Ações de bancos caem um dia após BB e Caixa anunciarem saída da Febraban; entenda os bastidores
Receio é o de represálias, desagregação do setor e ingerência política no Banco do Brasil
Os papéis do setor bancário vivem um pregão de baixas nesta segunda-feira, 30, um dia após o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal terem comunicado sua saída da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). As ações dos bancos Bradesco, Itaú e Banco do Brasil registravam queda de 0,99%, 0,62% e 0,92%, às 15h45.
Desagregação do setor, receio de retaliação com mais impostos e ingerência política estão entre as principais preocupações do mercado com a saída dos bancos públicos da Febraban.
A Febraban, que é a mais importante entidade do País na representação do setor bancário nas esferas governamentais, é signatária de um manifesto encabeçado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com um pedido de harmonia entre os três Poderes.
A divulgação do documento, que seria nesse dia 31, deverá ficar para depois de Sete de Setembro. Segundo o jornal "O Globo", o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), teria conversado com Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e um dos principais idealizadores do documento, e combinado a ação para só depois do feriado.
O entendimento dos bancos públicos, de acordo com fontes, é que a instituição, que representa o setor no País, é privada e está se posicionando de forma política, o que ambos controlados pelo governo discordam.
Para Flávio de Oliveira, Head de Renda Variável da Zahl Investimento, essa tensão entre as instituições traz duas principais preocupações ao mercado, o que pode estar influenciando na desvalorização dos papéis do setor no pregão. Um dos pontos levantados pelo especialista é a ingerência política, que pode estar acontecendo no setor, uma vez que Banco do Brasil e Caixa são bancos públicos.
Além disso, Oliveira também destaca que esse tipo de atrito poderia quebrar a sinergia entre os grandes bancos atuantes no Brasil em relação às pautas que são "importantes e comuns a todos", como a Reforma Tributária.
O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, considera que a queda vem mais pela própria tensão e "o medo de que alguma represália aconteça". O que poderia se traduzir em maior tributação ou medidas que venham a afetar o setor. "Não há nada de errado com os bancos", afirma ele.
Já Braulio Langer, analista de investimento da Toro, ressalta que, embora haja queda no setor nesta segunda-feira, os números não são tão expressivos, o que pode estar sinalizando que a saída de Banco do Brasil e da Caixa não impactou tanto esses papéis.
Leo Monteiro, analista de research da Ativa Investimentos, compartilha da mesma opinião. De acordo com o especialista, as baixas no pregão podem estar mais relacionadas a um movimento de correção, depois de altas registradas na última sexta-feira, do que à tensão envolvendo os bancos públicos e a Febraban.
Prefeitos se antecipam
Antes mesmo do manifesto dos bancos e dos empresários solicitando harmonia entre os poderes vir a público, em uma crítica indireta ao presidente Jair Bolsonaro, os prefeitos se adiantaram e divulgaram nesta segunda-feira uma carta nessa mesma linha e em defesa do estado de direito.
O documento, “Carta Aberta ao Brasil”, destaca que “com tamanha gama de desafios a serem enfrentados pelo nosso País, não há tempo e nem espaço para desvios e desagregações.
A frente de prefeitos defende também um plano de retomada econômica que traga de volta a capacidade produtiva da economia e contenha a inflação. "Um cenário preocupante, que exige medidas emergenciais e a responsabilidade dos governantes, em todas as esferas", avalia a entidade. "Defendemos, portanto, a construção de pontes para o efetivo diálogo federativo para a pactuação e coordenação das políticas públicas".
Guedes diz que manifesto era contra o governo
Em entrevista coletiva e ao lado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o ministro Paulo Guedes falou sobre o episódio Febraban: "Vamos seguir com o curso normal (das propostas do governo). A democracia no Brasil é forte e vigorosa. "(Sobre a Febraban,) todas as opiniões são respeitadas. Eles disseram que eram contra o governo, e não contra a democracia."
Em tom irônico, o ministro afirmou que "acho que a Febraban está bastante ativa e defendendo bancos na reforma tributária". Ele também diz acreditar que o texto do manifesto teria sido alterado na Febraban para ser um "ataque ao governo" e não uma defesa à harmonia entre os Poderes e à democracia./Com Agência Estado