Renda Fixa

Com inflação e juros em alta, o que é mais indicado na renda fixa, pré ou pós-fixado? Confira

Especialistas indicam os pós-fixados e também atrelados a índice de inflação

Data de publicação:27/09/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Inflação e juros permanecem em marcha batida de alta. A renda fixa volta a brilhar e a questão está em saber qual o tipo mais indicado no cenário atual, pré ou pós-fixado, público ou privado?

A taxa básica de juros, a Selic, subiu para 6,25% ao ano, semana passada, e novas altas já foram adiantadas, pelo Banco Central (BC), para as próximas reuniões do Copom. O IPCA-15, uma prévia de inflação divulgada pelo IBGE na sexta-feira, seguiu a mesma toada dos juros, ao avançar 1,14% em setembro, acima do esperado pelo mercado.

O BC vem subindo a Selic para tentar conter a alta de preços desde março, mas a inflação não dá sinais de trégua. Nesse cenário de corrida entre inflação e juros o investidor, desapontado com a renda variável, passou a procurar proteção e rentabilidade para o dinheiro na renda fixa.

O mercado de renda fixa oferece vários tipos de investimento, de fundos a títulos, e de indexadores. Os títulos podem ser públicos ou privados. Todos têm como base de remuneração os juros, referenciados na taxa Selic, mas com características específicas, como pré e pós-fixados.

Em uma aplicação como um título com taxa prefixada a remuneração é definida previamente e o investidor sabe antecipadamente qual será seu rendimento no resgate, no término do prazo do papel. Em um título com juro pós-fixado o investidor toma conhecimento da remuneração apenas no vencimento ou término do período de aplicação.

Pré ou pós-fixado?

A dúvida está em saber que tipo de taxa, pré ou pós-fixada, é mais interessante para em um momento que inflação e juros estão em trajetória de alta.  Se errar a mão na escolha, o investidor poderá obter um rendimento abaixo da inflação ou menor do que poderia.

Especialistas avaliam que, com a Selic em alta e podendo chegar a 8,25% ao ano, como estima o mercado, um título com juro pós-fixado é mais interessante por acompanhar a variação da Selic, que está subindo. Ocorre que, mesmo em elevação, a taxa básica, como fator de remuneração mensal, está andando abaixo da inflação corrente.

Um título com juro prefixado é visto com reservas em cenário de trajetória de alta de inflação porque a taxa, que o investidor contrata no momento da aplicação, pode ficar atrasada e insuficiente em relação ao ritmo acelerado de alta de preços. Essa taxa vem subindo, no momento, porque está atrelada ao CDI, versão privada da Selic, mas, uma vez contratada, permanece travada até o vencimento.

Um CDB com prazo de vencimento em dois anos está rendendo em torno de 125% ao ano, o que daria uma taxa prefixada de cerca de 11% ao ano, calcula Victor Zucchi Meneghel, especialista da Valor Investimentos. “É uma taxa que vem seguindo a elevação da Selic, mas se a inflação persistir em alta essa taxa, contratada no nível atual, poderá ficar atrasada.”

Uma taxa de 11% ao ano pode até ser atraente em um CDB prefixado de um ano, no máximo, avalia o especialista. Ele entende que a estratégia pelo prefixado seria mais indicada quando o Banco Central estiver concluindo o ciclo de ajuste dos juros, com a Selic no topo de alta e a inflação em queda.  A ideia é que, nesse caso, o investidor terá contratado um CDB com a taxa no pico e rodará com ele quando os juros estariam em queda. “A mesma estratégia cabe em relação à LTN (Letra do Tesouro Nacional)”, título público também com taxa de juro prefixada.

Os atrativos do Tesouro IPCA

Meneghel afirma que os papeis mais interessantes para quem quer proteção contra a inflação são os títulos públicos atrelados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial. O papel é a NTN-B (Nota do Tesouro Nacional da série B), negociada no mercado secundário, ou Tesouro IPCA, sua versão na plataforma do Tesouro Direto.

São títulos que protegem contra a inflação, porque remuneram com juro prefixado e correção monetária pelo IPCA. “O investidor tem garantia de juro real, uma proteção ao poder de compra, em qualquer cenário de inflação”, reforça Felipe Venturini Guerra, sócio da Messem Investimentos. “O investidor conservador que quer rentabilidade com segurança deve ter maior parcela dos recursos ancorados em ativos atrelados ao IPCA”, recomenda.

“O indicado para o investidor conservador é a NTN-B com vencimento em dois anos, no máximo dois anos e meio”, orienta Meneghel, sugerindo os de prazos longos para os que suportam mais a volatilidade que ocorrem pelo caminho, até o vencimento. Os títulos públicos oferecem a possibilidade de venda antes do vencimento, mas “o investidor fica à mercê do mercado, da curva de juros”, explica.

A curva de juros é a projeção dos analistas para os juros futuros. Caso venda o título em um momento de abertura da curva, de alta dos juros futuros, por qualquer estresse no mercado, o investidor estará repassando o papel com deságio e recebendo valor menor que o de face. Mas poderá obter remuneração adicional com ágio, se a curva de juros se achatar, o que valoriza os títulos já emitidos com taxas de juro mais altas.

Debêntures, CRIs e CRAs

São condições que se estendem também aos títulos privados. “A diferença está no risco, que é pouco maior”, o que exige um olhar mais atento do investidor às empresas. Debêntures, CRIs (Certificados de Recibo Imobiliário) e CRAs (Certificados de Recibo do Agronegócio) fazem parte dessa classe de ativos, aponta Meneghel.

“São títulos que também protegem contra a inflação, porque a remuneração segue a indexação dos títulos do Tesouro, IPCA mais juros”, explica. “Mas o juro é mais alto, como prêmio, por causa do risco maior.”

As debêntures são produtos de crédito emitidas por empresas privadas, que precisam ser muito bem avaliadas, comenta Thiago Godoy, head de educação financeira da Xpeed School. Pontos como garantias, rating ou classificação de risco são importantes “porque o investimento em debêntures não tem a proteção do FGC” (Fundo Garantidor de Crédito) que assegura ressarcimento de até R$ 250 mil, por CPF, se a empresa emissora tiver dificuldade de pagar o resgate do papel.

O CRI e o CRA são isentos de imposto de renda, uma isenção que beneficia também as debêntures incentivadas, que financiam projetos de infraestrutura. O interesse por essas debêntures tem crescido, segundo o especialista da Valor, principalmente por papeis da J BS, por causa do benefício fiscal, e também pelo da Movida, embora a debênture da empresa de locação de carros não tenha isenção de imposto.

A debênture não incentivada da Movida, para vencimento em 2028, esteve rendendo 6,60% ao ano mais IPCA na sexta-feira. Uma rentabilidade assegurada para o resgate no vencimento. Um CRA da Minerva, isento de imposto de renda, também com vencimento para 2028, pagou pouco menos, juro de 4,90% mais IPCA do período. Meneghel explica que são todos títulos já emitidos e podem ser encontrados no mercado secundário, onde os papeis trocam de mão entre investidores.

O analista de Investimentos da Rio Bravo, Leon Abdalla, também considera as debêntures boa opção de investimento e acredita em um mercado em crescimento. Principalmente das incentivadas de infraestrutura, com as iniciativas do governo de promover leilões no setor de saneamento e aeroportos. “São títulos de prazo mais longo, como são os projetos de infraestrutura, que protegem contra a inflação, pela combinação de IPCA mais juros”, com rendimento que na média fica acima da rentabilidade dos títulos públicos.

Risco maior nos prefixados

Felipe Guerra, sócio da Messem Investimentos, vê com restrições os títulos prefixados e os atrelados à Selic, “porque não garantem ganho real em momento de escalada de preços. “A inflação em 12 meses atingiu mais de 10%”, comenta, alertando que o investidor precisa ver o ganho real, acima da inflação, além do nominal. “Ativos atrelados aos juros estão causando perdas, no momento, apesar da Selic em alta.” A inflação acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses, até setembro, chegou a 10,05%.

O analista de Investimentos da Rio Bravo, Leon Abdalla, diz que o ambiente bastante estressado de juros no segundo semestre atinge mais os títulos com juros prefixados, “porque estão muito ligados à curva de juros, principal precificador de crises”.  De acordo com ele, “a curva de juros de dois dígitos (de 10% ou mais) voltou ao normal do mercado”.

Esse movimento de abertura da curva, embora proporcione bons retornos, oferece muita volatilidade aos prefixados, o que tem empurrados os investidores para os pós-fixados, atraídos também pela Selic em alta.

“O Tesouro Selic mais longo, com vencimento em 2027, que está pagando 107% do CDI, é o título mais negociado do mercado.” Esse porcentual em relação ao CDI (que anda pouco abaixo da Selic) equivale a uma taxa na casa de 6,58% ao ano no Tesouro Selic com vencimento em 2027. Uma taxa que vai aumentando à medida que a Selic vai ficando mais alta – a expectativa de analistas é que a taxa básica chegue ao fim do ciclo de elevação dos juros ao redor de 8,25%/8,50% ao ano.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.