Hashdex 20 X BTG Pactual Bitcoin: quem vence o combate entre os fundos de criptomoedas
Fundos de investimento em criptomoedas oferecem ativos similares, mas apresentaram rendimentos bem distantes nos últimos meses
Ainda que a empolgação com os criptoativos tenha esfriado um pouco em 2022, com moedas digitais como Bitcoin e Ethereum apresentando resultados ruins nos últimos meses, os fundos de investimentos focados em criptomoedas continuam disputando a atenção de investidores. Afinal, servem como alternativa simplificada para quem quer aportar dinheiro em criptomoedas, mas sem fazer um mergulho solitário e profundo no mundo digital.
Dois fundos disponíveis no mercado, hoje, cumprem exatamente essa função: o Hashdex 20 NCI e o BTG Pactual Bitcoin 20 FIM. Ambos possuem uma composição similar, com ativos investidos em criptomoedas. Então qual a diferença entre eles? O que muda entre um e outro? Vale a pena investir mais em um fundo do que em outro?
Diferenças entre os fundos
Primeiramente, vamos à composição dos fundos.
Iniciado em julho de 2019, o Hashdex 20 NASDAQ Crypto Index FIC FIM investe 20% do patrimônio em criptomoedas e 80% em Renda Fixa. "Ele segue essa divisão para se adequar às regras da Comissão De Valores Mobiliários, que permite que 20% da carteira deste tipo de fundo estejam em ativos no exterior", diz Rob Correa, analista de Investimentos e fundador da Hedgepoint, escola de educação financeira.
As criptomoedas que compõem o fundo, em respectivo grau de importância, são Bitcoin (12,78% do patrimônio total do fundo); Ethereum (6,38%); Litecoin (0,16%); ChainLink (0,15%); Uniswap (0,08%) e Bitcoin Cash (0,08%).
Hoje, ele conta com 77 mil cotistas e o patrimônio do fundo alcançou R$ 440 milhões, cobrando uma taxa total de administração de 1,5% ao ano e sem cobrar taxa de performance. Ele é aberto ao público em geral, podendo ser encontrado em plataforma como XP, BTG Pactual, Rico, Nu Invest, Órama, Warren, Vitreo, C6, Banco Inter e Modalmais.
Já o BTG Pactual Bitcoin 20 FIM, que começou a operar em abril de 2021, investe 55% do patrimônio do fundo em LFTs (as antigas Letras Financeiras do Tesouro Nacional, conhecida atualmente como Tesouro Selic), 20% em Bitcoin, 20% em CDBs do BTG Pactual e 5% em Operações Compromissadas.
Seu universo é menor, com 22 mil cotistas, e conta com um patrimônio atualizado de R$ 13 milhões. Também não cobra taxa de performance e cobra uma taxa de administração menor, de 0,5% ao ano. Por fim, ele também é aberto ao público e encontrado na plataforma do BTG.
Perfil de investidor
Para especialistas, ambos os fundos são voltados para o mesmo tipo de investidor: quem deseja iniciar os investimentos em criptomoedas, se expondo gradativamente a essa tecnologia, mas sem investir diretamente.
Afinal, o investimento através de ambos os fundos conta com as proteções regulatórias da CVM e da Anbima, proteções inexistentes caso o investidor faça as operações por conta própria através de uma corretora de criptoativos.
Além da simplicidade, o investidor de ambos os fundos também conta com facilidade para questões tributárias (em caso de venda de ganho de capital) e também sucessórias (em caso de herança por falecimento, por exemplo).
"Em relação ao risco, a limitação de 20% da carteira em criptoativos possibilita uma menor volatilidade, ou seja, um sobe e desce menos intenso comparado a uma carteira eventualmente 100% em criptomoedas", afirma Rob.
Rentabilidade
Ao olhar friamente o desempenho dos dois fundos, percebe-se uma discrepância considerável de resultados. Enquanto o Hashdex 20 NCI acumula rentabilidade de 63,96% desde seu início em 2019, o BTG Pactual Bitcoin 20 FIM acumula rentabilidade negativa de – 3,41%.
Para especialistas, alguns motivos explicam e contribuíram para isso. Primeiramente, a data de início de operação de cada um dos fundos. São quase dois anos separando o pontapé inicial de cada um dos fundos.
"O Hashdex acabou surfando toda a onda de valorização observada nas criptos durante o período de sua abertura até a data de início do fundo do BTG".
Rob Correa - analista de Investimentos/Hedgepoint
Além disso, a diferença fundamental entre os dois fundos: enquanto o Hashdex 20 NCI faz investimentos diversificados, em várias criptomoedas, o BTG Pactual Bitcoin 20 FIM faz apenas investimentos direcionados no Bitcoin. Com a volatilidade da moeda, o fundo acabou sendo mais afetado.
"O Bitcoin liderou as perdas das criptomoedas. [Isso aconteceu] pois o Bitcoin tem um volume bem maior de negociação e, também, pelo fluxo recente pra outras criptomoedas na esteira da tendência da web3, [termo usado para falar de uma internet baseada na tecnologia blockchain], e que não tem participação direta do Bitcoin, mas sim na Ethereum e outras criptomoedas", explica João Beck, economista e sócio da BRA, em entrevista ao Portal Mais Retorno.
No entanto, vale dizer que, pelos detalhes, é visível que os dois fundos estão sofrendo com perdas nos últimos meses -- afinal, ainda que o Bitcoin tenha perdido mais valor, o abalo no mercado de criptomoedas afeta vários ativos.
Fundo | Rendimento nos últimos 6 meses | Rendimento nos últimos 3 meses | 2022 |
Hashdex 20 NCI | 2,91% | -6,82% | -2,29% |
BTG Pactual Bitcoin 20 FIM | 1,62% | -5,93% | -1,32% |
Mas a expectativa é de que o mercado de criptomoedas tenha uma recuperação nos próximos meses, revertendo o cenário de queda. Isso deve impactar em fundos de criptomoedas, que tiveram bons resultados em 2021.
"Assim como investimento em ações e fundos imobiliários, o sucesso do investimento em criptomoedas é derivado de um foco de longo prazo. Com o mercado de criptomoedas ainda é muito novo quando comparado a outros mercados, é norma e até esperado grandes movimentações, seja para cima quanto para baixo", diz Rob.
"O mercado de criptomoedas é um dos mais voláteis entre todos. Portanto, o investidor deve estar ciente, de antemão, que é comum grandes oscilações na cotações durante intervalos curtos de tempo. Recomendo que ele mantenha sempre o horizonte adequado, com perspectiva de longo prazo, aproveitando as quedas para realizar novos aportes a preços reduzidos", afirma o analista.
Fundos de cripto em 2021
Vale lembrar que os fundos de investimentos em criptomoedas apresentaram bons resultados em 2021, com destaques para opções de gestoras como QR Capital, Vitreo e Hashdex. Nelson Muscari, coordenador de fundos e previdência da Guide Investimentos, explica que esses fundos, no geral, tiveram uma performance boa, mas os que mais se destacaram foram aqueles com uma alocação mais acentuada em criptoativos.
De acordo com Aline Costa, analista da SVN, a volatilidade das criptomoedas ainda é muito "descorrelacionada do cenário macroeconômico", o que torna a análise para o entendimento do movimento de alta mais difícil. No entanto, ela destaca que o mercado de criptos cresceu muito em 2021, com novos veículos e novas formas de acesso ao investimento, o que impactou os ativos positivamente.
Rentabilidade dos fundos de criptomoedas em 2021
Fundo | Rentabilidade nos últimos 12 meses |
QR BLOCKCHAIN ASSETS FIM IE | 130,56% |
VITREO CRIPTOMOEDAS FIC FIM INVESTIMENTIMENTO EXTERIOR | 116,93% |
HASHDEX 100 NASDAQ CRYPTO INDEX FIM IE | 107,97% |
HASHDEX BITCOIN FULL 100 FIC FIM IE | 73,41% |
HASHDEX 40 NASDAQ CRYPTO INDEX FIC FIM | 48,68% |
BLP CRIPTOATIVOS FIM | 28,36% |
HASHDEX 20 NASDAQ CRYPTO INDEX FIC FIM | 26,06% |
VITREO CRIPTO METALS BLEND | 21,34% |
FORPUS MULTIESTRATÉGIA FIM LP | 13,35% |
BTG PACTUAL BITCOIN 20 FIM | -1,97% |
Desempenho de algumas das principais criptomoedas em 2021
Criptomoeda | Variação em 2021 | Cotação em 01/01/2021 | Cotação em 23/12/2021 |
Bitcoin (BTC) | 91,15% | R$ 150.730,83 | R$ 288.127,62 |
Ethereum (ETH) | 505,85% | R$ 3.836,08 | R$ 23.240,99 |
Litecoin (LTC) | 43,52% | R$ 648,15 | R$ 930,21 |
The Sandbox (SAND) | 1.595% | R$ 0,19 | R$ 35,52 |
Perspectivas para 2022
Para os próximos meses, o mercado continua incerto, com Bitcoin e outras moedas digitais ainda digerindo as quedas acentuadas nos últimos meses. Muito disso foi fruto da venda acentuada de ativos de tecnologia nos Estados Unidos, além das crescentes ameaças regulatórias em diversos países.
Reguladores do Reino Unido, Espanha e Cingapura sugeriram, no início do ano, o endurecimento das regras de promoção de criptoativos para investidores inexperientes, enquanto o banco central russo propôs uma proibição total das criptomoedas.
"Rumores de proibições de mineração russas, os efeitos dos programas de redução gradual e as preocupações regulatórias em andamento em certas jurisdições estão atualmente tendo mais peso nas decisões de negociação e investimento do que os fundamentos subjacentes de longo prazo".
Jason Deane, analista da empresa de pesquisa de ativos digitais Quantum, em entrevista à Bloomberg
De acordo com Deane, além dos problemas de regulação dos ativos digitais, "o aumento do uso e adoção do bitcoin em outras economias de alta inflação cria uma imagem de mercado confusa, levando à falta de direção e impulso decisivos de qualquer maneira". Para alguns especialistas, no entanto, esse momento pode trazer uma boa oportunidade de compra por preços mais atrativos de produtos que investem neste mercado, como os próprios fundos de criptomoedas.
"Mais importante do que pensar numa perspectiva de curto prazo é pensar na perspectiva de longo prazo e no tamanho da alocação. Tem sim momentos de baixa como todo tipo de ativo financeiro, onde se há uma oportunidade, um melhor momento de alocar mais capital. Porém sempre com a cabeça de comprar e manter aquele ativo na carteira".
Nelson Muscari, coordenador de fundos e previdência da Guide Investimentos