Guerra pode contaminar emergentes e impactar diretamente a renda fixa no Brasil, aponta Kinea
Pressão pode ser maior sobre os juros, se alta das commodities provocar uma disparada da inflação
A renda fixa pode ser afetada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Essa é a visão da gestora Kinea, parte do Itaú, que divulgou relatórios de gestão dos fundos esta semana. Na visão deles, a tensão entre os dois países europeus pode ter consequências dramáticas do ponto de vista social e importantes desdobramentos para economias globais.
"A influência do conflito no mercado de renda fixa brasileiro nos parece limitada até o momento, mas dada a natureza do evento/conflito, isto pode mudar com relativa rapidez", disse a Kinea, no relatório de gestão de fevereiro deste ano.
De acordo com a gestora, atualmente, o principal risco é o contágio das economias de outros países por meio dos preços de energia e de commodities. Afinal, ainda que a Rússia seja uma economia relativamente pequena para o contexto global, ela conta com participação de 10% do petróleo, 17% do gás natural, 40% do paládio e 30% do trigo.
"Caso a elevação do preço da energia e a interrupção das cadeias produtivas seja prolongada, pode haver pressão inflacionária e queda da atividade econômica em algumas regiões, principalmente Europa. No Brasil, o contágio ainda parece muito limitado e indireto", diz a gestora. Por enquanto, a Kinea ainda não vê impactos em sua operação.
Uma disparada da inflação global, com pressões também nos índices de preços no Brasil, pode levar o Banco Central a carregar mais a mão no ajuste dos juros, impactando a renda fixa.
Além da guerra
Outra preocupação da Kinea é com um novo ciclo de altas de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em março. Em uma metáfora, a gestora explica que esse ciclo é como "pesca com dinamite". "Os bancos centrais têm pouca ideia de onde devem parar o processo de subida, e simplesmente olham para as consequências das decisões", explica.
Primeiramente, ainda na metáfora pesqueira, a Kinea diz que os resultados são pequenos na "primeira explosão". Já nas próximas explosão, pequenos peixes aparecem boiando conforme as sucessivas subidas de juros começam a
impactar a economia. Depois surgem peixes maiores e só para quando uma baleia aparece entre as causalidades.
"Em 1998 foi necessária a quebra do LTCM e a crise da Rússia para encerrar esse processo. Em 2000 foi a vez da bolha de tecnologia estourar. O processo em 2008 culminou com a quebra do Lehman Brothers. E finalmente em 2018 foi necessário que o S&P 500 caísse mais de 20% para que o processo fosse revertido".
Kinea Investimentos
Por fim, para se proteger, a Kinea já está se movimentando. "Continuamos a evitar exposição significativa à bolsa norte-americana. Entendemos que não são as primeiras subidas de juros que matam a bolsa, mas sim as últimas", diz.
Diante de instabilidades, a gestora reduziu suas posições compradas: " Dentro de um processo que ainda mantém elevada participação de pessoas físicas nos fluxos de entrada e de um banco central que pode se tornar mais agressivo, pensamos que o potencial retorno ajustado à volatilidade de uma exposição comprada não deve ser atrativo o suficiente. Mantemos posições compradas em poucos setores".