Fundos multimercado: gestores que miram ativos internacionais acumulam altas de até três dígitos; confira
Investidores migraram para a renda fixa; fundos multimercado perderam mais de R$ 20 bilhões entre outubro e novembro
O ano que chega ao fim não foi fácil para a classe dos fundos multimercado, desde a indefinição de cenários até a elevação de juros. Muita gente migrou dos segmentos de renda variável para o de renda fixa, a concorrência tem sido forte. Mesmo diante das adversidades do ano, muitos se destacam com rentabilidade exuberante.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Anbima, houve uma saída de R$ 20,6 bilhões dos fundos multimercado, entre os meses de outubro e novembro.
Cotistas dos fundos multimercado selecionados pela Mais Retorno, em levantamento exclusivo, devem estar bem satisfeitos com o retorno, no ano, em 12 meses, e alguns também em novembro. No estudo foram considerados os fundos com o mínimo de 60 cotistas, patrimônio a partir de R$ 17 milhões, em operação há pelo menos um ano e abertos ao público.
FUNDOS | REND. 2021 | REND 12 MESES | REND. NOVEMBRO |
---|---|---|---|
BLP DIGITAL 100 FIM IE | 210,90% | 284,77% | -1,47% |
HASHDEX 100 NASDAQ CRYPTO INDEX | 165,63% | 246,91% | -2,28% |
ESH THETA FIM | 117,50% | 132,99% | 5,83% |
CSHG LEXINGTON SECONDARIES FIM | 66,86% | 61,29% | 11,59% |
G5 ALLOCATION VC II FIC FIM | 49,51% | 45,40% | 15,66% |
BTGP MOBIUS EMERGING MARKETS | 39,58% | 45,71% | 1,40% |
SAFRA S&P 500 FIM | 33,89% | 33,41% | -0,20% |
ITAÚ MULTIMERCADO S&P 500 USD | 32,20% | 31,83% | -0,59% |
HASHDEX 2O NASDAQ CRYPTO INDEX | 31,32% | 39,37% | -0,02% |
BB MULTIMERCADO SCHRODER IE | 27,82% | 28,12% | -1,47% |
A temporada começou permeada por otimismo, em relação ao crescimento econômico e à retomada de atividade, diante da perspectiva de vacinação em massa contra o coronavírus. Mas a expectativa positiva ficou pelo caminho logo adiante e dificultou o trabalho de gestores. O cenário embaralhado pela queda da bolsa de valores, elevação dos juros e escalada do dólar não impediu que parte dos fundos entregasse robustos resultados a seus cotistas.
Os multimercado contam com uma flexibilidade de gestão que possibilita o acesso diversificado a várias opções de ativo do mercado em busca de melhores retornos aos cotistas. Os recursos podem ser investidos em ações, títulos de renda fixa e moedas.
Esse amplo leque de opções, que tende a facilitar a gestão, pode não ser suficiente para um fundo performar bem, explica Felipe Chamaniego, especialista sênior da Messem Investimentos. “Em geral, ele só vai performar bem quando o gestor tiver clareza de cenário”, positivo ou negativo, “para fazer a aposta na alta ou na baixa dos ativos”.
E o que faltou, principalmente no segundo semestre, foi clareza de cenário, comenta Leon Abdalla, analista de Investimentos da Rio Bravo. “De repente tudo mudou, foi uma transição muito rápida”, referindo-se à reviravolta nas taxas de juro e no mercado de ações. “Os juros saíram de mínimas históricas de 2% ao ano para o nível de 9,25% e a bolsa de valores, que passou de 130 mil pontos, voltou e encostou em 100 mil.”
O horizonte turvo fez os gestores alterarem o plano de voo otimista traçado para os fundos. As incertezas no cenário macroeconômico, com escalada da inflação, pressão sobre os juros, aumento de riscos fiscais e de furo no teto de gastos, tudo isso “tornou o mercado mais volátil”. Um cenário em que a elevação da Selic combinada com o tombo da bolsa de valores foi determinante para o aumento de resgates nos multimercado. A B3 acumulou queda de 14,37% no ano, até novembro.
A percepção de que esses fundos não entregariam o que a renda fixa passou a acenar, com a alta dos juros, intensificou o movimento em direção à renda fixa, à medida que a bolsa patinava e as ações se desvalorizavam. O investidor percebeu que “não fazia sentido correr tanto risco no multimercado que não entregaria um resultado acima de dois dígitos” com que a renda fixa acena, comenta Chamaniego.
“O investidor que foi atrás de renda variável, como bolsa e fundos multimercado, por causa do juro baixo passou a migrar de volta à renda fixa, que está atraente de novo”, avalia Abdalla. “A mudança muito rápida e abrupta dos juros favoreceu a renda fixa, menos volátil e mais rentável, e esvaziou os multimercado”, no cenário de grandes incertezas.
Estimativas sobre a Selic trazidas pelo último boletim Focus apontam que o juro básico pode chegar ao pico de 11,50% ao ano, quando o Banco Central concluir o atual ciclo de aperto monetário. O Tesouro IPCA 2026, com vencimento em 15/08/2026, oferece juro prefixado próximo de 5% ao ano (4,97%) mais correção monetária pelo IPCA.
Enquanto os juros embicam para o alto, o desempenho dos multimercados segue em queda na comparação com os anos anteriores., de acordo com dados de levantamento da Economatica. O rendimento médio acumulado de 1,98% no ano até agora é o mais baixo desde 2008 – o mais robusto nesse período foi o de 20,94%, em 2009.
Em geral, os gestores posicionam os recursos da carteira em ativos ligados a juros domésticos, a juros no exterior e em ações, tanto o País como no exterior. “Muitos gestores mais otimistas com o cenário econômico, que estavam posicionados em bolsa, não tiveram para onde correr em meio à reviravolta”, comenta o especialista da Messem Investimentos.
Fundos que se destacaram
Mesmo com o cenário adverso, nem todos os fundos multimercado fizeram feio este ano. Os produtos dessa classe de ativos que performaram bem, com entrega de rendimento de até três dígitos, são os que têm no comando gestores que miraram ativos internacionais. “Os gestores pessimistas com o cenário se saíram melhor”, diz Chamaniego.
O campeão de 2021, de acordo com o levantamento da Mais Retorno, é o BLP Digital 100 FIM IE, que acumula rendimento de 210,90%, até novembro. O fundo trabalha com uma carteira diversificada que distribui os recursos em vários ativos digitais.
O segundo da lista dos mais bem performados no ano, o Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index, que também investe os recursos dos cotistas em criptoativos, acumula uma rentabilidade de 165,63%.
Os fundos multimercado mais bem sucedidos, destacam especialistas, são os que ancoram os recursos em ativos internacionais, descolados do risco Brasil. O ESH Theta FIM, que ocupa a terceira posição no ranking, com rentabilidade de 117,50%, é o único multimercado da lista de dez não voltado totalmente para mercados descorrelacionados, embora o estatuto permita investimentos no exterior. “Os fundos que operam no macro global, sobretudo nas bolsas americanas, conseguiram uma descorrelação maior e desempenho melhor”, reforça Abdalla, da Rio Bravo.
Evitar a exposição ao risco Brasil está ao alcance de qualquer fundo multimercado, mas nem todas as equipes de gestão têm experiência para fazer a diversificação geográfica e lançar os tentáculos fora do País, afirmam especialistas. Alguns gestores, por sua vez, estão reduzindo as posições no exterior, “como antecipação ao possível cenário global de inflação e juros em alta”, acredita Chamaniego, especialista da Messem.
Os fundos multimercado mais rentáveis em novembro
Mesmo com o cenário mais complicado dos últimos meses, alguns fundos apresentaram performance superando inflação, e muitos fundos de renda fixa amparados pela alta dos juros.
Destaque para três fundos que não figuram apenas na rentabilidade mensal em novembro, mas fazer parte também dos que proporcionaram a melhor rentabilidade em 2021 e em 12 meses: o G5 Alllocation; o CSHG Lexington; e o ESH Theta.
FUNDO | RENDIMENTO NOVEMBRO |
---|---|
G5 ALLOCATION VC II FIC FIM | 15,66% |
VERSA TRACKER FIM | 13,30% |
CSHG LEXINGTON SECONDARIES | 11,59% |
GUEPARDO FIM | 10,40% |
ACCESS CHINA ADVANTAGE | 7,60% |
EXPLORITAS ALPHA AMÉRICA LATINA | 6,30% |
MANAGER EXPLORITAS ALPHA AM. LATINA | 6,22% |
ESH THETA FIM | 5,83% |
BNP PARIBAS CAPITAL PROTEGIDO | 5,44% |
ARX EXTRA | 4,91% |