Fluxo de capital estrangeiro é negativo em mais de R$ 940 milhões nos primeiros dias de setembro
Cenário político conturbado pode ter afugentado o investidor internacional
Os primeiros dias do mês foram marcados por um ambiente de efervescência na esfera política: manifestações contrárias e favoráveis a Jair Bolsonaro ocorridas no feriado do Dia da Independência; ataques do presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF); discursos de personalidades políticas voltados à crise institucional; e protestos dos caminhoneiros em rodovias federais.
Embora, Bolsonaro tenha decidido baixar o tom das críticas na última quinta-feira, o cenário conturbado parece ter assustado os investidores internacionais. Até o fechamento de sexta-feira, 10, o saldo dos investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores brasileira, a B3, em setembro estava negativo em R$ 940,9 milhões. Resultados que destoam dos mais de R$ 8 bilhões positivos registrados em agosto .
Para Rodrigo Moliterno, Head de Renda Variável na Veedha Investimentos, um ambiente político mais desafiador contribuiu para essa saída do estrangeiro.
Entretanto, o especialista considera que o saldo negativo não traduz um grande impacto na saída dos estrangeiros e esteja mais ligado a um movimento de correção de mercado. Ele ainda destaca que no acumulado de 2021 até aqui, o saldo de capital internacional está em cerca de R$ 47 bilhões, sem contar o volume movimentado com IPOs (ofertas públicas iniciais, na tradução).
De acordo com os dados de mercado da B3, até o dia 10 o montante de compras do mês era de pouco mais de R$ 117 bilhões. Já o volume de vendas de ativos brasileiros pelos estrangeiros estava próximo dos R$ 118 bilhões.
Perspectivas para a entrada de capital estrangeiro
Com uma agenda de IPOs mais tranquila quando comparada aos últimos meses - a previsão é que duas empresas façam sua estreia na Bolsa em setembro, Althaia, no dia 27, e BlueFit Academias, 28 -, o fluxo de capital estrangeiro neste mês tende a continuar negativo até o fim do mês. Isso, caso persista o receio com os conflitos políticos.
"O cenário político pode afugentar o investidor, principalmente aquele que é mais sensível a risco", afirma Moliterno.
No entanto, com a postura de Bolsonaro nos últimos dias, que trouxe alívio na relação entre os Poderes, a B3 vem observando ao longo desta semana uma volta dos investidores. O Head de Renda Variável explica que o mercado, bastante atento à questão do risco fiscal, observa um clima de mais harmonia se restaurando entre o Executivo Legislativo e Judiciário, na tentativa de encontrar uma saída para a questão dos precatórios.
"Se esse ambiente mais tranquilo se confirmar, após a Declaração à Nação feita por Bolsonaro, o investidor estrangeiro tende a entrar até mais (na Bolsa de Valores), porque os preços de muitas empresas estão atrativos", diz o especialista.
Rodrigo Moliterno afirma também que, com o dólar tão valorizado frente ao real, os ativos brasileiros - que estão descontados - se mostram opções ainda mais chamativas para os investidores. "O estrangeiro vende o dólar por um preço alto e compra a ação por um valor mais baixo, ou seja, é um ganha-ganha", explica.
O Head de Renda Variável finaliza dizendo que o mercado ainda está atento às pautas externas, principalmente ao início do tapering lá nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano). "Mas, excluindo o externo, o investidor estrangeiro deve querer alocar uma parte de seu capital aqui no Brasil".