Economia

Risco fiscal eleva apostas para alta da Selic entre 1,25 e 1,50 ponto porcentual nesta quarta-feira; confira os cenários

É consenso no mercado que ajuste deverá ser superior a 1 ponto porcentual já sinalizado pelo BC

Data de publicação:26/10/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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A taxa básica de juros, a Selic, deverá ter um aumento entre 1,25 ponto porcentual e 1,50 ponto porcentual esta semana. O juro primário da economia, referência para as demais taxas, deverá subir do atual nível de 6,25% ao ano para 7,50% ou 7,75%, de acordo com os prognósticos da maioria de economistas e consultores do mercado financeiro.

A decisão será tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), nesta quarta-feira, 27, no término da reunião de dois dias que começa hoje, após o fim do expediente no mercado financeiro.

Banco Central deve elevar em mais de 1 ponto porcentual a Selic

As opiniões estão divididas entre os especialistas, mas todas as estimativas apontam para uma elevação da Selic superior às previsões iniciais de um ponto porcentual, que o BC vem sinalizando de antemão e confirmando em cada um dos últimos encontros do Copom.

A recalibragem da dose de ajuste da taxa básica, acima de um ponto, é uma aposta que ganhou força depois que o governo do presidente Bolsonaro driblou as regras do teto de gastos e propôs um valor de R$ 400 pata o Auxílio Brasil, com mudança na PEC dos Precatórios.

Drible no teto de gastos deve pressionar ajuste da Selic

Uma atitude mais dura na condução da política monetária pelo BC é esperada por agentes financeiros e econômicos diante da expectativa de uma piora do quadro fiscal. Uma percepção derivada da perspectiva de gastos com benefícios sociais que não estão no Orçamento da União de 2022, um fura teto que ignora a lei de responsabilidade fiscal.

A possibilidade de agravamento da situação fiscal jogou mais incerteza em um quadro de persistente alta da inflação. Para a equipe de analistas da XP, as manobras recentes do governo indicam enfraquecimento do arcabouço fiscal e da regra do teto de gastos. Com isso, a principal referência para o controle de gastos públicos terá menor efetividade.

A percepção de risco dos agentes de mercado, continua a XP, subiu consideravelmente nos últimos dias, pressionando os ativos financeiros e deteriorando as perspectivas para a economia. A XP prevê um aumento de 1,50 ponto porcentual na Selic, para 7,75% ao ano, nesta quarta-feira.

A equipe de macro research do BTG Pactual digital aponta que há vários fatores de pressão sobre a inflação, tanto externos como domésticos, mas o que levaria o BC a ser mais duro na recalibragem do juro básico é a deterioração do quadro das contas públicas, a partir dos gastos com benefícios sociais à margem do Orçamento de 2022. O BTG aposta em uma elevação de 1,50 ponto porcentual na Selic.

O banco Itaú também fez revisão de cenário econômico de última hora à luz de eventos recentes no setor de contas públicas. Notícias sobre o anúncio de gastos fiscais extra teto aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal, de acordo com o relatório, e levaram o banco a estimar uma alta de 1,50 ponto porcentual.

Estouro da meta de inflação em 2022

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, afirma que a elevação de 0,30 ponto porcentual, para 4,4% ou 0,90 ponto porcentual acima da meta, na inflação prevista para 2022, de acordo com as novas previsões do mercado financeiro, deve levar o Copom a ser mais duro para conter essa aceleração. Os dados fazem parte do boletim Focus divulgado pelo BC nesta segunda-feira. A aposta da Ativa é alta de 1,50 ponto na Selic.

Confira os cenários

O temor com a inflação, agravado pelas estripulias fiscais do governo,  ademais, preocupa porque as fontes de pressão vêm de todos os lados. Do exterior, pela alta dos preços das commodities, como minério de ferro e petróleo, de alimentos, energia, com efeitos negativos sobre os preços desses mesmos produtos no mercado doméstico.

O ambiente interno também contribui para a aceleração da inflação, com a escalada dos preços de combustíveis, de energia elétrica acentuada pela crise hídrica, forte valorização do dólar, instabilidade política, agora piorada pelo pessimismo com o cenário fiscal.

Uma fonte adicional preocupante de pressão doméstica sobre a inflação, segundo a equipe do BTG, é o processo rápido de reabertura da economia. Puxada pelo ritmo positivo da vacinação, ela continua impulsionando a alta principalmente no segmento de serviços, o que aumenta as preocupações em relação à inércia (repasse automático de alta para os preços futuros), aponta o relatório da equipe de macro research do BTG Pactual digital.

Entenda o teto de gastos

Para entender a inquietação do mercado financeiro e da sociedade com o desmonte do teto de gastos públicos, convém conhecer como surgiu esse regime considerado âncora da política fiscal. A regra que limita o aumento das despesas do governo foi criada no fim da recessão de 2014 a 2016, para estabilizar a dívida pública, que não parava de subir, em meio à paradeira da economia e alta da inflação. A ideia foi estabelecer um teto para os gastos públicos, previsto em dispositivo constitucional, e fazer um ajuste fiscal de longo prazo que servisse de âncora confiável para os credores do governo.

A estratégia bem-sucedida, que possibilitou uma redução no prêmio de risco, permitiu também que o BC reduzisse agressivamente os juros, sem atiçar a inflação. Foi essa estratégia que abriu caminho seguro para que a Selic recuasse de 14,25% ao ano para níveis históricos de baixa, de 2% ao ano, trafegando durante certo tempo em terreno negativo. Até o BC retomar o atual ciclo de elevação em março deste ano.

É o temor de que esse arcabouço limitador de gastos públicos seja colocado a pique por uma farra fiscal embalada por gastanças populistas e eleitoreiras que coloca os investidores na defensiva. Sem âncora fiscal, a  ideia é que o Banco Central terá de recalibrar a dosagem de ajuste da Selic para conter as expectativas já agravadas de inflação.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.