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Bolsa fecha estável, com queda residual de 0,04%, e dólar sobe a R$ 5,54

Cenários político e fiscal pesaram no radar dos investidores neste pregão

Data de publicação:08/11/2021 às 18:38 -
Atualizado 2 anos atrás
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A Bolsa de Valores brasileira, a B3, viveu uma segunda-feira de bastante volatilidade, e fechou praticamente estável com queda de 0,04%, aos 104.781,13 pontos. O mercado encontrou sustentação pelo comportamento de Vale, siderúrgicas e Petrobras. As empresas ligadas às commodities, um dos setores com mais peso na composição do Ibovespa, tiveram um dia de forte alta, acompanhando o exterior.

No entanto, incertezas políticas quanto ao rumo da PEC dos Precatórios seguem pesando no radar dos investidores e acabaram derrubando o principal índice da Bolsa. Na última sexta-feira, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, cobrou explicações do presidente da Câmara, Arthur Lira, e da Mesa Diretora sobre a autorização dada à deputados no 1° turno de votação para que participassem de forma online da sessão do Congresso.

Foto: Envato bolsa
Foto: Envato

Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, explica que, de qualquer forma, Lira manteve a votação em 2° turno para esta terça-feira, 09, e "reforçou que a margem de apoio à proposta deve aumentar". Na primeira votação, a PEC, que visa abrir espeço no Orçamento da União, teve seu texto-base aprovado com 312 votos entre 456 presentes. São necessários, pelo menos, 308 votos favoráveis para a aprovação.

"Sem a aprovação da PEC, o pagamento de precatórios deve subir de R$ 54,7 bilhões, neste ano, para R$ 89,1 bilhões, no ano que vem. Se a emenda for aprovada, haverá um limite de R$ 44,5 bilhões para precatórios no ano que vem. A PEC também muda o cálculo do teto de gastos, abrindo um espaço de R$ 47 bilhões para despesas do governo", lembra o analista.

Em sua decisão, a ministra do STF também suspendeu o pagamento das Emendas de Relator (RP9), um instrumento que ficou conhecido como "orçamento secreto", o que também pode atrasar o 2° turno da votação da PEC. Este instrumento utiliza os recursos das emendas do relator-geral dos projetos de leis orçamentárias, que poderiam ser destinadas para programas sociais, para a compra de apoio parlamentar.

A decisão de Rosa será julgada nesta terça-feira pela Corte.

Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico, comenta que "em caso de atraso na votação, os riscos ficam na direção do fortalecimento de um “plano B”, alternativo à PEC, que abra espaço no orçamento do ano que vem para garantir o pagamento do Auxílio Brasil em dezembro".

O especialista explica que esse processo poderia envolver outras modalidades de pagamento fora do teto de gastos, "colocando ainda mais em xeque a austeridade fiscal do país", o que aumenta o grau de tensão nos mercados.

O dólar acompanhou o movimento de volatilidade observado na Bolsa nesta segunda, com os investidores atentos aos próximos capítulos da novela fiscal. A moeda americana fechou com leve alta de 0,02%, cotada a R$ 5,544.

Commodities e cenário externo

Depois de alguns pregões de forte queda em seus papéis, a Vale, que corresponde a cerca de 14% da carteira teórica da B3, registrou a maior alta do dia na Bolsa, com variação positiva de 5,79%, acompanhando a alta no preço do minério de ferro nos mercados internacionais. Na mesma esteira, as siderúrgicas CSN, Usiminas e Gerdau também fecharam no azul, com altas de 2,35%, 4,73% e 3,93%, respectivamente.

A valorização da commodity reflete a aprovação de um pacote de infraestrutura de US$ 1 trilhão na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o que impulsiona o setor de mineração e siderurgia pelas expectativas de que a demanda pelos produtos feitos por minério de ferro cresça - beneficiando empresas exportadoras, como as brasileiras.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou em comunicado que o pacote de investimentos de cerca de US$ 1 trilhão vai assegurar que a economia americana seguirá forte daqui a décadas. "A força da economia de um país depende da força de sua infraestrutura e, com a votação, garantimos que a economia americana permanecerá forte nas próximas décadas", disse ela.

Com o resultado, o mercado financeiro americano viveu um dia de otimismo, majoritariamente. Os índices S&P 500 e Dow Jones subiram 0,10% e 0,29%, na sequência, enquanto o Nasdaq 100 teve leve baixa de 0,14%.

Petrobras

O preço do barril de petróleo também avançou neste pregão, empurrando para cima as ações da Petrobras, que subiram 1,76% (PETR3) e 1,16% (PETR4). As altas nos papéis da estatal chegaram a ser mais expressivas durante o dia, ultrapassando os 2%. No entanto, novas críticas do presidente Jair Bolsonaro em relação à petroleira fizeram com que as ações devolvessem parte dos ganhos.

"Nós somos autossuficientes em petróleo, não justifica isso aí. Não podemos ficar escravizados ao preço lá de fora", afirmou, sobre o alinhamento dos reajustes de preços no Brasil com base na variação do petróleo no mercado internacional. O presidente disse, ainda, que os dividendos da companhia são "absurdos".

Em entrevista à rádio Jovem Pan Curitiba, Bolsonaro considerou que está crescendo o movimento dos caminhoneiros para uma paralisação por conta da alta nos preços dos combustíveis.

O presidente voltou a pedir que a população responsabilize a petroleira pela escalada dos combustíveis, e não o governo. "Vamos reclamar com quem é realmente responsável por isso, a Petrobras", comentou Bolsonaro, que finalizou dizendo que "a melhor coisa que pode fazer para o social é baratear os combustíveis".

Cenário macroeconômico e o dia na Bolsa

Na manhã desta segunda-feira, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou o Índice Geral de Preços – Demanda Interna (IGP-DI) de outubro, um dos indicadores da inflação no País. O índice avançou 1,60% em outubro, superando as expectativas dos analistas, que apostavam em uma mediana de 1,56%.

Simultaneamente, o Banco Central divulgou mais uma edição do Boletim Focus. Os economistas entrevistados pela instituição seguem com uma visão altista para a inflação e a taxa de juros.

Para o fim deste ano, as expectativas para a inflação subiram de 9,17% para 9,33%, enquanto em 2022, foram de 4,55% para 4,63%. Já as projeções para a Selic, taxa básica de juros, avançaram de 10,25% para 11,00% no próximo ano, mas se mantiveram estáveis, em 9,52%, até o fim de 2021.

Neste contexto, os contratos de juros futuros fecharam majoritariamente em alta, principalmente os com vencimentos mais próximos. Dessa forma, as ações de empresas que se prejudicam com o avanço dos juros reportaram baixa neste pregão da Bolsa.

As varejistas e construtoras têm boa parte de sua receita atrelada ao consumo. Com a inflação em alta e os juros subindo, a tendência é que diminua o ritmo de compras. Assim, Magazine Luiza, Via e Lojas Americanas caíram 3,78%, 2,61% e 4,77%, nesta ordem. Já a Cyrela e a MRV recuaram 4,23% e 1,14%, na sequência.

Outro setor que fechou no vermelho foi o financeiro. Os bancões respondem por cerca de 17% da composição do Ibovespa e são a principal porta de entrada (e saída) dos investidores estrangeiros da Bolsa pela alta liquidez de seus papéis. Bradesco, Itaú e Santander registraram baixa de 2,00%, 0,61% e 0,41%, respectivamente.

Sobre o autor
Bruna Miato
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