Apenas um fundo brasileiro está comprado de ações do Credit Suisse neste momento; saiba qual é se há motivo para preocupação
Mesmo com participação residual em papeis do banco suíço, fundo viu seu patrimônio cair à metade e fuga de investidores
As notícias negativas que colocaram o Credit Suisse em evidência nos últimos dias, envolvendo o banco em uma crise de hipotecas, geraram desconforto, para não dizer preocupação, no mercado financeiro. Principalmente entre os investidores em fundos de investimento. Um temor infundado, de acordo com os especialistas.
Levantamento na base de dados da Mais Retorno identificou que o único fundo brasileiro com ações de Credit Suisse na carteira é o FIA Caixa Institucional BDR Nível I. Uma participação passiva, residual, de apenas 0,05%, na composição do índice, o BDRX, que o fundo da Caixa tentar replicar. Mesmo assim, o fundo viu seu patrimônio cair pela metade.
Participação residual em Credit Suisse
A alocação no Credit Suisse é pequena, de apenas 0,05%, “e a ação desse banco está na carteira porque faz parte da composição do índice que o fundo indexado procura replicar”, explica Gabriel Cardozo, diretor-presidente da Caixa Asset. Uma fatia minúscula no portfólio que não influencia o desempenho final do FIA Caixa, com uma carteira formada preponderantemente por BDRs (Brazilian Depositary Receipts).
Não há motivo tampouco para temer uma repetição da crise americana das hipotecas de 2008 e seu impacto sobre o mercado financeiro. Para Cardoso, o episódio das hipotecas está circunscrito ao banco suíço, sem se espraiar sobre os grandes bancos globais.
A magnitude do desafio da crise do banco suíço “está na dificuldade de levantar recursos, sobretudo em dólares, que estão escassos no mundo”, avalia. Isso custa caro, para o reforço de caixa, em um momento que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) aumenta os juros, destaca.
Baixa de cotistas e patrimônio
Embora sem efeito negativo direto na rentabilidade, o diretor-presidente da Caixa afirma que a crise das hipotecas contribuiu para uma baixa de cotistas e de patrimônio.
“Os investidores com visão de curto prazo, os mais ariscos, saíram”, mas a estratégia do fundo não muda. O mandato não permite mudanças de estratégia em um fundo com esse formato, com gestão passiva, explica Cardozo.
Até porque, no longo prazo, desde o seu lançamento em julho de 2013, o fundo apresenta performance bem superior à média do mercado de ações, representada pelo Ibovespa, e também da inflação.
O patrimônio do fundo, de quase R$ 4 bilhões, no fim de 2021, despencou a quase metade, caiu para cerca de R$ 2 bilhões, atualmente. A queda coincidiu com a derrocada das ações americanas, que levou junto os BDRs, que predominam na carteira.
“A queda das bolsas americanas provocou a desvalorização das cotas, movimento que contou também com o desempenho do dólar”, que foi na direção contrária à prevista.
Em geral, costuma haver uma correlação negativa entre a queda da bolsa no exterior e o comportamento do dólar, de alta, no mercado local e em todos os emergentes. Não desta vez. “Os ativos em dólar não responderam com alta, especificamente neste ano, com a mesma magnitude da queda das ações.”
Retorno negativo em um ano
No gráfico dos últimos 12 meses, fica mais clara a trajetória de queda do FIA Caixa Institucional BDR, em desempenho bem pior (-26,63%) do que do Ibovespa (-070%).
Criado em 24 de junho de 2013, o FIA Caixa Institucional BDR Nível I tem 517 cotistas e patrimônio de R$ 1,980 bilhão. O valor inicial de aplicação é R$ 1 mil, que cai à metade, para R$ 500, para valor mínimo de permanência. Taxa de administração é de 0,70% ao ano.
Em nove meses do ano, o fundo entregou retorno positivo em dois (junho e julho) e negativo em outros sete. O rendimento é ainda mais negativo quando considerado o ano de 2022, até outubro, -32,2%.
Entenda mais sobre hipoteca e BDR
Hipoteca é uma modalidade de crédito concedido pelas instituições financeiras com garantia em imóvel. Em geral, uma casa, apartamento. O sistema de hipoteca, com lastro imobiliário, torna o financiamento mais barato, comparado com outros tipos de empréstimo.
O financiamento sob hipoteca é uma modalidade de crédito bastante popular nos Estados Unidos. A crise financeira do subprime, em 2008, é emblemática de sua prática amplamente disseminada nos EUA.
Seu uso, no entanto, é pouco difundido no Brasil. Uma das limitações à sua popularização por aqui, de acordo com os especialistas, está na dificuldade burocrática de execução da garantia.
BDR
Brazilian Depositary Receipts são recibos de ações de empresas negociadas no mercado internacional. Principalmente nos Estados Unidos. O detentor da ação, no caso o custodiante, usa a ação como garantia, para negociar, sob forma de recibos, as BDRs na bolsa brasileira, a B3.
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