Copom define hoje nova Selic e mercado espera por 6,25% ao ano; renda fixa seguirá negativa
Mesmo com ajuste, juro básico da economia deve seguir rodando abaixo da inflação
Os prognósticos dos analistas do mercado financeiro em relação ao ajuste na taxa básica de juros (Selic) estão mais uma vez divididos. Desta vez, entre uma alta de 1 ponto porcentual (maioria) e 1,25 ponto (minoria). A decisão será anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), no início da noite desta quarta-feira, 22, após o fechamento de negócios nos mercados.
Um aumento de 1 ponto porcentual elevaria a Selic do nível atual de 5,25% ao ano para 6,25% e um de 1,25 ponto, para 6,50%. A corrente majoritária, que prevê uma taxa básica de 6,25%, teve a aposta reforçada pelas declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que refirmou na semana passada a indicação dada na última reunião do Copom, no início de agosto, de ajuste de 1 ponto.
“Vamos levar a Selic para onde for necessário, mas não significa que vamos alterar o plano de voo, a cada número de alta frequência”, disse Campos Neto em evento. A fala desencorajou os mais apressadinhos que, de carona no avanço de inflação apontados pelos dados mais recentes, passaram a projetar uma alta superior a 1 ponto.
A inflação projetada para 2021 por economistas e analistas do mercado financeiro no último boletim Focus subiu para 8,35%, pouco mais de dois pontos à frente dos 6,25% projetados para a Selic pela maioria do mercado. A taxa básica estimada no relatório Focus para o fim de 2021 está em 8,25%, ainda ligeiramente abaixo da inflação projetada para o ano.
Confira o rendimento com Selic de 6,25%
A tabela contém resultados de simulação de desempenho de uma aplicação de R$ 1.000 pelo período de um ano em algumas opções mais comuns de renda fixa, com rendimento atrelado à taxa básica, tendo como referência os cenários com a duas possíveis decisões de hoje: um com uma Selic de 6,25% ao ano, alta de 1 ponto porcentual, e outro com uma Selic de 6,50%, elevação de 1,25 ponto.
Os resultados obtidos por qualquer uma das duas taxas apontam para uma rentabilidade líquida negativa, após o desconto de imposto de renda e da inflação projetada para o período. Os recursos que o investidor resgatará, depois de um ano, terão perdido o poder real de compra, já que a taxa terá sido insuficiente para proteger contra a inflação.
Uma aplicação de R$ 1.000 em CDB por 12 meses com taxa integral de 6,25% ao ano (100% da possível nova Selic de 6,25% ao ano ou CDI, versão privada da taxa básica) renderia 6,25% ou R$ 62,50 após um ano.
Essa remuneração somada ao capital aplicado levaria o total a R$ 1.062,50, mas, descontado o imposto de renda de 20% (alíquota para até um ano de aplicação), de R$ 14,06, o rendimento líquido cairia para R$ 1.048,44 – o que corresponde a uma taxa de juros líquida de 4,84%, inferior à inflação estimada no boletim Focus. Mais, o resultado líquido final, descontada a inflação projetada, recuaria para R$ 960,89, valor inferior ao da aplicação inicial, indicando que a taxa de remuneração foi insuficiente em relação à inflação e o investidor perdeu dinheiro.
Quem aplica no Tesouro Selic, título da dívida pública ofertado na plataforma do Tesouro Direto, remunerado pela Selic de 6,25% ao ano terá um rendimento bruto de R$ 62,50 depois de 12 meses. Descontada a taxa de custódia de 0,25% e o imposto de renda de R$ 11,97 (alíquota de 20%), o saldo total (valor de aplicação mais rendimento) encolherá para R$ 1,047,88. Descontada ainda a inflação prevista no período, o valor líquido cai para R$ 960,38, abaixo até do valor inicial de aplicação.
Um investimento em um fundo DI atrelado à Selic que renda uma taxa de 6,13% ao ano levaria a um rendimento de R$ 55,94, descontada a taxa de administração de 0,50% ao ano. A rentabilidade líquida cai para R$ 44,76, deduzido o imposto de renda de R$ 11,19 (alíquota de 20%). O valor total para resgate fica em R$1.044,76, mas feita a dedução da inflação projetada o valor líquido total recua para R$ 957,52.
Quebra de remuneração pelo IR
O imposto de renda achata o rendimento de CDB, Tesouro Selic, fundo DI, mas mesmo sem a tributação a renda fixa que roda com a Selic ainda abaixo da inflação continua na toada de juro negativo.
Aplicações isentas de imposto de renda, como Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e caderneta de poupança, também estão amargando perdas para a inflação. A isenção de imposto em LCI e LCA é interessante apenas quando a taxa de remuneração fica acima da Selic ou CDI.
Uma aplicação de R$ 1.000 por uma taxa equivalente a 97% do CDI (ou Selic de 6,25%) durante um ano em LCA renderia R$ 60,63 ou uma taxa líquida de remuneração de 6,31%. O valor bruto no fim de 12 meses chegaria a R$ 1.060,63, mas descontada a inflação o rendimento nominal cairia para R$ 972,06, inferior ao valor de aplicação inicial.
Quem aplica R$ 1.000 em uma LCI por uma taxa equivalente a 80% do CDI de 6,25% ao ano, o que corresponde a 5,00% ao ano, teria um rendimento de R$ 50,00 após 12 meses. Somado ao valor aplicado, resultaria em R$ 1.050,00, que encolhe para R$ 962,33, descontada a inflação projetada no período, total que fica abaixo do valor inicial de aplicação.
A caderneta rende para quem aplica R$ 1.000 com remuneração de 4,38% (70% da Selic ou CDI de 6,25%) R$ 43,75. A soma com o valor inicial dá R$ 1.043,75, que cai para R$ 956,60, após o desconto da inflação prevista para o período, valor inferior ao da aplicação.
Um cenário de Selic ligeiramente mais elevada, de 6,50% ao ano, como aposta uma ala minoritária de analistas do mercado para a decisão do Copom, não é suficiente para trazer alívio ao investidor da renda fixa.
O retorno projetado para uma Selic de 6,50%
Uma aplicação de R$ 1.000 em CDB por um ano pela taxa de 6,50% (100% da Selic ou CDI) estará rendendo R$ 65,00, depois de 12 meses, ou líquido de R$ 50,38, após o desconto de imposto de renda de 20% (alíquota para prazo de aplicação de até um ano). O valor total líquido, no entanto, recua para R$ 962,67, após o desconto da inflação estimada para o período.
Quem aplica R$ 1.000 em Tesouro Selic remunerado pela taxa básica de 6,50% ao ano obterá, após um ano, um rendimento de R$ 65,00. Descontada a taxa de custódia de 0,25% e o imposto de renda de R$ 12,47, o rendimento líquido cai para R$ 49,87, que somado ao valor da aplicação resultará em R$ 1.049,87. Descontada a inflação prevista para o período, o saldo total da aplicação recuará para R$ 962,21.
Uma aplicação de R$ 1.000 em fundo DI que remunere com 6,37% estará rendendo R$ 58,38, após o desconto da taxa de administração de 0,50%. O rendimento líquido encolhe para R$ 46,71 após o abatimento de 20% do imposto de renda. O valor da aplicação mais rendimento fica em R$ 1.046,71, mas o valor nominal total descontada a inflação no período cai para R$ 959,31, abaixo do valor inicial de aplicação.
Quem aplica R$ 1.000 na caderneta de poupança pela taxa de 4,55% (70% da Selic de 6,50%) obterá, depois de 12 meses, rendimento de R$ 45,50. Isento de imposto, essa remuneração somada com o valor aplicado dará R$ 1.045,50. O valor nominal total, contudo, recuará para R$ 958,20, após o desconto da inflação prevista para o período.
As aplicações isentas de imposto de renda também não terão o rendimento suficientemente turbinado pela Selic pouco mais alta para fazer frente à escalada da inflação, corrente e projetada.
Quem aplica R$ 1.000 por um ano em uma LCA que rende 97% do CDI, o equivalente a 6,31%, obteria um rendimento de R$ 63,05, o que, somado ao capital, daria R$ 1.063,05. Descontada a inflação projetada no período, o total recua para R$ 974,29, valor menor que o investido.
Uma aplicação de R$ 1.000 por um ano em LCI que com taxa de 80% do CDI (ou Selic de 6,50%), o equivalente a 5,20%, renderia R$ 52,00 no fim de 12 meses. Somado com o valor inicial de aplicação, daria um total de R$ 1.052,00, mas que, na prática, terá caído para R$ 964,16, valor menor que o investido, após o desconto da inflação estimada para o período.
Fundos de renda fixa que batem inflação
Embora a taxa Selic esteja rodando em descompasso com o ritmo mais acelerado da inflação, vários fundos de renda fixa abertos ao investidor têm proporcionado rentabilidade superior ao IPCA.
Pesquisa do portal Mais Retorno apontou que no mês passado o rendimento de 21 fundos de renda ficou acima da inflação de 0,87%. Fundos que têm a carteira formada por títulos de crédito privado, principalmente debêntures, que, embora com risco maior, oferecem taxa de juros superior à de títulos públicos ou bancários.