Juros da renda fixa vão cair: qual a melhor opção agora, Tesouro IPCA, Selic ou um Prefixado?
Investidor tem tempo ainda de surfar no ciclo de juros, mas indicações se dividem entre um pré ou pós-fixado
O mercado financeiro prevê a manutenção da Selic em 13,75% ao longo deste ano e início de redução apenas em 2023. Antes disso, no entanto, haverá um ajuste para baixo dos juros oferecidos pela renda fixa.
O que divide os analistas é quando o Banco Central dará a largada para os cortes. O interesse em identificar esse possível momento é grande, entre gestores e investidores, porque pode definir desde já as melhores oportunidades de investimento na renda fixa. Alguns acreditam que a redução poderá começar no fim do primeiro semestre, outros preveem o afrouxamento monetário apenas na segunda metade de 2023.
Ajuste já começou na curva de juros
O mercado ensaia, ainda que timidamente e sem muita clareza, os ajustes, via juros a termo ou curva de juros, o que espera para a Selic. O movimento recente de queda nessa curva significa expectativa de Selic menor em 2023. A dúvida está em saber o timing, quando o juro começa a cair.
O sócio e gestor da Galapagos Capital, Fábio Guarda, acredita que a política monetária dura e restritiva será mantida por mais tempo que o mercado acredita. A gestora prevê o início de corte em setembro de 2023, com a Selic fechando o ano em 12%.
“O IPCA ainda não foi debelado, o núcleo da inflação continua alto”, avalia Guarda. “A inflação caiu com a queda de preços administrados, mas ainda não se viu efeito secundário sobre alimentos e serviços, que continuam bastante pressionados”, observa.
A questão fiscal, outra preocupação porque deve continuar pressionando a demanda, deve levar o Banco Central a tentar dissuadir o mercado de um corte prematuro, acredita o gestor. “Se a inflação cair de forma consistente e segura, o BC vai começar a cortar o juro”, reforça. “Por enquanto, ela continua rodando ainda com núcleos bastante altos, indicando uma inflação dois pontos acima do que seria o centro da meta.”
Prêmios da renda fixa devem passar por cortes
Em meio ao quadro de incertezas recheado de especulações, gestores e analistas apontam estratégias para aproveitar a temporada de juros altos. Para Guilherme Mendes, especialista em renda fixa da Blue3, “os prêmios, ou juros acima da inflação, continuam bastante interessantes, principalmente nos títulos de inflação, como o Tesouro IPCA, ou nos títulos prefixados, como as Notas do Tesouro Nacional de série F (NTNs-F)”. Ambos os títulos ofertados na plataforma do Tesouro Direto.
A expectativa é que os juros desses títulos, que seguem em patamar elevado, passem a recuar para ajustar-se a uma Selic em queda, prevista para meados do próximo ano. “De forma geral, os prêmios de todos os ativos de renda fixa devem passar por cortes”, avalia Mendes.
Pré ou pós-fixado?
O investidor tem tempo ainda de surfar no ciclo de juros altos, afirma Victor Zucchi Meneghel, especialista da Valor Investimentos. Mas está mais bem posicionado quem já vem nessa estratégia e aproveitou os prêmios altos (juros reais) de um título de inflação, como o Tesouro IPCA.
“Quem comprou um Tesouro IPCA com taxa (juro real) de 6% ao ano e atravessa agora um cenário de inflação em queda vai embolsar um ágio bastante alto nessa posição”, diz o especialista da Valor Investimentos.
O juro está elevado, carregar uma posição dessas é excelente, observa, “mas faz sentido também ficar em ativos prefixados com taxas de juro ainda bem interessantes”, destaca Zucchi Meneghel.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, diz que, na falta de consenso sobre o início de corte na Selic, “a melhor estratégia ainda são os ativos pós-fixados, com prazo de no máximo um ano, e ativos de inflação e prefixados com vencimento entre 2024 e 2026”.
O especialista da Quantzed afirma que o momento comportaria ainda uma carteira com uma parcela de 70% a 80% de ativos pós-fixados, como o Tesouro Selic, com até um ano de vencimento.
É preciso considerar a questão fiscal
O sócio e gestor da Galapagos entende que não dá para falar de estratégia de investimento olhando a política monetária isolada da questão fiscal. “É preciso ver o lado fiscal do futuro governo, os discursos dos dois candidatos apontam para mais gastos, sem indicar comprometimento com uma âncora fiscal”, que dê previsibilidade aos gastos públicos.
Nesse cenário de incerteza fiscal, Guarda privilegia mais a estratégia de proteção do que a busca de rentabilidade. “As NTNs-B (Notas do Tesouro Nacional da série B), com um juro de 5,70% no miolo da curva, seria um porto seguro”, analisa. “A posição em juros reais seria mais uma posição de proteção”, neste momento de preocupação com o fiscal.
As NTNs-B, negociadas no Tesouro Direto como Tesouro IPCA, oferece remuneração híbrida, formada por juro real prefixado e correção monetária pelo IPCA. Ele sugere vencimentos entre 2026 e 2028.
O investidor ficaria nessa posição, de proteção em juros reais, à espera do compromisso fiscal pelo novo governo. “Se houver sinalização nessa direção, de uma âncora fiscal, poderá trocar o juro real pelo nominal”, migrando da NTN-B para NTN-F, título com taxa prefixada mais longo. Vencimento para 2029, sugere.
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