Mercado ao vivo: Bolsa sobe com bancos; Selic e cenário fiscal seguem no radar
Investidores seguem atentos ao cenário político e fiscal e ao anúncio da nova taxa de juros do País
Após fechar o pregão da véspera com queda de 2,11%, a Bolsa inicia suas atividades desta quarta-feira, 27, buscando recuperação com a ajuda dos bancos, que têm suas ações valorizadas com o início da temporada de números trimestrais dos gigantes financeiros - às 14h10, os papéis do Itaú, Bradesco e Santander subiam 1,43%, 2,27% e 1,52%, nesta ordem.
Além disso, hoje o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia a nova taxa Selic, após o fechamento do mercado - número aguardado com expectativa pelos investidores. Às 14h24, o Ibovespa operava em alta de 0,88%, perdendo o patamar dos 108 mil pontos - 107.355. Após trafegar em queda, o dólar à vista mudou o sinal e sobe 0,17%, cotado a R$ 5,583.
A expectativa para o anúncio da nova taxa de juros do País, que acontece após o fechamento do mercado, é unânime em um fato: o movimento sinalizado pelo Banco Central de ajuste de 1 ponto porcentual na ata do último encontro do colegiado deve ficar para trás, influenciado principalmente pelas incertezas no cenário fiscal e pelo forte avanço da inflação.
Os especialistas se dividem em dois grupos: os mais puristas, que acreditam na aplicação de um acréscimo de 1,25% a 1,50% na taxa atual de 6,25%; e os mais ousados, que apostam em um ajuste entre 1,75% e 2,00% - o que, na visão geral do mercado, não deve acontecer.
De acordo com Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a surpresa do IPCA-15 – que apresentou alta de 1,2% em outubro ante a expectativa do mercado de variação positiva de 1,0% - não deverá ter grande peso em uma eventual surpresa da condução mais dura de política monetária, “ainda que possa (e deve) implicar em projeções para a inflação mais pressionadas para 2021”.
O Banco Central havia pontuado que não vai mudar o plano de voo da política econômica por conta de dados econômicos recentes.
No entanto, pesa nessa decisão o cenário fiscal turbulento, que conta com questões ainda sem definição, como o Auxílio Brasil a R$ 400 e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos precatórios, que teve sua votação adiada mais uma vez, agora com data para esta quarta-feira.
“Matematicamente, estimamos que uma elevação de 1,5 ponto porcentual, com sucessivas alterações de mesma magnitude, seja suficiente para que a autoridade cumpra sua meta. Entretanto, nossas estimativas e as do mercado envolvem cálculos de variáveis não observáveis, o que amplia a gama de possibilidades”, enfatiza Sanchez.
O cenário ainda é nebuloso, pois o mercado não consegue identificar com clareza – apenas com hipóteses - qual será o movimento da autoridade monetária para conduzir a Selic – se o colegiado irá optar por um choque mais forte ou alongará a o ciclo de altas na taxa de juros.
Para o economista, acelerar muito a Selic agora poderá gerar efeitos contraproducentes para a economia, “cuja perspectiva será de um ciclo mais longo e não de encurtamento”, prevê.
Sobre a inflação, no boletim Focus da última segunda-feira, 25, os economistas do mercado ajustaram as medianas das projeções da inflação para 2023 e 2024 para longe de suas respectivas metas, o que, de acordo com o economista-chefe da Ativa, “envolve uma perspectiva de inflação implícita mais alta para a autoridade, associada à perda de graus de credibilidade no rigor do cumprimento de suas atribuições”.
“Perder credibilidade é algo extremamente danoso para a política monetária e pode gerar uma super-reação do BC”, enfatiza Étore.
Juros futuros
Os juros futuros operam em alta firme na manhã desta quarta-feira, estendendo a cautela recente por causa da percepção de piora fiscal no horizonte com a expansão do teto de gastos e antes da decisão do Copom, que deve se mostrar mais agressivo na alta de juros e mais duro no comunicado.
Aproveitando a brecha do teto de gastos, parlamentares querem R$ 16 bilhões para emendas do relator, além de aumento do fundo eleitoral para R$ 5 bilhões.
Às 9h13 desta quarta, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subia a 11,76%, de 11,60% no ajuste de terça-feira. O DI para janeiro de 2025 avançava para 12,02%, de 11,92%, e o para janeiro de 2027 subia para 12,02%, de 11,96% no ajuste anterior.
Sobe e desce na Bolsa
Nesta quarta-feira, além dos bancos, a Petrobras, que também tem um forte peso - de quase 10% - na cesta de ativos do Ibovespa, opera no positivo. Às 14h15, as ações da petroleira subiam 0,45%.
Ainda em commodities, as siderúrgicas também seguem em alta, com exceção da Vale, que caía 0,41% no mesmo horário.
Com a temporada de balanços tomando cada vez mais força, após a divulgação dos números do terceiro trimestre, que, em sua esmagadora maioria, vieram acima do esperado, as empresas Marfrig, Cesp e Romi valorizavam 2,68%, 1,56%, 2,88% e 2,61%, respectivamente, às 14h16. Já a Weg, após seguir em alta durante quase durante toda a manhã, virou o sinal e opera em queda de 0,40%.
Após anunciar os resultados do trimestre, a Klabin divulgou que irá fazer o pagamento de proventos, dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP) no valor de R$ 402 milhões. Às 14h13, as ações da papeleira caíam 4,25%.
Balanços corporativos
O turbulento cenário macroeconômico ofusca a divulgação dos primeiros balanços trimestrais das empresas no Brasil, que, com o pontapé oficial dado na segunda-feira, 25, vem trazendo resultados obtidos no terceiro trimestre acima das expectativas dos analistas – movimento que também está sendo acentuado no exterior.
Nesta quarta-feira, os investidores iniciaram o dia com as notícias sobre os números do terceiro trimestre de empresas como o Santander – que tradicionalmente abre a temporada de anúncios dos bancos – da Weg, Gerdau, Cesp, entre outras.
O Santander registrou lucro líquido gerencial de R$ 4,340 bilhões no terceiro trimestre, alta de 12,5% sobre a mesma base de 2020. Já o lucro da Gerdau deu um salto de 604% no período, somando R$ 5,594 bilhões.
Reflexo da repactuação do risco hidrológico, a Cesp reverteu o prejuízo do terceiro trimestre de 2020 e obteve lucro líquido de R$ 395,3 milhões no mesmo período deste ano.
Mais sobre o Auxílio Brasil
Sobre o Auxílio Brasil, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, deu a indicação de que o Auxílio Brasil com valor maior pode se tornar uma política permanente. Sem citar cifras específicas, ele disse que, quando o Senado Federal aprovar a taxação de dividendos de empresas distribuídos à pessoa física, incluída na reforma do Imposto de Renda, o programa permanente terá uma fonte de recursos, se não para 2022, para 2023.
"A qualquer momento que o Senado aprovar ou apreciar ou modificar o texto do Imposto de Renda, mantendo (a taxação de) dividendos, que é importante, o programa pode ser criado, se não para 2022, para 2023", afirmou o parlamentar.
A declaração de Lira vem no momento em que a expectativa de economistas e de integrantes do próprio governo é de que, mesmo com um valor temporário para fazer o Auxílio Brasil chegar ao piso de R$ 400 por família até dezembro de 2022, será difícil cortar o benefício a partir de 2023, o que na prática converte essa despesa em algo permanente. A situação é vista como uma "armadilha" a ser desarmada pelo próximo presidente da República.
O governo precisou construir uma solução temporária porque não teria fonte de financiamento para compensar um aumento permanente de despesas, como manda a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Essa fonte viria justamente da taxação de dividendos, cuja proposta emperrou no Senado.
No dia anterior, o presidente da Câmara afirmou que isso inviabilizou que o programa fosse criado dentro do teto de gastos. No entanto, a fonte de financiamento é uma regra fiscal diferente do limite de despesas, e mesmo o gasto temporário poderia ficar sob o teto.
Esse era inclusive o desenho almejado pela equipe econômica, com pagamento médio total de R$ 300 mensais, mas isso foi rejeitado por Bolsonaro em uma decisão política. O presidente determinou que o valor chegasse a R$ 400, o que levou à flexibilização do teto.
Lira, que na semana passada já havia dito que não se pode "pensar só em teto de gastos e responsabilidade fiscal" em detrimento da população, afirmou nesta terça que a mudança no teto negociada pelo governo com o Congresso é uma "prática legal e dentro da operação constitucional".
Para desviar da narrativa de furo no teto de gastos para bancar um valor turbinado no programa social Auxílio Brasil em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro buscará a reeleição, o governo mudou de estratégia e passou a apostar numa revisão da âncora fiscal, que pode liberar ao menos R$ 83 bilhões para despesas extras no ano que vem. No mercado, a conta é que o espaço adicional será até maior, passando dos R$ 90 bilhões.
NY e o mundo
Lá fora, os futuros dos Estados Unidos operam em alta, muito próximos da estabilidade, após o dia anterior no qual as ações subiram para novas máximas históricas, à medida que os lucros corporativos ajudaram a impulsionar o otimismo, mesmo em meio a preocupações persistentes com a inflação e o crescimento econômico.
No fechamento, o Dow Jones subiu 0,04%, 35.756,88 pontos, na máxima histórica, o S&P 500 avançou 0,18%, a 4.574,79 pontos, também em nível recorde, e o Nasdaq registrou ganho de 0,06%, a 15.235,71 pontos.
Por lá, o debate sobre as pressões sobre os preços continua. O ex-secretário do Tesouro, Lawrence Summers, disse que é improvável que as autoridades lidem com a “realidade da inflação” com sucesso até que ela seja totalmente reconhecida.
De acordo com Filipe Teixeira, sócio da Wisir Research, a temporada de balanços está ajudando a conter as preocupações de que a inflação elevada e o aperto da política monetária irão desacelerar a recuperação econômica. Cerca de 81% das empresas que integram o S&P 500 relataram resultados melhores do que o esperado até agora, embora o Citigroup tenha alertado que o crescimento pode estar perto do pico.
Por outro lado, o pessimismo marcou o fechamento das bolsas asiáticas nesta quarta-feira, em meio a uma forte queda de ações de produtoras de carvão negociadas na China continental e de empresas de tecnologia listadas em Hong Kong.
Nos mercados chineses, o índice Xangai Composto recuou 0,98%, aos 3.562,31 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 1,11%, aos 2.397,51 pontos.
Temores de que Pequim tome medidas para tentar estabilizar os preços do carvão no longo prazo derrubaram os papéis de companhias do setor, como Yanzhou Coal (-8,4%), China Shenhua Energy (-4%) e China Coal Energy (-4,7%).
Em Hong Kong, o Hang Seng teve baixa de 1,57%, aos 25.628,74 pontos, pressionado por gigantes da tecnologia chinesa cujos ADRs tiveram fraco desempenho na véspera em Nova York, segundo a KGI Securities.
Nos negócios de Hong Kong, a ação do Alibaba caiu 2,95%, enquanto a da Tencent cedeu 2,99% e a da Meituan sofreu um tombo de 5,09%.
Em outras partes da Ásia, o japonês Nikkei terminou o dia em baixa marginal de 0,03% em Tóquio, aos 29.098,24 pontos, o sul-coreano Kospi caiu 0,77% em Seul, aos 3.025,49 pontos. Exceção, o Taiex subiu 0,24% em Taiwan, aos 17.074,55 pontos.
Com o predomínio do mau humor na região asiática, ficaram em segundo plano dados encorajadores que mostraram aceleração nos lucros do setor industrial chinês.
Na Oceania, a bolsa australiana ficou pressionada após pesquisa revelar que a inflação doméstica atingiu o maior nível desde 2015. O S&P/ASX 200 teve ligeira alta residual de 0,07%, aos 7.448,70 pontos, apagando a maior parte dos ganhos de mais cedo no pregão. / com Tom Morooka e Agência Estado