Com Selic em 12,75%, renda fixa volta a pagar mais que 1% ao mês; mas cuidado para não perder dinheiro
Sinalização do Copom sobre o que vai acontecer com os juros nos próximos meses é determinante para a escolha certa do investimento
Há consenso no mercado de que o juro básico da economia, a Selic, sobe de 11,75% para 12,75% ao ano, ao término da reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, nesta quarta-feira, dia 4.
Uma taxa mais alta vai engrossar o rendimento da renda fixa, que ficará mais atrativa e passará a pagar mais que 1% ao mês.
Mas essa é apenas uma parte da história da Super Quarta-Feira, em que juros devem subir aqui e também nos Estados Unidos. Há outras duas questões, mais importantes, para a tomada de uma decisão mais segura nos investimentos e não perder dinheiro na renda fixa.
Uma é saber o que o Copom fará com a Selic em suas próximas reuniões, sinalização que deverá vir em comunicado a ser expedido ao término do encontro. A grande questão é: o ciclo de alta da Selic se encerra com a alta de hoje, ou a porta ficará aberta para novos ajustes na próxima reunião em junho?
A outra é que, por enquanto, não dá para comemorar juros mensais acima de 1%, sem saber qual será o comportamento da inflação no mesmo período.
Basta tomar como exemplo o IPCA-15 de abril que ficou em 1,73%. Se continuar rodando nesses níveis elevados, a inflação terá engolido o rendimento, e os juros continuarão sendo negativos. Também não teria sido suficiente para ganhar do último IPCA, o de março, que cravou 1,62%.
A inflação oficial prevista para abril pelos economistas do mercado financeiro, consultados pelo Banco Central (BC), para o último boletim Focus está em 0,94%. A de maio está estimada em 0,28%.
As projeções mais recentes do IPCA apontam que o juro real está de volta à renda fixa indexada à Selic. Com tendência a ser mantida e até ser ampliada ao longo dos próximos meses. Por dupla combinação: elevação da Selic e esperada trajetória de queda da inflação.
Dois cenários
A maior parte dos analistas aposta que, após elevar a Selic em 1 ponto porcentual hoje, o comunicado do Copom deixará em aberto a possibilidade de novo aumento dos juros em junho.
Isso porque as pressões inflacionárias persistem e o Banco Central precisa concentrar seus esforços para segurar a inflação este ano o máximo possível para trazê-la para a meta em 2023.
Mas há quem entenda que a inflação já atingiu seu pico, seu pior momento, e passe a refluir a partir deste mês. Para essa ala do mercado, o Copom dirá em comunicado que o movimento de alta da Selic se encerra nesta reunião de maio.
Dependendo da sinalização, o comportamento dos juros futuros, que influenciam o rendimento da renda fixa, pode ser bem distinto em cada cenário.
Camila Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos, explica que se o Copom indicar novas altas dos juros nos próximos meses, as taxas curtas deverão subir 0,2 ponto porcentual.
Se é assim, os títulos com juros prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos se desvalorizam, criando oportunidades para investidores que estão em busca desses indexadores e prazos para a composição de carteira.
“No caso de valorização dos títulos de vencimentos longos, principalmente prefixados e IPCA+, haveria a possibilidade de ganhos de capital para aqueles investidores que já detivessem os ativos”.
Camila Dolle, da XP
No entanto, se houver indicação de que a alta da Selic para por aqui, em um segundo cenário, “haveria potencial de inclinação na curva de juros, com as taxas de curto prazo reduzindo em cerca de 0,4 p.p., para se adequarem à indicação de manutenção de juros para a próxima reunião, afirma ela.
Mas seja qual for o cenário, esclarece a head, os ativos pós-fixados se mantêm como os mais conservadores do mercado e se beneficiam da alta na Selic, uma vez que sua remuneração acompanha a taxa básica de juros.
A XP trabalha com a perspectiva de um reajuste adicional da Selic em junho, de 1 p.p, o que levaria a taxa para 13,75% ao ano.
Os pré e pós-fixados
Entre os prefixados (Pré e IPCA+) e de curto prazo, a especialista inclui as LTNs e NTN-Fs com vencimento até 2024 e NTN-Bs com vencimentos até 2026. Estes títulos são prefixados e indexados à inflação, respectivamente. Nem todos estão disponíveis no Tesouro Direto, podendo ser acessados via mercado secundário.
Entre os prefixados (Pré e IPCA+) de prazo mais longo, Camila cita os títulos com vencimento acima de 5 anos, como por exemplo, NTN-Bs que vencem a partir de 2028.”No entanto, é preciso ter cautela ao buscar ativos com prazos muito longos”, orienta ela.
Já entre os pós-fixados estão o Tesouro Selic, além de LFTs negociadas no mercado secundário e títulos bancários e de crédito privado com a mesma característica de acompanhar a taxa Selic.
Ela alerta que estes títulos podem sofrer oscilações, embora menores do que os prefixados e indexados à inflação. Para reduzir o risco de variações antes do vencimento, procure títulos de prazos mais curtos.
Prefixados com prazo mais longo
O analista de soluções financeira da Ativa Investimentos, Rodrigo Beresca, acredita que o ciclo de alta da Selic “está próximo do fim”. O que não quer dizer, segundo ele, que seja encerrado na reunião deste dia 4, mas na próxima ou ainda na seguinte.
Mas diante dessa perspectiva, ele já trabalha com a possibilidade de investimentos em papeis com taxas prefixadas com prazo um pouco mais longos, acima de 2 anos. Sem deixar de lado as posições também em pós-fixados que vão acompanhar o aumento nominal da Selic.
“Quando eu falo em pós, eu quero dizer todos os investimentos de renda fixa privado, como CDBs, LCIs, LCAs, CRAs, debêntures incentivadas e também os títulos do governo, tanto os títulos Selic, que são os pós-fixados, como os atrelados à inflação, que o mercado chama de NTN-B ou Tesouro IPCA, e também os títulos de Tesouro Prefixado, que o mercado chama de LTN”.
Rodrigo Beresca, da Ativa Investimentos
Para quem se posicionou recentemente em títulos com taxas prefixadas, há algumas semanas, Beresca recomenda procurar manter até o vencimento do título, se os juros futuros subirem, ou então fazer a venda somente quando a taxa de juros voltar a cair, evitando perdas com a marcação a mercado.
Diversificação é receita de sucesso
Como não se sabe até onde chega a Selic e até onde sobe a inflação, Letícia Conseza, especialista de renda fixa da Blue3, afirma que uma receita de sucesso nesse momento é a diversificação da carteira.
Ela recomenda títulos de juros prefixados, mas vinculados ao IPCA, (Tesouro IPCA) para a proteção contra a inflação e também títulos com os juros pós-fixados (Tesouro Selic) que vão incorporando as altas nominais das taxas.
Os papeis do crédito privado como debêntures, especialmente as incentivadas com isenção de Imposto de Renda para a pessoa física, e os certificados do crédito imobiliário e agrícola, CRIs e CRAs, estão em sua lista de recomendação. “A rentabilidade desses papeis reflete a curva de juros”.
Embora sempre apontados com um grau de risco maior por não ter o guarda-chuva do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e por uma possível inadimplência do emissor, Letícia pondera que esses papeis passam por filtros rígidos do mercado. E somente os que contam com boa avaliação das casas de research são oferecidos ao investidor final.
Pós-fixados mais atrativos
Para Arley Júnior, estrategista de investimentos do Santander, a nova Selic tende a beneficiar ativos com rentabilidade pós-fixada indexada à taxa básica. Aplicações que ganham com a alta de juros, como CDB, títulos atrelados aos CDI, fundos DI e Tesouro Selic.
Também na renda fixa, ele destaca ainda, dentre os beneficiados pelo aumento do juro básico, os títulos de crédito privado. São ativos que têm o rendimento indexado a juros pós-fixados, prefixados ou à inflação.
Títulos como debêntures incentivadas, LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário). São papeis que oferecem também taxas mais atraentes, como prêmio ou ganho adicional pelo risco de crédito mais alto, e rendimento isento de imposto de renda. / com Tom Morooka
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