Fundos de Investimentos

Fundos Multimercado: O que é Long & Short? Vale ou não a pena investir?

No mês de abril, os fundos multimercados foram os que mais captaram recursos dentre as diversas categorias de fundos com captação de R$ 40,2 bilhões no acumulado…

Data de publicação:21/05/2018 às 03:04 - Atualizado 2 anos atrás
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No mês de abril, os fundos multimercados foram os que mais captaram recursos dentre as diversas categorias de fundos com captação de R$ 40,2 bilhões no acumulado do ano, algo que representa 70% do total arrecadado na indústria.

Os fundos multimercados sempre estão entre os que mais captam recursos e dentre eles, os que mais renderam foram os fundos Long & Short.

Não é de se estranhar, afinal esses fundos acumulam 7,09% de retorno de janeiro a abril, o equivalente a quase 340% do CDI.

Ou seja, apenas nos quatro primeiros meses do ano, o rendimento desses fundos já está maior do que a Selic anual (de 6,5% nesse momento).

Percebe-se que os Long & Short podem ser ótimas alternativas. Quer entender melhor o porquê?

O que é Long & Short

O assunto fundo de investimento é recorrente aqui no Mais Retorno e já explicamos com mais detalhes que os tipos de fundos são classificados em três níveis: a própria categoria da CVM (renda fixa, ações, multimercado), o 2º nível relacionado à gestão de riscos e o 3º nível em relação ao tipo de estratégia.

Long & Short fazem parte do 3º nível dessa classificação, isto é, da estratégia.

Disse na introdução que estes estão entre os fundos multimercados que mais renderam.

Apesar de poderem investir em qualquer classe de ativos (já que são multimercados), os fundos Long & Short, em geral, investem a maior parte de seu patrimônio em ações.

As palavras Long & Short vem do inglês e traduzindo de forma literal (longo e curto) não faria muito sentido. Por outro lado, no mundo das finanças, Long quer dizer comprado e Short, vendido.

Sim, a estratégia de um fundo Long & Short é operar tanto comprado (apostando na alta dos preços das ações) como vendido (apostando na queda dos preços de outras ações). Apesar da aparente contradição, você verá que faz muito sentido, na realidade.

Para iniciar a estratégia, introduzo primeiro o mercado de BTC, necessário para se realizar tal estratégia.

O mercado de BTC é o mercado de aluguel de ações. Nele, investidores, muitas vezes de longo prazo e que não tenham interesse em se desfazer de suas ações, as oferecem para alugar (são os doadores). Do outro lado, investidores interessados na desvalorização da ação podem as tomar emprestadas por um período para devolução lá na frente (são os tomadores).

Long & Short consiste numa operação casada.

Casada no sentido de vender uma ação que não possui (Short) e comprar uma outra ação (Long). Ora, só é possível vender uma ação que você não possui, alugando-a de outra pessoa (daí a importância do mercado de BTC na estratégia Long & Short).

O racional de se vender uma ação que não possui é apostar na queda dessa ação.

Vende-se a ação alugada por um preço maior hoje e quando o preço dessa ação cair, a compra novamente para devolver ao doador (o investidor de quem você tomou emprestado).

Obviamente, na ponta oposta, compra-se uma ação que se acredita que irá se valorizar.

Além disso, a estratégia permite que o gasto financeiro da operação seja perto de zero!

Isto porque para comprar a ação que se ficará Long, usa-se o dinheiro de venda da ação que se ficou Short.

Em outras palavras, você vende uma ação que não possui e com o dinheiro dessa venda, compra uma ação que irá se valorizar.

Ao escolher o par de ações para ser feita a operação (e vender uma e comprar outra), o ganho da estratégia estará no diferença dos preços que aconteceu nas ações. Ou seja, em quanto uma se desvalorizou (Short) e quanto a outra se valorizou (Long).

Em outras palavras, ganha-se dos dois lados da operação.

A figura abaixo resume como funcionam os ganhos na estratégia Long & Short:

Após se realizar um ganho que se esperava com a estratégia, a operação é desfeita.

Vende-se a ação comprada e põe o lucro no bolso e se recompra a ação vendida, a devolve para o doador. O ganho no segundo caso será a desvalorização da ação, menos o aluguel pago por ela.

Fica claro que os fundos Long & Short têm uma exposição (ou correlação) não tão grande ao Ibovespa já que estão sempre comprados e vendidos em um par de ações.

Comparando com outros fundos multimercado com estratégias próximas, os long & short têm menor exposição ao Ibovespa do que os Long Biased, que mantém uma tendência comprada ou os long only, que são apenas comprados.

Ou seja, os fundos Long & Short não seguem tão de perto o Ibovespa quanto os outros dois.

Passemos agora às vantagens dos Long & Short.

Vantagens do long & short

A primeira vantagem da estratégia Long & Short é justamente não ter uma correlação grande com o Ibovespa. Dessa forma, mesmo em momentos de baixa do mercado é possível ganhar com essa estratégia. Não é necessário que o índice Ibovespa ou uma ação específica esteja subindo para obter lucros.

Utilizar os recursos de uma venda para financiar uma compra é algo bastante importante também. Lembre-se que o dinheiro tem um custo e não o utilizar para ter ganhos é uma tremenda vantagem.

Outro ponto interessante que os Long & Short possuem é que, como investem preferencialmente em ações, em alguns casos mesmo sendo multimercados podem ter a tributação de um Fundo de Investimentos em Ações, tendo incidência máxima de 15% de Imposto de Renda, além de serem isentos de come-cotas.

Outro benefício da estratégia Long & Short é poder ganhar com ações que se comportam de forma contrária.

Muitas ações se comportam de maneira oposta seja porque um setor seja mais beneficiado que outro pela conjuntura econômica (exemplo é a alta do dólar beneficiar empresas exportadoras e prejudicar importadoras) ou por serem concorrentes (o sucesso de uma empresa pode implicar outra não estar tão bem).

Além disso, aproveita-se duas pontas em uma única operação, tanto a alta quanto a queda de um mercado.

Como você pôde ver, as vantagens do Long & Short referem-se justamente às possibilidades que a estratégia permite. Logo, o gestor do fundo precisa atuar de maneira a maximizar essas vantagens.

Essa flexibilidade também tem seus contras. Passemos a eles:

Desvantagens do long & short

Comecei falando das vantagens pela baixa correlação ao Ibovespa.

Isso é verdade e é bom que seja assim, mas em períodos de forte alta do mercado (ano passado e um pouco menos no começo desse ano), os fundos Long & Short não captam toda a alta da bolsa. Afinal, eles operam sempre comprados e vendidos simultaneamente.

Na introdução, por exemplo, citei uma performance de 7,09% dos Long & Short até abril. Isso é ótimo! Mas inferior ao Ibovespa, que tem 11,3% no período.

Portanto, esses fundos são mais adequados em momentos nos quais a bolsa vai mal ou pelo menos não desempenha tão bem. Afinal, nos momentos em que a bolsa de valores estiver apresentando grande valorização, geralmente os fundos de ações comuns conseguirão um desempenho mais atrativo.

De qualquer forma, a performance destes fundos tende a ser muito boa a longo prazo e por isso a ideia de montar uma carteira de investimentos diversificada é sempre válida.

A seguir, separei um caso para ilustrar melhor o potencial desse tipo de estratégia.

Vale a Pena Investir?

Digo sempre que essa é uma pergunta bem subjetiva, mas vamos analisar um caso para verificar mais a fundo tudo que falamos até aqui.

Nesse começo de ano, destaca-se entre os Long & Short o fundo IBIUNA LONG SHORT STLS, que tem rentabilidade de 13,32%. Ou seja, acima até mesmo do Ibovespa.

O gráfico com a evolução do Ibiúna Long & Short STLS ilustra bem o que falamos:

Ele não foi tão volátil quanto o Ibovespa (lembre-se, correlação baixa com o índice) e surfou menos em momentos de forte valorização, em contrapartida, conseguiu bom desempenho mesmo em momentos ruins.

Colocando a minha visão, acredito que seja um tipo de fundo a ser considerado para quem deseja retornos de longo prazo acima da renda-fixa, mas não deseja todo o risco que envolve investimentos em renda variável.

Ou seja, é uma boa opção intermediária para ter uma carteira mais ampla e diversificada.

Conclusão

Estes fundos são uns dos mais conhecidos e sempre estão entre os que mais captam recursos.

A estratégia é bastante interessante e permite que o fundo não seja demasiadamente correlacionado com o Ibovespa. Isso tem lados bons e contras também.

É um tipo de fundo intermediário, consegue rendimentos consideráveis sem toda a volatilidade que o Ibovespa apresenta.

Sendo um fundo multimercado, onde as vantagens residem muito mais no que a estratégia possibilita, o gestor aqui tem papel relevante. Escolher o par de ações a realizar a operação é fundamental.

Por isso faça sempre uma avaliação criteriosa dos fundos que se interessar antes de investir e nunca deixe de diversificar sua carteira de investimentos.

Se ficou com alguma dúvida adicional ou quer contribuir mais com o assunto, comente abaixo!

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Sobre o autor
Vinicius AlvesEconomista, atuou no departamento econômico de empresas de sell side no mercado financeiro. Já foi Top-5 de projeção de inflação de curto prazo do BC.
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