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Banco do Brasil
Fundos de Investimentos

Lideradas por Nubank, BB e Itaú, gestoras perdem mais de 700 mil cotistas no primeiro trimestre

Crise da Americanas e quebra de bancos nos Estados Unidos foram determinantes para fuga de investidores

Data de publicação:03/04/2023 às 05:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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Em um primeiro trimestre marcado pela crise da Americanas e a quebra de dois bancos nos Estados Unidos, a indústria de fundos de investimento não conseguiu evitar a fuga de cotistas. Levantamento feito pela Mais Retorno revela que de janeiro a março de 2023 as gestoras perderam 703.688 investidores.

A debandada, de acordo com a pesquisa, foi motivada principalmente pela baixa dos fundos de renda fixa que, turbinados por títulos de dívidas de empresas, como Americanas (AMER3), Light (LIGT3) e Lojas Marisa (AMAR3), pegaram de surpresa analistas, gestores e, principalmente, cotistas.

Se consideradas as gestoras que fecharam o trimestre com captação positiva, como por exemplo a XP Allocation Asset e a Inter Asset, o número fica negativo em 278.673 mil. 

Nubank
Gestora do Nubank lidera as perdas de cotistas no primeiro trimestre - FOTO: Divulgação

As gestoras mais afetadas pela fuga de investidores foram, pela ordem, a Nu Asset, que pertence ao Nubank, BB Asset, do Banco do Brasil, Itaú Unibanco Asset, Western Asset e Vitreo

Fundos recheados de ativos originados no exterior, como os BDRs, Brazilian Depositary Receipts, também sofreram com a fuga do investidores. BDRs são certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países. Esses ativos perdem valor na medida em que o FED (Federal Reserve, o banco central americano) aumenta a taxa de juros dos Estados Unidos.

GestoraCotistas
perdidos
Fundo que mais perdeu
Nu Asset263.203Nu Reserva Imediata
BB Gestão  89.161BB RF Curto Prazo Autom. FIC FI
Itaú Unibanco Asset  78.719Itaú Privilège RF Refer DI
Western Asset  26.780Western Asset Total Credit 
Advisory FIC FI RF
Vitreo Gestão   16.559Empiricus Carteira Universa FIM

Os dados foram compilados pela Mais Retorno a partir da base de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), no período de 30 de dezembro de 2022 e 23 de março de 2023.

Quem mais perdeu investidores

A fuga de cotistas impactou toda a indústria de fundos no primeiro trimestre de 2023. No entanto, apenas cinco gestora responderam por 67% de toda essa queda. Juntas, Nu Asset, BB Gestão de Recursos, Itaú Unibanco Asset, Western Asset e Vitreo, respectivamente a primeira, segunda, terceira, quarta e quinta gestora mais impactada, registraram saída de 474.709 investidores em três meses.

A Nu Asset foi a mais castigada pela crise. Sozinha, perdeu 263.203 cotistas, 37% do total de toda a indústria. Sendo que um único fundo pode ser apontando como vilão: o Nu Reserva Imediata, que perdeu 195.108 cotistas no período.

Com aplicação a partir de R$ 1, o Nu Reserva Imediata tinha quase 1% do seu patrimônio aplicado em debêntures da Americanas e da B2W em setembro do ano passado. O fundo, que teve um patrimônio de quase R$ 2,6 bilhões em patrimônio, já perdeu R$ 1 bilhão desde o início da crise.

NuReservaCotistas.png

Na sequência, a gestora do BB perdeu 89.161 investidores, a maior parte deles investidos em seus fundos automáticos de renda fixa, dois produtos que vem sistematicamente perdendo para o CDI ao longo de sua história.

O Itaú Unibanco aparece em terceiro, com menos 78.719 cotistas no período. A gestora do maior banco privado brasileiro também teve um primeiro trimestre marcado pelo efeito negativo da Americanas. O fundo que mais sofreu de janeiro a março foi o Itaú Personnalité Privilège DI, que no início da crise da varejista estava exposto a quase R$ 620 milhões em títulos de crédito privado da B2W e da Americanas, o equivalente a 1,25% do patrimônio do fundo.

De lá para cá, o fundo perdeu 18.792 investidores e reduziu seu patrimônio em mais de R$ 6 bilhões, de R$ 49 bilhões no final de dezembro para atuais R$ 42,65 bilhões.

‘Impacto muito grande’

"O impacto nos fundos, na base de clientes, por conta da crise da Americanas, foi muito grande. As oscilações foram grandes e quando maior o fundo, mais esse impacto é visível", afirma Maurício Lima, superintendente de produtos da Western Asset. 

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Maurício Lima, superintendente de produtos da Western Asset - Foto: Divulgação

A gestora, que ficou em quarta colocação entre as que mais foram impactadas, viu o efeito da crise da varejista em seu fundo Western Asset Total Credit, com a saída de 11.871 cotistas. 

"A gente espera que, daqui para a frente, os fundos de crédito comecem a se recuperar. Nós já reduzimos nossa posição em Americanas e o mercado tende a se normalizar", diz Lima.

Efeito manada

Para Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, muitos investidores não estavam suficientemente informados sobre a possibilidade de que, um fundo de renda fixa com prazo de resgate imediato, como são justamente esses mais atingidos, pudessem fechar períodos com rentabilidade negativa.

"Muita gente que investe nesses fundos, que são os mais básicos, não sabe que ele pode fechar em queda. Isso com certeza assustou os investidores e, sim, alimentou um efeito manada no setor", diz.

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Ana Paula Carvalho, da AVG Capital, vê efeito manada no segmento de fundos corporativos - Foto: Divulgação

A especialista acredita que boa parte desses aplicadores não devem retornar tão logo para a indústria de fundos. "Devem ir para títulos de renda fixa como CDBs e as letras de crédito do agro ou do mercado imobiliário", afirma.

'R$ 75 bi em resgates'

Em nota, a Nu Asset afirma que o movimento de resgates de investimentos atingiu todo os fundos de crédito corporativo. "O movimento de resgates de investimentos em fundos com exposição a crédito privado tem ocorrido de forma ampla no mercado brasileiro", afirma. 

"Com base em levantamento feito a partir de dados públicos, cerca de R$ 75 bilhões de resgates foram efetuados neste ano em fundos com exposição a crédito privado, sendo mais de R$ 30 bilhões apenas na parcial do mês de março", diz a gestora, em nota.

Já o Nubank, que detêm o controle sobre a gestora, destaca que, tomando por base o comportamento de clientes que investiram em fundos de investimentos geridos pela Nu Asset antes do evento da Americanas, “cerca de 97% deles mantêm saldo ativo no Nubank”. 

"Destes, 88% do saldo segue ativo ou foi reativado em outros produtos dentro do ecossistema do Nubank, como a conta digital, outros produtos de investimentos ou em Caixinhas com RDB do Nubank", diz o Nubank, em nota.

Procuradas, as assessorias do Itaú Unibanco e do Banco do Brasil não se pronunciaram. 

Sobre o autor
Renato Jakitas
Editor-chefe do Portal Mais Retorno.