Gestores brasileiros veem Ibovespa à deriva e possibilidade de piorar ainda mais
Gestores avaliam que antes de os volumes maiores voltarem para a Bolsa brasileiro, o cenário vai piorar
O vaivém na Bolsa brasileira - como visto nos últimos dias, quando andou acima e abaixo dos 100 mil pontos - ainda vai perdurar, mas vai passar. A questão é que, até lá, as expectativas e, portanto, os preços ainda devem piorar.
“O momento na Bolsa exige paciência”, afirmou Fabiano Rios, fundador e diretor de investimentos da Absolute, gestora independente que completa dez anos em 2023 e tem mais de R$ 29 bilhões sob gestão.
“Vai chegar uma hora em que [o cenário] vai clarear. As boas empresas estarão lá e, depois de anos de pessimismo, essas ações terão potencial de upside [valorização] gigante”, disse Rios durante painel no evento anual de investimentos do Bradesco BBI em São Paulo.
Os preços relativos na Bolsa brasileira nunca estiveram tão baixos. Os chamados múltiplos, indicadores que comparam quanto custa um papel hoje com indicadores corporativos, estão menores do que a média histórica. Segundo o cálculo da gestora do grupo Daycoval, o múltiplo P/L (relação entre preço da ação e lucro projetado da empresa) está em 7x atualmente. Na média histórica recente, ficava em 12x.
O fundador da Absolute observou que o pessimismo que impede apostas direcionais construtivas não ficará para sempre. “Vão surgir oportunidades. Os juros, eventualmente, vão cair e o mercado vai se expandir. Só a produtividade brasileira que não acredito que vá crescer”, disse Rios.
Piorar antes de melhorar
Antes de os volumes maiores voltarem para a Bolsa brasileira - como os estrangeiros e os investidores profissionais, entre eles os fundos multimercados -, o cenário vai piorar, na avaliação do diretor na SPX, Leonardo Linhares.
Responsável pela gestão de ações da asset cofundada por Rogério Xavier, Linhares disse ter duas preocupações no momento. “A primeira é que eu acredito que o ciclo ainda piora um pouco”, afirmou Linhares. “Existe uma decepção ‘contratada’ no resultado das empresas de uma forma geral”, acrescentou o gestor na SPX, que tem quase R$ 58 bilhões sob gestão, segundo dados da Anbima.
A segunda preocupação é o impacto da eventual proposta do governo Lula de aumentar a arrecadação fechando os “ralos” de tributos, ou seja, fechando o cerco a organizações e aumentando a receita tributária com padrões mais rígidos. “As empresas brasileiras são muito eficientes e também são muito boas em se aproveitar de buracos, de oportunidades na lei”, disse Linhares durante painel.
Ele afirmou que, dependendo do que sair na discussão do governo federal para aumentar a receita a fim de viabilizar o novo arcabouço fiscal, é possível estimar uma deterioração de 20% a 30% nas projeções de lucro para os próximos dois anos de muitas companhias.
Nesse cenário, o gestor na SPX disse que tem apostado em empresas com alguma liderança nos negócios em que atuam e com valuations baixos, atrativos. “Procuramos empresas que não vão nos decepcionar”, afirmou.
Apesar do tom mais pessimista, o gestor da SPX disse que tem visto boas oportunidades em alguns setores. E exemplificou: “Temos investido muito menos em empresas de varejo e bens de consumo e mais em shopping centers. Os valuations [desses centros de comércio] estão atrativos”, completou./ Agência Estado