Transição: quais setores podem ser beneficiados pelo próximo governo Lula
Petrobras e Banco do Brasil são as estatais que mais tendem a sofrer se houver intervenção do governo
A vitória de um candidato da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 30 de outubro, trouxe de volta ao mercado o fantasma de intervencionismo estatal na economia. Mais propriamente nas gigantes empresas estatais, líderes de mercado e da bolsa de valores, como a Petrobras (PETR4) e o Banco do Brasil(BBAS3). Não à toa, os papeis da petroleira despencaram nesta segunda-feira e fecharam com queda de 8,5% no pregão da B3, e os do banco, com queda de 4,51%.
Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, diz que não há como ter uma expectativa positiva nesse tema olhando para experiências passadas. “Empresas estatais foram usadas para execução de políticas públicas de governo de esquerda, como a concessão de crédito com juro subsidiado, como ocorreu com o Banco do Brasil”, comenta.
E esse fantasma continua pairando sobre o mercado, quando “em discurso de campanha Lula voltou a falar de crédito subsidiado e a criticar a política de preços da Petrobras em relação aos combustíveis”, reforça. “Nesse cenário, o mercado vê quatro anos de risco à frente.”
Riscos à parte, que se potencializam com a volta do governo do PT, “os preços da Petrobras estão bastante descontados, comparados com os resultados e os lucros da companhia”, destaca o especialista. “E já tem muito desse risco precificado, embutido no preço das ações.”
Setores beneficiados com as eleições
Mas o efeito Lula sobre a bolsa de valores não carrega tom apenas negativo. Se existem setores que podem ser afetados negativamente pela vitória do petista, há outros que podem ganhar alento, beneficiados pela política econômica do novo governo.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, acredita que os setores mais beneficiados com o presidente petista seriam os relacionados à provável ampliação de canais de crédito, como o de construção civil, educação, varejo e bancos.
“São setores que tendem a ser beneficiados com mais crédito, já que o governo Lula, em gestões passadas, promoveu e desenvolveu uma ampla política de concessão de crédito à população”, lembra Cohen.
Varejão, especialista da Valor Investimentos, vê esses mesmos setores no grupo dos que tendem a ser beneficiados. “O setor educacional foi historicamente beneficiado pelo Fies, que ajudou muito as empresas, aumentou a demanda pelos cursos superiores e o governo petista deve ampliar a oferta de crédito nessa área.”
O aumento de concessão de crédito habitacional, como política de governo, principalmente para a população de baixa renda, deve favorecer também as construtoras que atuam nesse segmento mais popular, como MRV (MRVE3), Cury (CURY3) e Tenda (TEND3), aponta Varejão.
Outro setor de economia que pode ganhar fôlego, impulsionado pelo aumento de crédito, seria o de consumo de varejo, beneficiando empresas como Lojas Renner (LREN3), Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3).
“A expectativa de maior transferência de renda e valorização do salário mínimo tende a beneficiar o setor de consumo discricionário de baixo valor agregado, como o de vestuário”, avalia Carlos Macedo, economista e especialista em alocação de recursos da Warren.
Outros dois setores que devem ser favorecidos, de acordo com Macedo, são “o de construção civil e o educacional, em função de programas sociais de MCMV (Minha Casa, Minha Vida) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil)”.