Em meio à crise, gestoras de private equity buscam consolidação nos EUA
Essas transações também estabelecem novas linhas de negócios e permitem a expansão para novos mercados, disse a Bain&Co
As empresas de private equity cada vez mais enxergam, umas às outras, como possíveis alvos de aquisição na corrida para expandir ativos administrados e as taxas por eles geradas, segundo avaliação da consultoria Bain & Co.
Essas transações também estabelecem novas linhas de negócios e permitem a expansão para novos mercados, disse a Bain, com sede em Boston, em um relatório.
Na segunda-feira, a empresa de aquisições TPG anunciou a compra da também gestora de ativos Angelo Gordon. A transação deve representar uma expansão significativa para o mercado de private equity apenas três anos depois que a TPG se separou da Sixth Street Partners, braço de investimento em crédito. O negócio também deve aumentar os ativos da TPG em 54%, para cerca de US$ 208 bilhões.
O número de aquisições estratégicas anunciadas ou realizadas pelas 50 maiores gestoras alternativas de ativos do mundo mais que dobrou de 2020 para 25 em 2021, o maior em dez anos, segundo a Bain. No ano passado, foram realizadas 18 transações desse tipo, o segundo maior total da última década.
Hugh MacArthur, presidente de private equity da Bain, disse que a tendência deve se acelerar nos próximos dois a três anos, especialmente entre as empresas de capital aberto.
Por exemplo, a empresa europeia de aquisição e infraestrutura EQT não havia feito nenhuma compra estratégica até abrir o capital, em 2019. Desde então, fez cinco negócios desse tipo, incluindo uma aquisição de US$ 7,5 bilhões da empresa de investimentos Baring Private Equity Asia, no ano passado, e a compra da Exeter Property Group, com foco no mercado imobiliário, em 2021, segundo a Bain.
Os dois negócios colocaram a EQT em posição relevante como operadora na Ásia e como investidora imobiliária nos Estados Unidos, principalmente nos mercados de logística e industrial.
Normalmente, as empresas de private equity preferem montar negócios e equipes internamente, mas, segundo Gustav Segerberg, chefe de desenvolvimento de negócios da EQT, o setor está amadurecendo, o que significa que, cada vez mais será "mais difícil fazer as coisas de maneira orgânica".
"Foi o que aconteceu na Ásia, onde já tínhamos um negócio, mas não sentimos que tínhamos os recursos para ganhar escala", disse Segerberg.
MacArthur, da Bain, disse esperar que condições mais favoráveis no mercado desencadeiem uma onda de aquisições à medida que mais gestoras alternativas abram o capital. Essa virada pode acontecer já no início do próximo ano, segundo ele.
Choque de culturas
Apesar da experiência em comprar outras empresas, as firmas de private equity costumavam evitar adquirir no próprio setor. Muitas vezes, segundo a Bain, o choque entre culturas, as divergências sobre remuneração e divisão de lucros de investimentos se mostram insuperáveis, ou pessoas talentosas nas empresas-alvo acabam saindo.
Encontrar um bom ajuste cultural é essencial, disse MacArthur, "porque a história das fusões e aquisições na classe de private equity não é feita só de glória".
Executivos da TPG e da Angelo Gordon enfatizaram a compatibilidade, ao discutir o acordo proposto, durante teleconferência com analistas na segunda-feira. Jon Winkelried, CEO da TPG, disse que a empresa se concentrou em encontrar um alvo com abordagem e cultura semelhantes. Adam Schwartz, um dos principais executivos da Angelo Gordon, disse que a transação "representa um forte ajuste estratégico e cultural".
A aquisição da GSO Capital Partners pela Blackstone em 2008 se destaca como uma história de sucesso na história de fusões e aquisições do setor. A Blackstone comprou a GSO, hoje o núcleo da operação de crédito da empresa com sede em Nova York, em um momento em que a atividade de compra alavancada estava praticamente paralisada, durante a crise financeira. Hoje, segundo os executivos da Blackstone, as condições do mercado apresentam um "momento de ouro" para o setor de private equity.
A aquisição da Angelo Gordon representa para a TPG uma forma de se beneficiar das tendências positivas no momento em que os credores tradicionais estão retraídos e outros entram em cena, disse Winkelried. O ex-executivo do Goldman Sachs Group observou, na segunda-feira, que a crise dos bancos regionais, marcada pela quebra do Silicon Valley Bank e do First Republic Bank dificulta o acesso a financiamento, principalmente para as empresas de médio e pequeno porte.
Rápido crescimento da Franklin Templeton
Outros negócios se concentraram na expansão para novas linhas de negócios. No ano passado, por exemplo, a Franklin Resources, que opera como Franklin Templeton, adquiriu empresas de private equity e a especialista em investimento conjunto Lexington Partners para entrar no mercado de participações secundárias, em rápido crescimento.
Outros negócios visam explorar novos territórios, disse MacArthur, citando a região Ásia-Pacífico como um local natural para empresas norte-americanas e europeias como a EQT se expandirem. Para empresas fora dos Estados Unidos, segundo ele, os negócios voltados para a expansão geográfica costumam ter como alvo justamente os EUA, maior mercado de ativos alternativos do mundo.
Apesar da maior fiscalização dos órgãos reguladores em torno de investimentos e empresas de private equity, MacArthur disse não esperar que os negócios enfrentem oposição das autoridades antitruste porque as transações não costumam ser planejadas para expandir a participação de um comprador em mercados já existentes. "Muitos dos negócios que estamos vendo não são de escala, mas sim de escopo", em que um adquirente pretende entrar em uma região geográfica ou classe de ativos diferentes, disse ele.