Fundos de Investimentos

Fundo de crédito privado: o que é e como funciona?

A Selic passou por um ciclo de queda impressionante nos últimos dois anos. Isso é muito positivo para a economia: juros baixos significam maior demanda, e,…

Data de publicação:12/01/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A Selic passou por um ciclo de queda impressionante nos últimos dois anos. Isso é muito positivo para a economia: juros baixos significam maior demanda, e, tudo mantido constante, maior crescimento econômico (não vamos entrar aqui em detalhes do porque nosso crescimento ainda é tímido).

Esse ciclo de queda, por outro lado, mina uma das categorias mais tradicionais de investimentos que o Brasileiro procura: renda fixa. Afinal juros baixos implicam um retorno menor nessa categoria.

No entanto, mesmo nesse cenário existem opções para se conseguir um retorno maior ainda por meio de renda fixa. São os fundos de investimento em crédito privado. E hoje vamos falar sobre eles.

O QUE É CRÉDITO PRIVADO

Já falamos um pouco sobre crédito privado quando notamos a diferença entre títulos de crédito privado e de emissão bancária.

Aqui no Brasil, ligamos muito renda fixa ao tesouro direto, onde o título representa a divida do país. Será muito difícil que o país dê calote em sua dívida, por isso trata-se de um título muito seguro.

Mas não é só o país que se endivida. Empresas de todos setores também possuem dívidas para financiar seus projetos.

Os principais títulos de crédito privado são as debêntures, notas promissórias e os certificados de recebíveis como os CRI e CRA.

O crédito privado é caracterizado por empresas do setor real da economia que emitem o título. De qualquer maneira, trata-se de um título de renda fixa como qualquer outro. Isto é, pode ser pré ou pós fixado. Os prazos também são variados.

Além disso, esses títulos não são tão padronizados e podem ter algumas características específicas como as debêntures conversíveis, por exemplo. Nelas, você tem a opção de converter seu investimento em ações da empresa no final, passando a ser um sócio da empresa que financiou.

Existem também as debentures incentivadas, que como o nome diz, são títulos que o governo estimula que sejam adquiridos. Esse estímulo se dá pela isenção de IR para Pessoas Físicas.

Nesse tipo de grupo de debentures estão aquelas que são emitidas por empresas de infraestrutura. Dado que somos um país com carência de infraestrutura, essa é uma forma que o governo encontra de estimular a captação de recursos para financiar essas obras.

Falando especificamente de fundos de investimentos, os fundos em crédito privado têm de investir ao menos 50% do seu patrimônio líquido em títulos de crédito privado, tal como descrevemos, segundo as regras da CVM.

VANTAGENS

Como sugeri no início do texto, os fundos de crédito privado são opções de renda fixa em um ambiente de queda de juros. Dessa forma, a primeira vantagem é a rentabilidade que esses fundos têm em relação a fundos tradicionais de renda fixa.

Os títulos de crédito privado em geral oferecem taxas de juros mais elevadas. Isso ocorre porque empresas do setor privado têm um risco de calote muito maior do que o do país.

Assim, para compensar o investidor por esse risco maior, oferecem juros maiores. É a velha relação inversa entre risco x retorno.

Não é raro ver fundos de crédito privado que deixam perto de 120% do CDI como o Exôdus 180Valora Guardian, ou XP Crédito Estruturado, por exemplo.

Além disso, como são empresas emitindo os títulos, existem inúmeras possibilidades de setores para se investir. Assim, é possível escolher entre uma gama grande de setores e buscar o que pode ter melhor desempenho.

Aumentando o número de potenciais escolhas, é possível ter uma diversificação maior. E lembre-se a diversificação diminui o risco.

Outra vantagem desse tipo de fundo é a sua baixa exigência para se investir em uma única classe de ativos. Assim, se o ambiente não estiver positivo para a economia (as empresas são bastante sensíveis ao ciclo econômico), o fundo pode alocar uma maior parcela de seus recursos em títulos públicos ou simplesmente de emissão bancária, por exemplo.

Uma última vantagem que todo fundo possui, é que se pode procurar aqueles que têm gestão ativa.

Isto é, os gestores podem não apenas comprar o título e esperar para receber os juros, podem também comprar e vender os títulos buscando ganhar com diferenças de preços.

Lembre-se que os preços dos títulos também variam diariamente.

DESVANTAGENS

Diretamente, podemos extrair da primeira vantagem também a primeira desvantagem. Esses fundos têm um risco maior, principalmente de crédito, pois empresas privadas têm menor capacidade de pagamento do que o tesouro nacional.

Mas não é apenas o risco de crédito que é grande aqui. O risco de mercado, aquele que todos os setores da economia sofrem, mais ligado ao ambiente macroeconômico, também existe e é exacerbado aqui.

O risco de liquidez também é algo importante a se notar.

O mercado de crédito privado não é tão robusto quanto o de títulos públicos. Isso faz com que muitas vezes seja difícil obter os títulos com os parâmetros desejados (prazo, juros).

Não ter um mercado tão líquido, ou seja, com poucos compradores e vendedores, faz com que os preços não sejam formados da maneira mais perfeita.

Isso irá influenciar também o preço da cota do fundo de crédito privado.

Imagine que ocorram grandes resgates e o gestor tenha que se desfazer de ativos, muitas vezes por um preço inferior do que faria em um mercado líquido. Assim, o preço da cota do fundo também será influenciado.

VALE A PENA INVESTIR EM FUNDOS DE CRÉDITO PRIVADO?

Essa é sempre uma questão difícil e bastante subjetiva. Mas vou tentar dar argumentos para sustentar uma posição.

Um argumento positivo é justamente o que coloquei na introdução, com fundos de crédito privado, você consegue uma rentabilidade maior mesmo em um contexto de juros bastante baixos (taxa Selic se encontra no menor valor histórico).

Assim, seria possível obter um rendimento maior para seus investimentos em renda fixa.

Contra esses fundos, pode-se argumentar que é possível investir de forma direta, ou seja, sem ser através de um fundo de investimentos. Diversas corretoras oferecem uma grande gama desses títulos e você poderia adquirir diretamente, assim, não tendo que pagar as taxas de administração.

Por outro lado, esses títulos possuem alguns riscos que títulos públicos não têm. Por isso, é importante monitorar principalmente a qualidade de crédito dos emissores. Isso é algo que demanda tempo e um mínimo de conhecimento.

Então respondendo à pergunta, vai depender da sua disponibilidade e conhecimento.

Sem dúvidas, pelo retorno, títulos privados são uma ótima opção. Caso você tenha tempo e habilidade para analisar os créditos, vale a pena comprar os títulos diretamente, por você mesmo.

Caso não tenha interesse, tempo ou conhecimento para fazer as análises, utilizar a habilidade e conhecimento do gestor de um bom fundo de crédito privado para investir é uma ótima opção.

E como não poderia deixar de ser, tenha sempre em mente seus objetivos e perfil de risco em relação a investimentos.

CONCLUSÃO

Fundos de crédito privado não são uma modalidade tão conhecida, mas que deveriam ser mais olhados, especialmente com todo o ambiente macroeconômico que estamos vivenciando hoje.

Títulos de crédito privado são títulos de renda fixa como qualquer outro. Os seus riscos, por outro lado, são potencializados pelo fato dos emissores serem empresas do setor real, com sensibilidade maior às variáveis macroeconômicas.

É uma opção interessante para quem quer buscar diversificar a carteira e buscar rendimentos maiores por meio de renda fixa.

Verificar os emissores dos títulos que seu fundo está investindo é sempre recomendável. O risco de crédito é o maior potencial de perdas para esse tipo de investimento.

E agora, você investiria em fundos de crédito privado? Se ficou com alguma dúvida ou quer contribuir mais com o assunto, comente abaixo!

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Sobre o autor
Vinicius AlvesEconomista, atuou no departamento econômico de empresas de sell side no mercado financeiro. Já foi Top-5 de projeção de inflação de curto prazo do BC.
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