Economia

Alta do PIB surpreende: commodities, serviços e consumo sustentaram o resultado, mas o que vem por aí?

Juros altos devem contrair a atividade nesses próximos meses

Data de publicação:02/06/2022 às 09:20 - Atualizado 2 anos atrás
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O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre teve elevação de 1,00%, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira, 2.

O desempenho da atividade nesta virada de ano surpreendeu até as previsões mais otimistas, que vinham passando por revisões para cima pelas casas de análise, a partir de dados mais positivos em março.

Exportações de commodities reforçaram o bom desempenho da economia - Foto: Agência Brasil

A aceleração do PIB foi comandada por dois setores, o de commodities, pelo lado da oferta, as exportações foram o grande destaque com avanço de 5%. O consumo das famílias, também foi positivo, pelo lado da demanda.

A alta dos preços de commodities e de energia, como efeito da guerra na Ucrânia, aumentou a receita de empresas exportadoras desses produtos (minério de ferro e petróleo, além de produtos agrícolas), explica Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.

Outro fator que ajudou a impulsionar o crescimento do PIB trimestral foi a expansão do setor de serviços, aponta Varejão. “O consumo das famílias veio mais forte, com o afrouxamento de medidas adotadas contra a mobilidade, durante a pandemia da covid.”

Ainda pelo lado da demanda, além do consumo das famílias mais forte, a recuperação dos serviços (incluído o comércio) e dos transportes, com o arrefecimento da covid, também contribuiu positivamente para o PIB.

“Os resultados vieram bons, mas refletem um cenário conjuntural (efeitos da guerra e da abertura da economia) e podem esbarrar em travas estruturais, como a falta de reformas econômicas, mais adiante”, avalia.

O otimismo com o PIB do primeiro trimestre não abriria caminho para uma visão positiva mais duradoura, segundo analistas e economistas.

Para alguns, um sentimento que não chegaria ao segundo semestre. Para outros, uma virada de expectativas, com a desaceleração da economia, poderia ocorrer já a partir do segundo trimestre.

“É possível que dados dos próximos trimestres (o do segundo e o do terceiro) já venham com sinais de alguma recessão”, avalia Varejão.

A expectativa de boa parte dos economistas é de contração no terceiro e quarto trimestre do ano, atribuída aos efeitos defasados da política monetária mais dura adotada pelo Banco Central (BC). “O bom momento econômico cristalizado nos dados do primeiro trimestre refletiu ainda uma Selic mais baixa, em torno de 7%”, comenta o especialista da Valor.

A Selic está rodando em 12,75% ao ano e a expectativa é que chegue a 13,25%, com o aumento de 0,50 ponto porcentual que o BC já adiantou para a taxa básica. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorre em meados deste mês.

É a Selic mais alta, com seu efeito contracionista sobre a atividade (crédito mais caro e demanda reprimida), que leva analistas e economistas a apostar em um desaquecimento da economia no segundo semestre.

Outro fator são as incertezas políticas, geradas pelas eleições em que o País escolherá seu governante por quatro anos a partir de 2023.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.