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Economia

Estabilidade financeira e inflação: objetivos conflitantes para os bancos centrais?

Os bancos centrais têm dado prioridade ao controle da inflação, e a reação do Fed foi mais para conter risco sistêmico do que para salvar a pele dos banqueiros

Data de publicação:29/03/2023 às 08:00 -
Atualizado um ano atrás
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Ao longo da semana passada, vários bancos centrais aumentaram as suas taxas de juros, ainda que o Copom, por decisão unânime, tenha deixado a taxa estacionada em 13,75%. 

Mesmo com tantas notícias sobre o setor bancário dominando as atenções, a verdade é que a missão de se combater a inflação prevaleceu. Como já detalhado em vários artigos da Mais Retorno, alguns fatores preocupam as autoridades monetárias. 

crédito
Problemas isolados no setor bancário se não resolvidos minam a credibilidade nos demais, diz Powell - Foto: Reprodução

O primeiro deles diz respeito à propensão dos governos em gastar mais.

Com o que especificamente? A lista é extensa e vai desde uma quantidade maior de aposentadorias, inclui a infraestrutura necessária para a transição energética e vai até assuntos como política industrial, conforme os países buscam a autossuficiência e a regionalização.

Outro ponto de destaque é a própria dinâmica inflacionária. Levando-se em conta outros choques do petróleo de origem geopolítica, semelhantes ao resultante da invasão da Ucrânia, percebe-se que os preços demoram para ceder, sendo os repiques bastante comuns.

O processo de aumento dos juros 

Quando um banco central decide por aumentar os juros, ele então inicia um processo que afeta toda a economia, desacelerando-a.   

Da mesma forma que as pessoas possuem contas junto aos bancos, os bancos possuem suas contas junto ao banco central, onde depositam os seus recursos. Eles podem tanto ser emprestados para terceiros como permanecerem ali, recebendo juros. 

O encanamento bancário

Trata-se de um sistema que, tal como ocorre em uma construção, poucos prestam a atenção. Diariamente, dinheiro e papéis (que servem como garantia) trocam de mãos sem muitas dificuldades.

O problema surge quando a percepção de risco entre os agentes muda.  Enquanto os ativos continuam sendo seguros, o mesmo não pode ser dito sobre as operações de empréstimo. Muitas vezes, não é nem preciso que um calote se confirme. Basta que a sua probabilidade aumente. 

Pode-se dizer que mudanças muito grandes nas taxas básicas de juros alteram a ordem natural das coisas. No caso do Silicon Valley Bank, os títulos detidos em carteira serviam perfeitamente como garantias para que o banco pudesse honrar saques corriqueiros.

O custo do dinheiro

A grosso modo, a taxa definida por um banco central determina todas as demais, o que quer dizer que os bancos refazem as contas para calibrar as suas linhas de crédito. O aumento se reflete no valor das parcelas dos empréstimos, deixando menos disponível para o consumo. 

Os efeitos se tornam mais evidentes. Com as pessoas gastando menos, as empresas também investem menos, o que reduz a atividade econômica.

A pressão política vem pelo simples fato de que não há como se controlar inflação alta sem que se imponha algum tipo de sacrifício, o que depende essencialmente da credibilidade da autoridade monetária (se o banco central cede às pressões, maior o sacrifício).

Levando-se em conta o tempo necessário entre a ação (aumento de juros) e a resposta (redução consistente da inflação), tenta-se “enxergar” as condições econômicas à frente e, quanto menos “ruído” nesse período, menores os impactos negativos no consumo, no emprego e no valor dos ativos. 

Corrigindo a rota   

Certa vez, perguntou-se a Ben Bernanke se aumentos de juros eram adequados para desinflar bolhas especulativas antes que elas causassem maiores prejuízos à economia. 

Ele respondeu que o Federal Reserve (Fed) contava com uma “caixa de ferramentas”: enquanto a regulamentação macro prudencial orientava os participantes do mercado, as taxas de juros faziam o controle da inflação. 

O curioso é que, pouco antes da última rodada de juros, era bastante comum que se ouvisse a pergunta contrária: não deveria o Fed reduzir a taxa de juros para “aliviar” a desvalorização nos portfolios dos bancos? 

Jerome Powell, tal como Bernanke, preferiu dar a resposta politicamente correta: “problemas isolados dentro do sistema bancário, se não resolvidos, minam a confiança nos demais”. Depois, complementou: “Sem a estabilidade de preços, a economia não funciona para todo mundo”. 

Ferramentas melhores

Nos EUA, os dados de fevereiro tinham apresentado uma inflação de 6%, ou seja, o triplo da meta para aquele país. Além disso, com mais uma linha emergencial, o Fed demostrava que a sua “caixa de ferramentas” tinha passado por um upgrade.

Diferentemente da crise de 2008 e do início da pandemia, o Fed parece mais contido na sua resposta talvez com o intuito de evitar novos transtornos.

Confusão monetária 

No Início do ano passado, ele implementou o quantitative tightening (processo inverso ao afrouxamento quantitativo ou “QE”, em inglês), mecanismo pelo qual “criava” dinheiro para comprar títulos públicos de vários vencimentos. 

Mês a mês, uma determinada quantidade de títulos vencia, o que fazia com que saíssem do balanço do Fed, reduzindo a liquidez dentro do sistema.  Entre 2022 e início de 2023, US$ 600 bilhões foram eliminados dessa forma.

O valor hoje voltou a US$ 300 bilhões, conforme linhas emergenciais foram oferecidas para conter o pânico em torno do Silicon Valley Bank.

Apesar dos objetivos diferentes (quantitative tightening como uma alteração no balanço do Fed e linhas emergências como algo mais pontual), podem haver dúvidas sobre as reais intenções do Fed em crises futuras.

Uma das grandes vantagens do QE residia no fato de que era muito mais barato para o governo se financiar pagando juros sobre as reservas do que via leilões de títulos públicos, onde as transações são feitas a taxas (maiores e mais voláteis) de mercado. 

Conclusão

Em tese, condições financeiras mais restritivas, causadas por problemas dentro do sistema bancário já seriam suficientes para brecar o Fed. Trata-se de uma reação ao aumento do risco e não de uma reação para “salvar a pele dos banqueiros”. 

Isso talvez seja ainda mais verdade na Europa, onde o setor bancário possui um peso maior. 

Olhando para trás, percebe-se que o Fed aprendeu bastante sobre como estimular a economia quando os juros já estão muito baixos, o que não é mais a realidade atual. 

Dados os desafios colocados (choque de oferta, mudança nas cadeias globais de valor e mudanças climáticas), as autoridades monetárias ainda apostam na sua credibilidade. Sem ela, não há ferramenta que sirva.

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Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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