Mercado Financeiro

Gestores que vieram de famílias ricas investem melhor? De acordo com estudo, não

Pesquisa da Universidade do Arizona mostra que as barreiras enfrentadas por um gestor com menos condições sociais tornam melhor o seu desempenho

Data de publicação:25/04/2023 às 08:00 - Atualizado um ano atrás
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Gestores de fundos de investimento que vêm de famílias ricas entregam retornos mais baixos que seus colegas que tiveram menos condições sociais em sua criação. É o que aponta estudo realizado em 2016 e atualizado em 2018 por pesquisadores da Universidade do Arizona. 

Ao contrário da crença popular de que pessoas com melhores condições financeiras durante os anos de formação teriam mais oportunidades de estudo e, por isso, se tornariam melhores profissionais, os pesquisadores apontam que justamente a facilidade de acesso levam os profissionais mais ricos a serem menos capacitados. 

É o que demonstrou o estudo “Family Descent as a Signal of Managerial Quality: Evidence from Mutual Funds” (“Ascendência Familiar como Sinal de Qualidade Gerencial: Evidências de Fundos Mútuos”, em tradução livre). 

A pesquisa

Para chegar à conclusão, os pesquisadores utilizaram dados individuais do Censo sobre a riqueza dos pais dos gestores. Os dados foram coletados manualmente sobre os domicílios onde eles cresceram, examinando registros individuais do censo compilados pelos ‘Nacional Archives’.

"Esses registros fornecem informações detalhadas sobre a renda, o valor da casa e a educação dos pais de um gerente durante sua infância, bem como outras características demográficas", de acordo com os pesquisadores.

Os autores argumentam que o fato de gestores de famílias mais ricas enfrentarem menos barreiras de entrada ao mercado de gestão de ativos permite que alguns profissionais com menos capacidade sejam bem-sucedidos na carreira. 

Além disso, os critérios de promoção aplicados a gestores de famílias mais ricas são menos objetivos do que aqueles aplicados a gestores de famílias menos ricas, constatou o estudo.

Outro ponto a ser considerado na pesquisa é que as barreiras enfrentadas por profissionais que têm menos acesso por pertencerem a famílias pobres acabam funcionando como uma espécie de filtro e selecionando os melhores profissionais. 

“Encontramos gerentes de famílias ricas que entregam retornos ajustados ao risco mais baixos do que gerentes de famílias pobres. Nossas evidências sugerem que gerentes dotados de maior riqueza ao nascer enfrentam barreiras de entrada mais baixas na gestão de ativos, e alguns dos gerentes menos habilidosos conseguem entrar na profissão”, explicam os autores do estudo. 

Barreiras multifacetadas

Para os pesquisadores, a barreira social é apenas uma das enfrentadas pelos gestores que tiveram criação com condições financeiras inferiores. Outros pontos abordados no estudo sugerem também que a falta de estrutura familiar e, até mesmo, distâncias geográficas podem impactar para que gestores menos privilegiados tenham que provar maior valor. 

“De acordo com o mecanismo de seleção, a presença de barreiras de entrada adicionais, seja transversalmente (distâncias geográficas) ou em séries temporais (alto desemprego), aumenta a relação negativa entre riqueza e desempenho. Essa explicação é ainda mais apoiada pelas evidências sobre a progressão na carreira dos gerentes, que mostram que critérios de promoção menos objetivos se aplicam a gerentes de famílias mais ricas”, diz o estudo.

Além disso, os pesquisadores também se debruçaram nas condições dos familiares, em especial os pais, de gestores apresentam. Apontando, por exemplo, o maior nível de escolaridade entre os pais. 

Os pais de gestores de melhor nível social apresentariam mais anos de estudo que a média 

Entre os pontos analisados na pesquisa, está também a maior renda dos pais do gestores. 

Os dados analisados pela pesquisa comprovam, também, a renda anual acima da média para pais de gestores

A pesquisa também desmonta alguns mitos comuns. Entre eles, que os gestores de famílias mais ricas teriam maior facilidade para conseguir maiores fluxos de investimento, por exemplo, por suas relações diretas com pessoas com maior poder aquisitivo. Os pesquisadores entendem que essa é a consequência de maior habilidade que, de acordo com o argumento, seria mais presente em gestores que se fazem por conta própria (“self made”). 

“Um gestor de fundo mútuo não tem comunicação direta com os investidores e a maioria dos investidores provavelmente não está ciente do histórico familiar do gestor. Embora um gestor de uma família rica possa, em teoria, atrair o capital da família, esse efeito é menos provável se o gestor tiver pouca habilidade”, diz o estudo. 

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Sobre o autor
Camille BocanegraRepórter da Mais Retorno