as ações da companhia de saúde operavam com leve avanço de 0,11%.
Offshore de Guedes, Auxílio Brasil e combustíveis
A atenção também se volta para os trabalhos no Congresso e aos aos desdobramentos do episódio de contas offshore em paraíso fiscal que envolve o ministro Paulo Guedes, da Economia, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou na véspera convite para que ambos prestem informações sobre as offshores que têm no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe.
Os advogados de Guedes informaram que irão protocolar uma petição à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) com esclarecimentos sobre a existência de uma offshore milionária em seu nome. A defesa afirma que o ministro “jamais atuou ou se posicionou de forma a colidir interesses públicos com privados”.
Sobre o programa social do governo, o Auxílio Brasil, o assunto ganhou novos capítulos. Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos o projeto de lei que autoriza o governo federal a usar a reforma do Imposto de Renda como fonte de recursos para compensar a criação do Auxílio Brasil, programa desenhado para substituir o Bolsa Família.
A lei faz alterações na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021 (LDO 2021), com o objetivo de viabilizar o Auxílio Brasil. Os ajustes valerão apenas para este exercício fiscal.
A medida autoriza o uso de propostas legislativas em tramitação como fonte de compensação para criação ou aumento de despesa obrigatória para programas de transferência de renda.
A intenção do governo é usar a arrecadação oriunda das mudanças no Imposto de Renda para bancar o Auxílio Brasil. A reforma no IR já foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas sofre resistência no Senado.
Outro tema que integra a extensa pauta de acompanhamento dos investidores são os desdobramentos sobre a proposta para mudar a base de cálculo do preço dos combustíveis. Na véspera, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que irá votá-la na quarta-feira, 13.
Segundo ele, ela pode baratear o preço da gasolina em até 8%, em 7% o do álcool e em 3,7% o do diesel. Lira apresentou a proposta para líderes governistas na segunda-feira, 4, e para a oposição, no dia anterior. O presidente da Casa disse que há um acordo para se votar o texto na semana que vem sem obstrução ou mesmo destaques - pedidos de alteração feitos após a aprovação do conteúdo principal.
Na Ásia
Do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas fecharam em baixa. O índice japonês Nikkei caiu 1,05% em Tóquio, aos 27.528,87 pontos, enquanto o Hang Seng recuou 0,57% em Hong Kong, aos 23.966,49 pontos.
O sul-coreano Kospi cedeu 1,82% em Seul, aos 2.908,31 pontos, seu menor nível em nove meses, e o Taiex registrou perda de 0,41% em Taiwan, aos 16.393,16 pontos. Na China, as bolsas continuam sem operar em razão do feriado da Semana Dourada.
A crise de liquidez da Evergrande, a gigante do setor imobiliário chinês, continua no radar, mas os negócios com suas ações em Hong Kong estão suspensos desde o começo da semana, diante da possibilidade de que uma subsidiária da empresa seja adquirida.
A bolsa australiana, a principal da Oceania, também ficou no vermelho hoje. O S&P/ASX 200 caiu 0,58% em Sydney, aos 7.206,50 pontos, pressionado pelo setor financeiro.
No mesmo continente, o BC da Nova Zelândia elevou sua taxa básica de juros, da mínima histórica de 0,25% para 0,50%, juntando-se à Coreia do Sul e à Noruega no aperto da política monetária. / com Tom Morooka e Agência Estado